segunda-feira, 25 de maio de 2015

Cronicas da Surdez - o que todo otorrino, fono, psicólogo e professor deve saber.

Imagine estar de frente para o mar, as ondas num indo e vindo infinito (como disse Lulu Santos), sentir o cheiro da maresia, aquela brisa fresca no rosto....e não ouvir nada.

Eu sei o que é isso.
A Paula Pfeifer também, junto á nós 9,8 milhões de brasileiros de acordo com o IBGE (5,2% da população). E sabe que você também pode se juntar á nós, varias pesquisas apontam que acidentes, doenças como infecção constante no ouvido ou os maus hábitos como ouvir som alto nos fones de ouvido e exposição a ruídos muito altos no dia-a-dia podem ocasionar perda auditiva. Hoje cerca de 20% da população sofre de Zumbido que é sinal de perda auditiva. É preciso estar atento aos sinais de perda e procurar um Otorrinolaringologista que encaminhará para o exame de audiometria e diagnosticará corretamente, assim como fará a recomendação de uso da Aparelhos da Amplificação Sonora Individual (AASI) para perdas leves á severas ou Implante Coclear (IC) em caso de surdez profunda.
Estou aqui para falar dos livros que recomendo fortemente para quem convive com surdos oralizados e que fazem uso de AASI ou IC.
A Paula conhece bem esse caminho percorrido pelas pessoas que nascem ouvintes e aos poucos vão perdendo a audição. Conheci a Paula quando ela tinha o blog Sweetest Person Blog onde ela fala sobre moda, dicas de beleza e viagens, suas paixões. Um dia ela falou que era deficiente auditiva e aos poucos  vários seguidores passaram a contar sobre suas histórias com a deficiência, seja própria ou alheia: os preconceitos de ser uma deficiência invisível, da dificuldade de se falar sobre o assunto com outras pessoas e onde estão esses deficientes oralizados? Há uma forte crença de que todos os surdos são mudos e que são sinalizados,  está em seu grupo de pessoas surdas e que se comunica pela Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS), mas o surdo oralizado está entre os ouvintes e ao mesmo tempo não está. Foi á partir dos e-mails que ela recebeu que criou o blog Cronicas da Surdez para falar sobre as experiências dela como Deficiente Auditiva (DA). E o Blog foi tão bem divulgado, lido e aceito que virou livro. Lembro de me identificar com várias coisas que ela disse, todos meus anos como paciente em psicoterapia e todos os anos como psicologa não me disseram tanto sobre mim ou sobre a DA como a Paula e seus seguidores disseram.
Tanto no primeiro como o segundo livro, ela escreve com clareza, coerência e uma intimidade com o assunto, que senti como uma amiga contando sobre sua vida, talvez por isso a facilidade que todos tem para conversar com ela, seja por e-mail, facebook ou pessoalmente. 

