A contribuição da Psicologia para solucionar
/administrar conflitos em hospitais numa provável crise da água.
Por: Profa. Ms. Raquel Alves Cassoli
A preocupação com os recursos ambientais no mundo tem
sido cada vez maior, as reuniões mundiais organizadas pela Organização das
Nações Unidas buscam acordos internacionais e compromisso entre os países para
a preservação dos recursos naturais no planeta. Duas das principais reuniões
realizadas foram em Estocolmo em 1972 e no Rio em 1992 e entre as metas
assumidas estavam o compromisso com o desenvolvimento sustentável. Essas
preocupações foram potencializadas pelas alterações climáticas e especialmente
no estado de São Paulo, que tem vivido verões secos e, com a falta de água,
racionamento e rodízio no fornecimento desta. O que observamos é uma pequena
sensação de pânico entre as pessoas que passaram a buscar serviços de poços
artesianos e caminhões pipa. As organizações, especialmente as que lidam com a
saúde como clinicas e hospitais precisam estar preparadas para uma provável
falta de água. Como a psicologia pode ajudar neste momento?
Primeiramente gostaria de falar a vocês o que faz a
Psicologia nas organizações de uma maneira generalizada. A Psicologia é uma ciência que estuda o
fenômeno psicológico, seja a subjetividade, que são os pensamentos, os
sentimentos e as experiências representadas internamente, como também a
objetividade expressa através do comportamento humano. A Psicologia é dividida
em diferentes áreas de atuação e dentro das organizações de saúde possivelmente
contamos com dois profissionais diferentes são eles: o psicólogo da saúde ou
hospitalar que cuida da saúde das pessoas como um todo e no caso de um
hospital, cuida das demandas especificas deste lugar. E O Psicólogo Organizacional
é o profissional da área da psicologia que estuda o comportamento humano das
pessoas nas organizações e o comportamento da própria organização. De modo mais
detalhado : a forma como se relaciona e como se sentem os profissionais, agindo
para auxiliar a organização na definição dos melhores perfis para atuarem
dentro da organização, conduzir uma analise para solucionar um problema
organizacional, avaliação de desempenho
dos funcionários e equipe, desenvolver a avaliar programas de treinamento que
melhor correspondam aos objetivos organizacionais, preparando lideres e
subordinados para as transformações que também são necessárias as empresas,
assim como implementar sistemas de bonificação e gratificação aos bons
funcionários. Afinal a empresas também se movimentam nos mercados e
através dos tempos.
Será que existe estabilidade seja ela no emprego ou nas
mudanças sociais e climáticas, políticas ou econômicas? Não, não existe
estabilidade. O mundo está em constante movimento e coloca às empresas e às
pessoas constantes desafios e transformações para se adaptar as novas
realidades, sempre, cada vez numa velocidade maior.
No caso dos recursos ambientais, quase fomos tomados por
uma surpresa, apesar de ter sido noticiado em 2010 que o estado de São Paulo
poderia viver uma crise nos recursos hídricos, essas manchetes foram
praticamente ignoradas pela população, que não trabalhou para o processo de
reeducação para melhor aproveitamento e economia da água.
Quem diria que o Brasil viveria uma crise nos recursos hídricos
de forma tão precoce?
De acordo com relatório do Senado federal: “O Brasil detém cerca de 12% da água doce
superficial disponível no Planeta e 28% da disponibilidade nas Américas. Possui
ainda, em parte de seu território, a maior reserva de água doce subterrânea, o
Aquífero Guarani, com 1,2 milhão de quilômetros quadrados. Entretanto, a
distribuição geográfica desses recursos – superficiais ou subterrâneos – é
bastante irregular. A região Norte, com 8,3% da população, dispõe de 78% da
água do País, enquanto o Nordeste, com 27,8% da população, tem 3,3%.
A crise de água não é
consequência apenas de fatores climáticos e geográficos, mas principalmente do
uso irracional dos recursos hídricos. Entre as causas do problema figuram: o
fato de a água não ser tratada como um bem estratégico no País, a falta de
integração entre a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e as demais
políticas públicas, os graves problemas na área de saneamento básico e a forma
como a água doce é compreendida, visto que muitos a consideram um recurso
infinito. Para preservar os corpos hídricos e garantir o acesso a eles, o
Brasil terá de promover uma gestão eficiente, que busque a equalização
inter-regional e intertemporal da água.”Temos uma crise, não por problemas climáticos,
como alguns meios de comunicação insistem em dizer, mas por falta de planejamento,
foco e educação para melhor gerir esses recursos.
