quinta-feira, 30 de abril de 2015

Participação no Blog da ADAP

Olá pessoal tudo bem?
Eu sumi um pouco por causa do trabalho e do doutorado, mas também dei entrevista para a Ana Raquel Mangili que escreve no site da ADAP. Estou preparando mais dois posts muito bons, tenho mais dicas de filmes e de livros.
Segue a reportagem que participei. 


Ano passado, a ADAP publicou uma matéria sobre o desempenho escolar de crianças usuárias de Implante Coclear, contendo experiências e dicas de pais e especialistas para melhor lidar com os alunos com deficiência auditiva. Por mais que tais indicações sejam seguidas, não há como garantir uma perfeita adaptação em todos os casos de estudantes com surdez, porque aquelas são orientações gerais, e cada indivíduo é único e possui suas próprias necessidades em relação à sua deficiência. Portanto, para um melhor resultado, tais orientações devem ser analisadas junto ao contexto escolar de cada aluno, respeitando suas particularidades e procurando adaptar as soluções de acordo com a vivência da criança com deficiência auditiva.
Este é um processo complexo, e para se chegar ao resultado final esperado, muitas vezes é necessário um jogo de acertos e erros, buscando experimentar quais as melhores táticas para a adaptação da criança na escola. As tentativas que funcionaram para um aluno podem não funcionar para outro, por isso, deve-se ficar atento para as reclamações dos pequenos e das demais pessoas que convivem com eles em sala de aula, para se ter uma noção de como anda o processo de adaptação escolar em sua totalidade.
Com o objetivo de mostrar como cada estratégia de adaptação (ou a ausência dela) em sala de aula pode gerar resultados diferentes de acordo com as vivências de cada criança, convidamos pessoas com deficiência auditiva e alguns pais de alunos para contarem sobre suas experiências com o período escolar. Juntamente com a participação da fonoaudióloga Larissa Coutinho Fonseca, associamos os relatos às principais orientações que geralmente são passadas pelos profissionais da saúde para se lidar com a deficiência auditiva nas escolas, construindo assim um panorama da realidade brasileira da surdez em sala de aula, que pode ser conferido a seguir.
A escolha do método de reabilitação auditiva
Uma das primeiras questões que surgem aos pais quando descobrem uma deficiência auditiva severa ou profunda no seu filho diz respeito à que tipo de método de reabilitação escolher: oralista, sinalizado (LIBRAS) ou o bilinguismo. A escolha, muitas vezes, vai depender da flexibilidade de adaptação da criança, da família e do meio em que convivem. Há toda uma polêmica em torno desta questão, com a polarização do Oralismo e da LIBRAS como se fossem polos antagônicos e com dualidades insuperáveis.
A fonoaudióloga Larissa, assim como outros profissionais da atualidade, defende uma integração das técnicas, dando uma opção de escolha à própria criança, oferecendo a ela conhecimentos para que tenha oportunidade de perceber qual será o método em que melhor se adaptará socialmente. “Sou uma Fono que sabe LIBRAS. E, na minha prática clínica, ela sempre me ajudou. A Língua de Sinais não impede o aprendizado da língua oral. Pelo contrário, favorece para que ela seja adquirida mais rapidamente”, explica Larissa.
Tentar impor à criança um ou outro método, sem verificar se ele é bem aceito por ela e se supre as suas necessidades de socialização, pode ocasionar uma má adaptação da criança ao seu ambiente social, originando sentimentos de isolamento e até mesmo depressão. Aline Cordeiro, que possui surdez profunda desde o nascimento, conseguiu ser perfeitamente oralizada apenas com os AASI e leitura labial, só recebendo seu IC aos 21 anos. Apesar de todas as suas adaptações na escola, como sentar perto do professor e ler lábios, Aline diz que o sentimento de exclusão sempre a acompanhou, pois não conseguia participar de conversas em grupos com os colegas. Então, com 15 anos, decidiu aprender LIBRAS em uma escola para surdos, e esse idioma a ajudou muito em sua socialização. “Eu prefiro conversar em LIBRAS quando estou em grupo. A conversa flui naturalmente, você capta tudo. Já numa conversa com mais pessoas ouvintes, se torna um pouco mais difícil acompanhar tudo apenas com leitura labial”, conta.
Já Élen Muzy, que adquiriu surdez profunda aos 11 anos, em decorrência de uma meningite, e só foi implantada aos 18, preferiu continuar apenas na oralidade durante toda a sua vida escolar, por só ter contato com ouvintes. “Poucas pessoas sabem LIBRAS. Eu me relacionaria apenas com eles. Naquela época, década de 90, era pior. Meus pais e as pessoas que conviviam comigo iriam ter que aprender também. E aqui onde moro não conhecia ninguém que sabia”, explica.