No primeiro livro ela relata com clareza a dificuldade em que vivem os DAs (invisíveis). É uma leitura fundamental para médicos que darão diagnósticos do teste da orelhinha, ou que confirma que um paciente está com perda auditiva. Logo que dá um diagnóstico de deficiência auditiva o primeiro argumento do médico é (geralmente): "Olha, a tecnologia hoje é incrível, existem aparelhos muito pequenos que corrigem as pessoas jamais saberão que você está usando aparelhos." E isso é HORRÍVEL, chega a ser um crime, pois a pessoa passará a vida tentando se esconder atrás desse aparelho e desta mentira. Os AASIs realmente são de uma tecnologia impressionante, os aparelhos dados pelo SUS são de qualidade inferior aos que são comercializados e eles amplificam o som, tornando o som mais acessível ao DA, mas não tem o mesmo desempenho do ouvido humano. A vida não vai ser mais fácil com a pessoa se escondendo, ela vai ser bem mais difícil, porque o DA faz um esforço enorme para acompanhar as conversas, pois PRECISA fazer leitura labial e muitas vezes cansa de pedir para que o outro repita, grupos grandes são difíceis, lugares com muito ruido são difíceis, e se junta isso em um ambiente escuro coloca a conversa como algo quase impossível e os ouvintes continuam te tratando como um ouvinte qualquer, simplesmente porque não sabem. Então é melhor saber, certo? Otorrinolaringologistas, leiam estes livros, conversem com seus pacientes sobre seus temores e anseios, não incentivem que se escondam, tenham sempre um psicólogo que esteja habituado aos dilemas dos DAs e indique. Da mesma forma que o fonoaudiólogo é fundamental no processo de reabilitação auditiva, o Psicólogo é fundamental para auxiliar o paciente no processo de negação da DA e no resgate da auto-estima.
Outro ponto a considerar é que a invisibilidade da DA também se apresenta na lei, o DA não tem dierito a desconto na compra de veículos e nem dedução no Imposto de Renda para compra de prótese auditiva, como disse, os AASI comprados possuem uma alta performance na programação dos sons e tecnologia, mas a tecnologia custa caro. Os DAs não precisam ser escondidos da sociedade.
Hoje falamos tanto de Inclusão Escolar que esta leitura é fundamental para todos os professores, para saber conversar com seu aluno sem rodeios e adotar atitudes que melhoram o desempenho e a segurança dos alunos com DA em sala de aula. Sala de aula é uma situação tensa em qualquer idade. Quando o professor fala atrás do aluno ou andando pela sala de aula, submeter crianças ao "ditado" é quase um teste de audição, a criança que não ouve não consegue acompanhar o ditado do professor. Os ruídos da sala ou do pátio. As aulas ou palestras que são dadas em lugares escuros para uso do data-show é uma verdadeira Maratona. A Paula mesmo diz que ter terminado a faculdade foi uma verdadeiro teste de paciência. Quando tiver um aluno com suspeita de deficiência auditiva encaminhe para o Otorrino e peça que seja realizada uma audiometria. 

Os fonoaudiólogos devem ter esses livros como fundamentais para compreensão dos medos e anseios de seus pacientes. Paula conta muito sobre participação em congressos e encontros de fonoaudiologia e da importãncia do fonoaudiólogo no processo de reabilitação auditiva, mas os psicólogos não parecem dar muita importância para isto, muitos acham que sabem o suficiente. Vou contar porquê não sabem. 
Recomendo fortemente que esta leitura seja realizada por Psicólogos. Primeiramente porque fala da vida humana, fala da diversidade, fala do quanto o social é importante para a vida das pessoas, o quanto muitas vezes as pessoas estão rodeadas de pessoas a sua volta, mas sem a comunicação estão sozinhas. O quanto o silêncio pode ser confortável quando é uma opção e não uma imposição. 
No segundo livro, Paula conta sobre o sucesso e repercussão do seu primeiro trabalho e a sua experiência ao retorno dos sons com o Implante Coclear quando sua surdez, já num grau profundo a privava de estar no mundo, sair de sua zona de conforto e ser aquela pessoa que não ficava mais tensa com as situações sociais. Uma das partes do livro e que tem um post no Blog (o post está aqui), conta sobre sua participação em um Congresso em Campos do Jordão, onde, após os trabalhos um grupo de pessoas foram para um restaurante, a combinação: muitas pessoas + lugar escuro + lugar com muito barulho a fez desistir de participar da conversa e dormir. O cansaço e a tensão em acompanhar leitura labial para não perder as conversas ao longo do dia já haviam deixado- a exausta. Hoje ela diz que essa pessoa cansada, tensa e que estava ficando introvertida ficou no passado. Algumas coisas que a maioria faz com "naturalidade" como atender telefone, ouvir interfones e campainhas, o barulho do mar, do vento e da chuva faz parte da realidade dela novamente, ela não quis desistir do som. Na nova etapa da vida, agora com IC, também coube um amor. Acho que o próprio fato de se descobrir nas falas dos seus leitores fez com que a Paula nunca se deixasse abater pelo desânimo ou o stress que ela vivia com a deficiência e conseguir dar voz ás pessoas invisíveis. Como disse uma professora uma vez: nem todos precisam de terapia, algumas relações são terapêuticas por si só, mas isso não quer dizer que a psicoterapia perde sua função. O que funcionou para a Paula talvez não funcione para outros. Vejo alguns relatos de forte negação, dificuldade de aceitar ou de considerar o uso do AASI, de conseguir mostrar suas deficiência como se isto a fizesse menos digna. Nestes casos o profissional melhor capacitado para esta tarefa é o Psicólogo, portanto, leiam, se informem sobre as fragilidades humanas.