Mas vamos então desmembrar a palavra crise, porque toda
vez que pensamos em crise, pensamos, apenas em momentos difíceis. O significado de crise é, de acordo com o
dicionário Aurélio: 1. é uma mudança súbita ou agravamento que
sobrevém no curso de uma doença aguda. 2 Manifestação súbita de um estado
emocional ou nervoso.3 Conjuntura ou momento perigoso, difícil ou decisivo.4
Falta de alguma coisa considerada importante.5 Embaraço na marcha regular dos
negócios. Ou 6 Desacordo ou perturbação que obriga instituição ou organismo a
recompor-se ou a demitir-se. A palavra crise vem do latim crisis que significa momento de decisão,
mudança súbita.
Vamos ver o que disseram os pensadores e cientistas sobre
CRISE.
“Crises - não são uma situação temporária, mas um
caminho para a vida interior" -
Vigotski.
"Em momentos de crise, só a imaginação
é mais importante que o conhecimento."
(Albert Einstein)
(Albert Einstein)
"Quando
escrito em chinês a palavra crise compõe-se de dois caracteres: um representa
perigo e o outro representa oportunidade." (John F. Kennedy)
Temos algumas lições a extrair destas
frases: precisamos avaliar como vivemos e agimos, precisamos ser criativos e precisamos
criar oportunidades. Então a crise é uma situação que exige uma decisão, exige
mudanças, é o momento em que temos que mudar de rumo. Na medicina se configura
como o momento em que o paciente apresenta um quadro que o médico define o
tratamento que pode levá-lo á cura ou lhe trazer a morte. Na economia é a fase
de transição entre um surto de prosperidade e outro de depressão. Neste momento
já estamos vivendo uma crise e antes de atingirmos um ponto realmente difícil
podemos realizar algumas mudanças para garantir o bom consumo da água.
Como diz o poeta Edson Marques, em um
poema chamado MUDE que diz “ MUDE, mas
comece devagar pois a direção é mais importante que a velocidade”.
Até aqui parece muito tranquilo, mas
tem uma coisa com a qual não contamos, os seres humanos criam uma rotina e uma
vida cotidiana, onde simplesmente acham muito difícil mudar. Se eu pedisse para
vocês mudarem o lugar onde estão sentados agora, levante a mão quem ficaria
completamente confortável para mudar de lugar?
Poucos ou ninguém. Mas vou dizer a
vocês nada na vida de vocês nada permanece de forma estática, vocês mesmo são
outras pessoas, diferentes das que eram na semana passada, diferentes de ontem,
então é preciso, se quiserem viver bem nos dias de hoje, observar as mudanças
que ocorrem a nossa volta e mudar com elas. Por isso, saibam lidar com a
diversidade e garantam em ter na equipe de trabalho pessoas flexíveis que
aceitem mudanças com facilidade e saibam trabalhar em grupo. Neste ponto um bom
projeto de recrutamento e seleção garante que o perfil adequado estará com
você.
Para não termos lidar com mudanças
drásticas no caso de falta de água num hospital ou numa instituição de saúde
algumas mudanças precisam ser instaladas antecipadamente, ou seja, vamos
devagar, mas com foco no que precisa ser modificado.
O Governo do Estado de SP noticiou que em caso
de falta d´água, hospitais e escolas tinham prioridades no abastecimento, mas
ainda assim, sem a mudança no comportamento esses lugares estariam correndo
riscos. A primeira coisa a se fazer é a
gestão ter definido, antes de uma provável falta, quais são as prioridades no
atendimento ou no uso da água. A gestão
precisa fazer um planejamento.
O que vai garantir o bom desempenho é:
planejamento de prevenção, isto significa, divulgar a informação, desenvolver
ações planejadas em treinamento.
O sucesso no caso de um incêndio, em qualquer
instituição, depende do preparo da equipe e do treinamento da brigada de
incêndio. Geralmente a brigada faz um treinamento intensivo para evitar o
pânico das pessoas no caso de um incêndio. Soam se os alarmes para simular uma
situação de incêndio, as equipes evacuam o prédio e isto garante que todos saibam o que fazer
em caso de um incêndio real.
Um exemplo que temos de sucesso nos
momentos de crise e no atendimento de emergência é o Japão, que tem população
aproximada de 126,9 milhões de pessoas. Em 2011 um terremoto de 9 graus na
escala Richter, o quarto pior do mundo, As ondas
invadiram a cidade e provocaram mortes e a destruição de casas e ruas. Milhões
de residências ficaram sem energia elétrica, cerca de 80 estabelecimentos
foram incendiados e houve vazamento de material radioativo de uma usina
nuclear. Autoridades japonesas divulgaram que 9.079 pessoas morreram
e milhares ficaram feridas. Esses danos só não foram piores porque o país
possui construções de boa qualidade e realiza treinamentos (simulações) com a
população de como agir durante terremotos. Existe alerta para os celulares e
toda a população está preparada para lidar com isso. A informação é o melhor
instrumento para conter o pânico e fazer as pessoas agirem com calma.
