sexta-feira, 22 de maio de 2015

Cinquenta tons de cinza - livro e filme



Agora que passou todo o bafafá em torno do filme podemos fazer uma analise do livro e do filme. A continuação está prevista para 2017 e provavelmente virá mais polemica sobre o romance entre Anastásia Steele  e Christian Grey.
 Falo do livro e do filme, pois sob minha análise, penso que gostou do filme quem leu o livro. Talvez por isso uma linha divisória tão clara de pessoas que odiaram e que amaram o filme. Eu gostei do filme, achei que a Dakota Johnson personificou muito bem a personagem Anastasia, embora na minha cabeça o Christian Grey era mais enigmático e um pouco mais sedutor, mas a grande mágica dos livros é justamente a “montagem” que nossa imaginação faz do personagem e da história.
Quando assisti ao filme fiquei pensando se as pessoas que não leram o livro gostariam do filme e a conclusão que cheguei é de que não gostariam. Se pensarmos na classificação que podemos fazer do filme: ele não é necessariamente um filme romântico, mas conta uma história de amor. Não é uma comédia, mas contem algumas cenas engraçadas: Anastácia é uma jovem um pouco atrapalhada e inocente, o que favorece alguns risos. E embora tenha cenas picantes, não classificaria como pornográfico, apenas como levemente erótico. As criticas que li foram as mais diversas: violência contra a mulher (um exagero), sadismo (passou longe) e que o casal não fazia outra coisa e que nenhum casal tem tanto tempo para transar (acho que faltou uma vida sexual interessante para algumas pessoas).

Então antes de emitir o que acho que seja um opinião justa sobre o filme, também pela ótica da Psicologia, vamos falar sobre o que é sadismo sexual. Sádico é a pessoa que sente prazer em impor sofrimento à outra pessoa ou que sente excitação sexual com o sofrimento do outro. O sofrimento pode ser psicológico ou físico, incluindo humilhação da vítima. Não me parece bem o caso de Christian uma vez que ele uma extrema preocupação com a Anastasia.
Convém esclarecer o que é o Masoquismo Sexual pois envolve fantasias sexuais excitantes, repetidas, intensas, impulsos sexuais e atos de ser humilhado, amarrado, espancado ou de outro modo submetido a sofrimento.O Masoquismo Sexual causa sofrimento significativo, prejuízo social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Exemplos de comportamentos masoquistas: contenções (sujeição), palmadas, espancamento, açoitamento, colocação de vendas (sujeição sensorial).Ser “perfurado e atravessado”.Ser forçado a rastejar e latir como um cão. Choques elétricos, ser cortado e humilhado, a privação de oxigênio pode ser executada com um parceiro ou a sós e mortes acidentais podem ocorrer.É preciso que fique bem claro que a via de prazer neste relacionamento é apenas por via da dor.
A definição se apresenta para mim de forma clara, e um exemplo que tenho em minha mente de masoquismo é da personagem Sabina Spielrein no filme “Um método Perigoso”. O filme que conta o romance vivido por Carl Jung (Michael Fassbender), ex- discípulo de Freud (Viggo Mortensen), e sua paciente Sabina Spielrien (Keira Knightley) no começo da Psicanálise conta com a boa atuação da atriz Keira Knightley que na cena em que relata sua queixa ao Psicólogo se contorce de prazer, simplesmente de relembrar a cena em que leva uma surra do pai. A cena que comprova o masoquismo da personagem é em uma das visitas amorosas em que mostra Jung batendo nela e ela tendo um orgasmo. Portanto Christian Grey não é masoquista, nem sádico, Anastacia Steele também não, mesmo tendo concordado com a situação proposta por Christian, na verdade, prefere um “sexo baunilha” (fazer amor)e  assim não se encaixa nesta descrição.

Outra suposição seria de que Christian Grey tivesse um fetiche com os objetos Sado-masoquista. Vamos então a definição de fetiche. Chamamos de  Fetichismo a tendência erótica para coisas inanimadas que, direta ou indiretamente estão em contato com o corpo humano ou para determinadas partes do corpo da pessoa amada. O Fetichista tem o fetiche como o elemento necessário e suficiente para sua excitação sexual. O Fetichista utiliza objetos inanimados ou atenta apenas para uma determinada parte do corpo da outra pessoa para obter satisfação sexual.  O Fetichista é incapaz de amar a outra como uma pessoa real. Consegue amar apenas uma parte dela, ou um objeto que ela use. Exemplo: mãos, pés, nádegas, mamas, sua calcinha, seu sutian, suas meias, etc
O Christian Grey mais de uma vez acaba fazendo “amor” com Anastacia e em outros lugares, então o prazer dele não está condicionado ao uso dos objetos de dominação, nem as vestes dela, nem ao quarto vermelho.