Por fim, conhecer a Paula pessoalmente foi uma grande realização. Acompanho o Blog dela desde 2009, trocamos alguns e-mails (talvez ela nem se lembre, devem ter muitos e-mails diários para responder),  um dos meus e-mails foi publicado no espaço dos leitores do blog (está aqui) e outras vezes que ela esteve em São Paulo eu estive ocupada com minhas funções maternas. Fiz algumas amizades, tentei ajudar algumas pessoas. Desta vez fiz questão de ir ao lançamento do segundo livro, levei meus filhos que se divertiram muito no Espaço Escuta da Politec e oportunizei que eles pudessem estar com crianças surdas que usam IC. Não tivemos muito tempo para conversar e sei que não nos faltará oportunidades. Sou muito fã do trabalho dela na divulgação dessas informações e desejo que ela esteja atingindo muitos profissionais com seus relatos. Seus textos me inspiram, inclusive, profissionalmente. Através do Blog conheci a psicologa Carla Rigamonte, que tem um capítulo no livro, no Programa Espaço Escuta, e pudemos conversar sobre a Psicologia e a resistência que, infelizmente, encontramos em nosso trabalho.


Espero com isso poder abrir outros caminhos dentro de uma sociedade mais receptiva para a diversidade.

Raquel A. Cassoli.
Psicologa - CRP06/61822
Professora Universitaria no UNIPAULISTANA.
Professora na Pos Graduação no UNIFAI.
Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP
Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC-SP

P.S.:Outro livro e outro blog que também recomendo sobre o assunto é "Desculpe, Não ouvi" Da Lak Lobato.(clique aqui)- vale outro post.
Vale lembrar que cada caso é um caso, os surdos profundos que por algum motivo prefira a LIBRAS ou o mundo do silencio, ou porque não é candidato a rehabilitação auditiva deve etr seu direito respeitado. A LIBRAS pode ser um recurso a mais na vida dos DAs, o uso de Aparelhos ou Implantes não excluem o uso da LIBRAS.
Quando estava escrevendo este texto vi uma reportagem no Jornal Nacional que mostra um pouco sobre o uso do Implante Coclear e a dificuldade dos DAs. Voce pode assistir clicando aqui.
A Stakey, empresa de aparelhos auditivos criou um simulador para a perda auditiva, onde os ouvintes podem simular o som ouvido por um DA e parar de achar que as pessoas ouvem o que querem. Clique aqui para fazer uma simulação.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Cinquenta tons de cinza - livro e filme



Agora que passou todo o bafafá em torno do filme podemos fazer uma analise do livro e do filme. A continuação está prevista para 2017 e provavelmente virá mais polemica sobre o romance entre Anastásia Steele  e Christian Grey.
 Falo do livro e do filme, pois sob minha análise, penso que gostou do filme quem leu o livro. Talvez por isso uma linha divisória tão clara de pessoas que odiaram e que amaram o filme. Eu gostei do filme, achei que a Dakota Johnson personificou muito bem a personagem Anastasia, embora na minha cabeça o Christian Grey era mais enigmático e um pouco mais sedutor, mas a grande mágica dos livros é justamente a “montagem” que nossa imaginação faz do personagem e da história.
Quando assisti ao filme fiquei pensando se as pessoas que não leram o livro gostariam do filme e a conclusão que cheguei é de que não gostariam. Se pensarmos na classificação que podemos fazer do filme: ele não é necessariamente um filme romântico, mas conta uma história de amor. Não é uma comédia, mas contem algumas cenas engraçadas: Anastácia é uma jovem um pouco atrapalhada e inocente, o que favorece alguns risos. E embora tenha cenas picantes, não classificaria como pornográfico, apenas como levemente erótico. As criticas que li foram as mais diversas: violência contra a mulher (um exagero), sadismo (passou longe) e que o casal não fazia outra coisa e que nenhum casal tem tanto tempo para transar (acho que faltou uma vida sexual interessante para algumas pessoas).