A cidade de Mendoza,
na Argentina depois de um grande terremoto que devastou a cidade 1944, a cidade
possui áreas de escape.
O Chile também é um
país que tem se mostrado cada vez mais preparado para lidar com terremotos,
talvez não estejam ainda aos pés da tecnologia e educação no Japão, mas
mostra-se cada vez mais rápido para lidar com essas situações.
Já no Haiti, com
população acima de 10 milhões de pessoas, um dos países mais pobres da América
e com pouco acesso a informação e tecnologia, em 2010, num terremoto de 7,5
graus na escala Richter 200mil pessoas foram mortas, outras 250 mil ficaram
feridas e 1,5 milhões ficaram desabrigados. Mesmo em 2013 a cidade ainda estava
em processo de reconstrução.
Desta forma todo gestor deve se
antecipar aos acontecimentos e prevenir
uma possível falta de água. Para conseguir sucesso nesta operação todas as
equipes devem estar envolvidas. A gestão deve estabelecer um planejamento dos setores que teriam
prioridades no atendimento e no fornecimento da água. Neste planejamento também
deve conter um plano de treinamento,
de como as equipes e os setores devem agir tanto para a economia preventiva de
água, como também para conter os gastos desnecessários enquanto não chega um
caminhão pipa que faça o abastecimento da unidade.
É muito grande a probabilidade de que a
falta de água gere pânico na população, como vimos neste ultimo verão, que com
a falta de chuvas, as pessoas saíram comprando caixas d´água, estocando galões
de água e algumas residências para fugir do racionamento abasteciam seus reservatórios
com água dos caminhões pipas, ou perfuraram poços. Sabemos que o hospital ou
uma unidade de saúde terá preferência no abastecimento, mas o uso consciente e
reuso da água garante que a unidade não será surpreendida. A Psicologia
Comportamental explica que quando queremos que um comportamento seja
prevalente, que aconteça mais vezes o que fazemos? Premiamos, elogiamos, nas
palavras da psicologia chamamos de reforçamento positivo. Fazemos com que este
comportamento fique mais forte, afinal todas as pessoas gostam de ser premiadas
por suas ações: mudamos o corte do nosso cabelo por um elogio, fazemos boas
ações por um premio. Identifique na sua empresa, na sua equipe o que é
reforçador, o que as pessoas valorizam e gratifique-as. Pode ser uma folga
extra, um curso, um presente, uma festa, um passeio, um bônus ou a
possibilidade de financiar um bem. O valor do premio não é o mais importante, o
que realmente importa é o que os colaboradores valorizam. Punir o comportamento
inadequado não é o melhor caminho. Ele apenas traz a suspensão temporária do
comportamento indesejado que depois de um tempo volta a acontecer, por isso as
multas de transito não são eficientes, depois do susto da multa as pessoas
reincidem no erro.
Se
ainda assim houver pânico entre as pessoas, os profissionais que se
demonstrarem pouco capazes de lidar com a situação devem ser afastados e
substituídos por pessoas que demonstrem melhor habilidade para lidar com uma
situação caótica. Incentivar boas ações e boas ideias, informação, planejamento
e treinamento são o caminho para administrar a crise. A solução dependerá da
flexibilidade da equipe e da boa aceitação ás mudanças.
Bibliografia:
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Psicologia aplicada a Administração de empresas. São Paulo: Atlas, 2011.
BERGER, Peter
L; Luckmann, Thomas. A construção Social da Realidade. Petrópolis: Vozes, 2004.
BOCK, Ana Merces
Bahia (org). Psicologia Fácil. São
Paulo: Saraiva, 2011.
FERREIRA, Aurélio
Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio
Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
SILVA, Carlos Henrique R. Tomé. Recursos Hídricos e Desenvolvimento Sustentável no Brasil. 2012.
(documento do Senado federal disponível em: http://www12.senado.gov.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/outras-publicacoes/temas-e-agendas-para-o-desenvolvimento-sustentavel/recursos-hidricos-e-desenvolvimento-sustentavel-no-brasil
acessado em 01/04/2015)
SPECTOR, Paul. Psicologia nas organizações - 3ª
EDIÇÃO. Saraiva, 2006.
Raquel A. Cassoli.
Psicologa - CRP06/61822
Professora Universitaria no UNIPAULISTANA.
Professora na Pos Graduação no UNIFAI.
Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP
Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC-SP
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