Caso 1.
Em 2014, um garoto de 10 anos teve o braço dilacerado por um
tigre num zoológico no Paraná. O garoto ultrapassou a linha de segurança
estabelecida pelo local e brincava com o tigre, como se fosse um animal doméstico,
apesar de outros visitantes terem alertado o garoto de que isto pudesse ser
perigoso. A notícia teve grande repercussão, devido ao fato de as imagens do
garoto brincando com o animal terem sido registrada por outros visitantes do
lugar. O pai que estava junto com o garoto não viu perigo nas atitudes do filho
e entendemos que foi permissivo em relação a isto. O garoto não estava sozinho.
Muitos debates surgiram no universo materno depois deste acontecimento.
A polícia responsabilizou o pai pelo ocorrido e o pai defende-se dizendo que
faltou segurança do lugar, no caso o zoológico. O fato é que quando a criança
está acompanhada de um adulto, supõe –se que este seja responsável pelo menor de
idade. E que no caso deste menino, os visitantes tirarem o menino do local
inapropriado não faria qualquer diferença, uma vez que o pai estava junto e a
criança respeita e obedece a ele.
Caso 2:
No nosso prédio tem um parquinho. No parquinho tem um aviso:
“É proibido o uso dos brinquedos por crianças a partir dos 10 anos de idade”. Segundo os moradores mais antigos, o condomínio
construído em 1977 nunca teve seus brinquedos trocados, eles são reformados,
soldados (sim, são antigos e são de ferro) e pintados a cada ano, mas não são substituídos.
É possível ver a quantidade de tinta que já foi passada, é visível o desgaste,
a ferrugem e é prudente obedecer a norma. Isto já deveria ser motivo suficiente
para que as crianças maiores não usem, e outro fato é que o balanço, o
gira-gira, trepa-trepa e a casinha não possuem tamanhos compatíveis para as
crianças maiores.
Dois meses atrás meu marido desceu com as crianças para o
parquinho e um garoto que, visivelmente, possui 10 anos ou mais brincava no
balanço, como costuma ser nosso habito, lembramos as crianças mais velhas o
limite de idade e de que os brinquedos podem quebrar. O garoto fingiu que não
ouviu e meu marido insistiu na orientação. Duas semanas depois do ocorrido a
mãe do garoto me aborda no elevador e passa a gritar dizendo que não temos o
direito de repreender e de coagir o filho dela. Disse que apenas observamos as
normas de utilização dos brinquedos e ela mal me deixou concluir a frase,
esbravejou que o filho tem o direito de brincar onde quiser, que se ele quebrar
algo ela paga. Que ele tem idade para sair sozinho e assim será.
Fiquei triste por perceber que as crianças estão
desamparadas pelos adultos. A atitude desta mãe é perigosa no sentido de dar
poder ao filho que ainda não sabe como usá-lo, ao mesmo tempo que o abandona. Se
ele quebrar o brinquedo do parquinho qualquer dinheiro pagará pelo conserto,
mas se ele tiver um braço arrancado não haverá dinheiro para compensar a falta
de orientação.
Sei que muitos dirão que aos 10 anos o garoto já pode sair
para brincar sozinho, mas o quanto o pode ser responsável por seus próprios atos?
Quanto de discernimento ele tem sobre o que é perigoso?
Como psicóloga digo que muito pouco.
Desde 2007 o Conselho Federal de Psicologia tem se
posicionado contra a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, por entendermos
que os adolescentes são adultos em formação, embora tenham discernimento para
votar, não são completamente cientes de suas responsabilidades perante a lei. O
carro para um adolescente de 16 anos pode ser uma arma potencial e mesmo sendo
proibido, sabemos que muitos burlam a lei e se envolvem em acidentes. Se aos 16
sabemos que os jovens não estão preparados para estas responsabilidades tenho
total segurança em dizer que aos 10 anos também não estão. Os pais querem dar
autonomia aos filhos, mas penso que esta autonomia deve ser vigiada.
Posso parecer protetora demais, mas amar é cuidar, é estar
junto, é saber confiar e desconfiar. É saber falar não, ensinar autonomia com
segurança.
As vezes a pressa em ver o filho crescer pode ser prejudicial.