Então antes de emitir o que acho que seja um opinião justa sobre o filme, também pela ótica da Psicologia, vamos falar sobre o que é sadismo sexual. Sádico é a pessoa que sente prazer em impor sofrimento à outra pessoa ou que sente excitação sexual com o sofrimento do outro. O sofrimento pode ser psicológico ou físico, incluindo humilhação da vítima. Não me parece bem o caso de Christian uma vez que ele uma extrema preocupação com a Anastasia.
Convém esclarecer o que é o Masoquismo Sexual pois envolve fantasias sexuais excitantes, repetidas, intensas, impulsos sexuais e atos de ser humilhado, amarrado, espancado ou de outro modo submetido a sofrimento.O Masoquismo Sexual causa sofrimento significativo, prejuízo social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Exemplos de comportamentos masoquistas: contenções (sujeição), palmadas, espancamento, açoitamento, colocação de vendas (sujeição sensorial).Ser “perfurado e atravessado”.Ser forçado a rastejar e latir como um cão. Choques elétricos, ser cortado e humilhado, a privação de oxigênio pode ser executada com um parceiro ou a sós e mortes acidentais podem ocorrer.É preciso que fique bem claro que a via de prazer neste relacionamento é apenas por via da dor.
A definição se apresenta para mim de forma clara, e um exemplo que tenho em minha mente de masoquismo é da personagem Sabina Spielrein no filme “Um método Perigoso”. O filme que conta o romance vivido por Carl Jung (Michael Fassbender), ex- discípulo de Freud (Viggo Mortensen), e sua paciente Sabina Spielrien (Keira Knightley) no começo da Psicanálise conta com a boa atuação da atriz Keira Knightley que na cena em que relata sua queixa ao Psicólogo se contorce de prazer, simplesmente de relembrar a cena em que leva uma surra do pai. A cena que comprova o masoquismo da personagem é em uma das visitas amorosas em que mostra Jung batendo nela e ela tendo um orgasmo. Portanto Christian Grey não é masoquista, nem sádico, Anastacia Steele também não, mesmo tendo concordado com a situação proposta por Christian, na verdade, prefere um “sexo baunilha” (fazer amor)e  assim não se encaixa nesta descrição.

Outra suposição seria de que Christian Grey tivesse um fetiche com os objetos Sado-masoquista. Vamos então a definição de fetiche. Chamamos de  Fetichismo a tendência erótica para coisas inanimadas que, direta ou indiretamente estão em contato com o corpo humano ou para determinadas partes do corpo da pessoa amada. O Fetichista tem o fetiche como o elemento necessário e suficiente para sua excitação sexual. O Fetichista utiliza objetos inanimados ou atenta apenas para uma determinada parte do corpo da outra pessoa para obter satisfação sexual.  O Fetichista é incapaz de amar a outra como uma pessoa real. Consegue amar apenas uma parte dela, ou um objeto que ela use. Exemplo: mãos, pés, nádegas, mamas, sua calcinha, seu sutian, suas meias, etc
O Christian Grey mais de uma vez acaba fazendo “amor” com Anastacia e em outros lugares, então o prazer dele não está condicionado ao uso dos objetos de dominação, nem as vestes dela, nem ao quarto vermelho.

Podemos dizer com conhecimento da causa que se trata de uma fantasia. Uma fantasia bem elaborada, mas apenas uma fantasia. Isso não tira a graça do livro, mas fundamenta de uma forma mais ajustada essa analise que estou propondo. A definição de fantasia no dicionário Aurélio é de algo imaginado, também está relacionado à esquisitice, ou roupas carnavalescas. Ou seja, é uma construção mental, geralmente prazerosa. No caso da fantasia sexual pode ser uma forma de idealização de uma noite romântica e erótica ou de ações eróticas para potencialização do prazer. Por exemplo, imaginar que está transando em um lugar público ou que faz sexo com estranhos, há também o uso de fantasias (carnavalescas) para criar um clima diferente para a relação amorosa. No caso do referido casal ele parecem exercitar a fantasia de dominador e submissa, talvez com uma dose mais realística e um pouco mais frequente, mas chamo atenção ainda de que ela não é a única via de prazer para eles.