Podemos dizer com conhecimento da causa que se trata de uma fantasia. Uma fantasia bem elaborada, mas apenas uma fantasia. Isso não tira a graça do livro, mas fundamenta de uma forma mais ajustada essa analise que estou propondo. A definição de fantasia no dicionário Aurélio é de algo imaginado, também está relacionado à esquisitice, ou roupas carnavalescas. Ou seja, é uma construção mental, geralmente prazerosa. No caso da fantasia sexual pode ser uma forma de idealização de uma noite romântica e erótica ou de ações eróticas para potencialização do prazer. Por exemplo, imaginar que está transando em um lugar público ou que faz sexo com estranhos, há também o uso de fantasias (carnavalescas) para criar um clima diferente para a relação amorosa. No caso do referido casal ele parecem exercitar a fantasia de dominador e submissa, talvez com uma dose mais realística e um pouco mais frequente, mas chamo atenção ainda de que ela não é a única via de prazer para eles.

Sobre as fantasias acho que todos nós temos, podemos “vestir” o personagem que nos é mais interessante, seja para a sedução ou satisfação sexual, seja por mero divertimento. Acho construtivo querer discutir sobre algo que nos incomoda, mas querer classificar ou condenar a fantasia alheia é como querer discutir preferências por time de futebol.

 Em termos literário o livro é fraco, algumas palavras são exaustivamente repetitivas, há erros de concordância verbal e em alguns momentos a leitura é cansativa, mas se mesmo assim foi um Best Seller nas livrarias por vários meses e o filme gerou toda esta polêmica (mesmo também sendo um filme fraco) podemos falar dos valores e dos papéis sociais que aparecem na história, sobre a fantasia (ou a falta dela) nos dias de hoje.

Para acabar com tanto bafáfá e mimi, ainda corro o risco de parecer ousada mas recomendo que se analisem menos, e que vivam mais, preocupem-se do que é seu;  suas fantasias, seus valores e ocupem-se menos de julgar o outro, seja porque o livro e o filme é ruim, ou porque a história não atraiu seu interesse.


Raquel A. Cassoli.
Psicologa - CRP06/61822
Professora Universitaria no UNIPAULISTANA.
Professora na Pos Graduação no UNIFAI.
Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP
Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC-SP




P.S.: Como a proposta do blog é ser informativa e para que fique claro o que tomamos como Sadismo e Masoquismo sexual, copio a descrição do DSM-IV no portal da Educação.
Critérios diagnósticos do DSM IV  para sadismo sexual
A. Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo atos (reais, não simulados) nos quais o sofrimento psicológico ou físico (incluindo humilhação) da vítima é sexualmente excitante para o indivíduo.
B. O indivíduo realizou estes desejos sexuais com outra pessoa sem seu consentimento, ou os desejos e as fantasias sexuais causam acentuado sofrimento ou dificuldade interpessoal.
Fonte: DSM IV
O início do transtorno em geral acontece antes dos 18 anos de idade, e a maioria das pessoas que o apresentam são homens. O transtorno foi batizado com o nome do Marquês de Sade, um autor francês do século XVIII repetidamente preso por seus atos sexuais violentos contra mulheres. O sadismo sexual está relacionado ao estupro, embora este seja considerado uma expressão de poder. Alguns estupradores sádicos, no entanto, matam suas vítimas após o sexo. Em muitos casos essas pessoas têm esquizofrenia subjacente. Alguns autores falam em cinco causas que contribuem para o sadismo sexual: predisposição hereditária, mau funcionamento hormonal, relacionamentos patológicos, história de abuso sexual e presença de outros transtornos mentais.

Critérios diagnósticos do DSM IV para masoquismo sexual 
A. Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo o ato (real, não simulado) de ser humilhado, espancado, atado ou de outra forma submetido a sofrimento.
B. As fantasias, os impulsos sexuais ou os comportamentos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Fonte: DSM IV 
O masoquismo deve seu nome às atividades de Leopold Von Sacher-Masoch, um romancista austríaco do século XIX, cujos personagens derivam prazer sexual de serem abusados e dominados por mulheres. 
Segundo o DSM IV, pessoas com masoquismo sexual têm uma preocupação recorrente com impulsos e fantasias sexuais envolvendo o fato de serem humilhadas, espancadas, amarradas ou de alguma outra forma submetidas a sofrimento.
As práticas sexuais masoquistas são mais comuns entre homens do que entre mulheres. Cerca de 30% dos portadores de masoquismo sexual também têm fantasias sádicas. O masoquismo moral envolve a necessidade de sofrer, mas não é acompanhado de fantasias sexuais.

Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO 
http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/28128/sadismo-e-masoquismo-sexual#ixzz3aMPE6D4n
 

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