Sobre as fantasias acho que todos nós temos, podemos “vestir” o personagem que nos é mais interessante, seja para a sedução ou satisfação sexual, seja por mero divertimento. Acho construtivo querer discutir sobre algo que nos incomoda, mas querer classificar ou condenar a fantasia alheia é como querer discutir preferências por time de futebol.

 Em termos literário o livro é fraco, algumas palavras são exaustivamente repetitivas, há erros de concordância verbal e em alguns momentos a leitura é cansativa, mas se mesmo assim foi um Best Seller nas livrarias por vários meses e o filme gerou toda esta polêmica (mesmo também sendo um filme fraco) podemos falar dos valores e dos papéis sociais que aparecem na história, sobre a fantasia (ou a falta dela) nos dias de hoje.

Para acabar com tanto bafáfá e mimi, ainda corro o risco de parecer ousada mas recomendo que se analisem menos, e que vivam mais, preocupem-se do que é seu;  suas fantasias, seus valores e ocupem-se menos de julgar o outro, seja porque o livro e o filme é ruim, ou porque a história não atraiu seu interesse.


Raquel A. Cassoli.
Psicologa - CRP06/61822
Professora Universitaria no UNIPAULISTANA.
Professora na Pos Graduação no UNIFAI.
Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP
Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC-SP




P.S.: Como a proposta do blog é ser informativa e para que fique claro o que tomamos como Sadismo e Masoquismo sexual, copio a descrição do DSM-IV no portal da Educação.
Critérios diagnósticos do DSM IV  para sadismo sexual
A. Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo atos (reais, não simulados) nos quais o sofrimento psicológico ou físico (incluindo humilhação) da vítima é sexualmente excitante para o indivíduo.
B. O indivíduo realizou estes desejos sexuais com outra pessoa sem seu consentimento, ou os desejos e as fantasias sexuais causam acentuado sofrimento ou dificuldade interpessoal.
Fonte: DSM IV
O início do transtorno em geral acontece antes dos 18 anos de idade, e a maioria das pessoas que o apresentam são homens. O transtorno foi batizado com o nome do Marquês de Sade, um autor francês do século XVIII repetidamente preso por seus atos sexuais violentos contra mulheres. O sadismo sexual está relacionado ao estupro, embora este seja considerado uma expressão de poder. Alguns estupradores sádicos, no entanto, matam suas vítimas após o sexo. Em muitos casos essas pessoas têm esquizofrenia subjacente. Alguns autores falam em cinco causas que contribuem para o sadismo sexual: predisposição hereditária, mau funcionamento hormonal, relacionamentos patológicos, história de abuso sexual e presença de outros transtornos mentais.

Critérios diagnósticos do DSM IV para masoquismo sexual 
A. Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo o ato (real, não simulado) de ser humilhado, espancado, atado ou de outra forma submetido a sofrimento.
B. As fantasias, os impulsos sexuais ou os comportamentos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Fonte: DSM IV 
O masoquismo deve seu nome às atividades de Leopold Von Sacher-Masoch, um romancista austríaco do século XIX, cujos personagens derivam prazer sexual de serem abusados e dominados por mulheres. 
Segundo o DSM IV, pessoas com masoquismo sexual têm uma preocupação recorrente com impulsos e fantasias sexuais envolvendo o fato de serem humilhadas, espancadas, amarradas ou de alguma outra forma submetidas a sofrimento.
As práticas sexuais masoquistas são mais comuns entre homens do que entre mulheres. Cerca de 30% dos portadores de masoquismo sexual também têm fantasias sádicas. O masoquismo moral envolve a necessidade de sofrer, mas não é acompanhado de fantasias sexuais.

Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO 
http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/28128/sadismo-e-masoquismo-sexual#ixzz3aMPE6D4n
 

sábado, 16 de maio de 2015

Participação na reportagem da ADAP.

Olá pessoal!! Tudo bem?
Tenho dois post sendo finalizados, um sobre "50 tons de cinza", outro sobre "Se eu ficar".  Tem um sobre Ética profissional, que está ainda está ganhando forma.
Há duas semanas participei num evento sobre a Gestão de conflitos na crise da água no Centro Universitário Paulistano (UNIPAULISTANA), vou ampliar a palestra e publicar aqui e nesta semana contribui com mais um artigo da ADAP. (Clique  aqui para acessar a reportagem completa)

Segue um trechinho da minha participação. Agradeço a Ana Raquel Periclo Mangili pelo convite.

O sistema educacional brasileiro, público ou privado, é moldado segundo critérios gerais de necessidades de crianças e jovens no aprendizado e nas dinâmicas em sala de aula. Porém, sabe-se que cada ser humano é único e, portanto, podem ser necessários ajustes individuais ou coletivos para um melhor aproveitamento desta época da vida. No caso da pessoa com deficiência, tais adaptações são imprescindíveis para garantir a igualdade de oportunidades. Dependendo do tipo e do grau de uma deficiência, seja ela física, sensorial, intelectual ou múltipla, podem existir barreiras no meio escolar que dificultem ou até mesmo impeçam a plena realização da vida estudantil. Quando tais obstáculos não podem ser contornados com ações físicas e pontuais de acessibilidade, entra em cena o profissional Monitor de Apoio à Pessoa com Deficiência (MAPD), para garantir a inclusão do aluno em classes regulares de ensino.

Como trabalha o monitor da pessoa com deficiência?
O monitor é contratado como servidor público na área magisterial, quando atua em escolas públicas de ensino fundamental e médio. No ensino superior, o contrato de trabalho varia de acordo com cada universidade estadual ou federal, assim como nas escolas e faculdades particulares. A formação exigida desse profissional é livre (com exceção do intérprete de LIBRAS, sobre o qual falaremos mais adiante), podendo a pessoa ter cursado apenas o ensino fundamental, ou ter feito pós-graduação na área educacional; os critérios de escolha, bem como os salários, variam para cada instituição contratante.
As atividades do serviço de monitoria são diversificadas de acordo com a deficiência e as necessidades de cada estudante. No atendimento às pessoas com deficiência física, as principais ações do monitor podem ser referentes à ajuda no deslocamento do aluno e nas anotações do material passado em aula. Para os estudantes com graus variados de surdez, o profissional pode ajudar na sua comunicação interpessoal. Aos alunos com baixa visão ou cegueira, o auxílio é direcionado para a leitura e transcrição dos trabalhos e provas e, finalmente, para os estudantes com deficiência intelectual ou com Transtornos Globais do Aprendizado, o monitor auxilia na mediação dos conhecimentos passados pelos professores. Quando o aluno tem mais de um tipo de deficiência, as funções do profissional são ampliadas para dar conta de todas as necessidades do educando.
O serviço de monitoria nas escolas e universidades faz parte do Atendimento Educacional Especializado, este garantido por Lei, segundo os Artigos 227, § 1º, inciso II, e 208, inciso III, da Constituição Federal: “O Estado promoverá a criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência [...]”. Também a Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva, de 2008, dita que “cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizar as funções de monitor ou cuidador aos alunos com necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimentação, locomoção, entre outras que exijam auxílio constante no cotidiano escolar”. Para saber mais sobre outras leis que garantem esse direito aos estudantes com deficiência em geral e esclarecer mais dúvidas, veja o artigo da pedagoga Sônia Aranha sobre o tema.
(...)
Monitores para surdos oralizados?
Poucas pessoas sabem, mas há um segundo tipo de monitor que pode acompanhar alunos com deficiência auditiva nas escolas e universidades. Chamado por alguns de “intérprete oralista”, este profissional costuma atuar na transcrição das aulas no caderno do estudante ou na repetição oral do conteúdo dito pelo professor quando este estiver distante do aluno. Geralmente, este monitor só é contratado quando a pessoa com perda auditiva possui também outra deficiência associada ou quando, sendo oralizada, não consegue obter benefícios com nenhum tipo de AASI ou implantes auditivos convencionais.
Esta questão do “intérprete oralista” é polêmica e suscita debates das várias partes envolvidas no processo. Se a criança não possuir nenhuma outra deficiência além da auditiva, as escolas podem ter dificuldades de aceitar contratar um monitor apenas para este trabalho. Além disso, alguns profissionais da saúde defendem que isso prejudicaria a autonomia da criança e seus esforços auditivos para compreender as palavras por si mesma, ao depender de outra pessoa como sua mediadora auditiva. Patrícia Rodrigues Witt, terapeuta ocupacional e especialista em surdez, comenta sobre esse dilema.
“Acredito que o monitor em sala de aula poderá causar dependência, a criança se acomoda e não procura independência, e passa a ser diferente de outras crianças... Eu, com deficiência auditiva profunda, nunca tive monitor em sala de aula, pois não existia o olhar da inclusão. Na época, minha mãe criou uma espécie de sala de recursos ambulantes: a cada dois meses, havia reunião dos profissionais que trabalhavam comigo (psicóloga, pedagoga e fonoaudióloga) na minha escola e davam orientação aos meus professores e serviços de supervisão. Além de instruí-los nas minhas necessidades, eles faziam avaliação constante de como estava o meu desenvolvimento em relação a escola. Mas, em casos extremos, eu acho que o monitor pode estar na sala de aula, dependendo da necessidade do aluno, mas, ao mesmo tempo, deve incentivá-lo para a sua independência”, explica.
A psicóloga Raquel Cassoli também nos mostra a sua visão sobre essa questão. “A recomendação é de que a criança use monitores apenas em casos mais severos, no caso do deficiente auditivo, se a criança realmente não tiver desenvolvido a comunicação ou em casos que haja outra deficiência além da surdez. A recomendação dos profissionais que trabalham com crianças deficientes é de sempre estimular a comunicação e a autonomia. Vigotski, um teórico russo da Psicologia, dizia que: “o maior problema que as pessoas deficientes têm, não é o limite causado pela deficiência em si, mas sim a forma como a sociedade os trata”. Esta frase é uma das coisas mais verdadeiras que já vi, a criança não deve ser tratada diferente, deve ser dado a ela a oportunidade de desenvolvimento o melhor possível. Por isso, na escola, nenhuma criança deve ser protegida, muito menos as crianças com deficiências, a criança super protegida tem menor tolerância a frustração, e a presença de um monitor que fique para atendê-la o tempo todo não a coloca em situações reais, como quando queremos falar algo e o professor não vê que queremos atenção, ou quando não somos entendidos e somos estimulados a formular nossas perguntas e nossas dúvidas de outra forma”.
Já a fonoaudióloga Larissa defende que “cada caso é um caso” e diz que, se a intervenção de reabilitação auditiva e fonoaudiológica for tardia, a criança poderá precisar sim de um monitor, mesmo que não tenha outra deficiência associada. “Eu acredito que vá depender de cada caso. Por exemplo, uma criança que tenha tido acompanhamento fonoaudiólogico precoce e faça uso sistemático de AASI frequentemente não precisa. Mas, para que os pais solicitem um mediador/monitor, é necessário saber se a criança também faz acompanhamentos extra escola. Uma criança com diagnóstico e intervenção tardios sempre apresentará maiores dificuldades que outra com todas as intervenções realizadas no tempo adequado. O monitor é recomendado apenas em casos em que a criança, mesmo estando em terapia fonoaudiológica e fazendo uso sistemático de AASI, ainda encontre dificuldades para acompanhar o conteúdo escolar”.
(...)
Segundo a pedagoga Sônia Aranha, nenhum tipo de escola, pública ou particular, pode cobrar a mais pelo serviço de monitoria, pois os custos de atendimentos especializados já devem estar inclusos entre os gastos da instituição (nas particulares, diluídos nas mensalidades de todos os alunos), o que, infelizmente, não ocorre em grande parte das vezes. A única alternativa restante mediante uma negativa da escola perante o pedido é juntar todos os documentos e procurar o Ministério Público do Estado, exigindo a sua intervenção, ou contratar um advogado e entrar diretamente na justiça contra a escola.

Por Ana Raquel Périco Mangili.