Para as crianças que recebem o Implante Coclear antes de iniciarem a sua alfabetização, a adaptação à oralidade tende a ser mais fácil. Andréa Sobral, mãe de Maryana (foto), de 5 anos e implantada bilateralmente, conta sobre o comportamento social de sua filha. “Não vejo dificuldade alguma na socialização da Maryana, ela é uma criança muito comunicativa, e isso ajuda muito no dia a dia dela. Na escola, é cercada de amigos e amigas, quando vou buscá-la no colégio sempre está com alguma criança brincando. A professora conta que ela é muito participativa, e está na fase dos porquês, deixa todo mundo louco com tantas perguntas”, diz.
O possível isolamento das crianças com surdez
A criação e a personalidade da criança, e como esta reage às limitações da surdez, também contam muito no seu desenvolvimento e socialização. Marcelo de Paula, que adquiriu surdez profunda aos 8 anos e só recebeu o IC aos 25, diz que sempre foi comunicativo na escola, e que sua deficiência auditiva nunca provocou seu isolamento. A psicólogaRaquel Cassoli explica as variáveis envolvidas nesse processo. “Existem crianças que são mais tímidas e retraídas, e isto é parte da personalidade delas. É preciso lembrar que a forma como socializamos faz parte do repertório de habilidades sociais desenvolvidos entre nossos pares, família e escola, que é valorizado pela nossa cultura. A criança com tendência ao isolamento tem que ser cuidadosamente observada, algumas se isolam por não se sentirem parte do grupo e para “se machucarem menos” evitam determinadas situações e buscam contato em situações mais seguras”, afirma.
Portanto, uma das recomendações mais passadas aos pais e professores de crianças com deficiência auditiva é que eles busquem estimular o contato social dos pequenos. A fono Larissa orienta principalmente aos professores: “Verifique se o aluno procura ou é procurado por seus colegas para brincar, conversar, lanchar, se ele está envolvido em relacionamentos mais extensos de amizade, dentro ou fora da sala de aula. É imprescindível que todos os colegas e os professores dos alunos com perda auditiva conversem normalmente. O professor tem um papel muito importante no acesso, na construção e no aprimoramento da linguagem oral do aluno, portanto, converse, conte histórias, pergunte, explore ao máximo o uso da língua oral na sala de aula e lembre-se de garantir a compreensão do que é dito. Exemplifique, mostre ao aluno sobre o que você ou os outros alunos estão falando. Com isso, o aluno com perda auditiva se sentirá seguro para se expor frente a todos na escola”.
Mas a realidade do contato social em sala de aula costuma ser outra, principalmente para deficientes auditivos que não usam Implante Coclear. Eu mesma, Ana Raquel, tenho Neuropatia Auditiva de grau moderado e dificilmente consigo conversar durante as aulas da faculdade. A prática da leitura labial limita drasticamente o número de interlocutores de uma conversa que conseguimos acompanhar. Toda nossa atenção, visual e auditiva, tem que se dirigir a quem está falando, então frequentemente somos obrigados a decidir em quem focar, nos colegas ou no professor. No meu caso, na maioria das vezes minhas interações sociais nesse ambiente são sacrificadas em nome do aprendizado do curso.
Por isso, grande parte dos estudantes com surdez busca refúgio na leitura ao invés de participar de rodas de conversas em grupos. Silvana Nev dos Santos, que só recebeu o IC na vida adulta, conta sobre como viveu seu período escolar. “Fui para a escola já para alfabetização, aprendi a ler rapidamente. Sempre fui muito tímida e à parte do que acontecia na sala de aula. A primeira lembrança que tenho foi de tentar tirar uma dúvida com a professora e todos riram na sala. Provavelmente a pergunta não tinha a ver com o assunto. Na hora do intervalo, eu sempre ia para a biblioteca ler. Sempre fui muito reservada, sabia que havia algo errado, mas para mim era normal não entender direito o que falavam. Mas até hoje não sou muito sociável. Como li outro dia, a surdez nos afasta das pessoas”, diz.
Rodrigo Andrade Rabelo também nos conta sobre sua vida escolar e compara seu comportamento de antes e depois de receber um IC. “Eu perdi a audição quando estava na segunda série do ensino fundamental. Nos anos seguintes, fiz uso de aparelhos auditivos convencionais e tentava me virar através da leitura labial, algo que não tive dificuldades de aprender. Em relação as minhas dinâmicas com os colegas, eu era muito retraído, fechado, acho que alguém que me conheceu naquela época pode até se surpreender ao saber que eu me tornei jornalista, publicitário e ainda arrisco umas aulas de canto nas horas vagas. Eu quase não falava com ninguém, não era estimulado pelos professores a interagir com os coleguinhas, basicamente só tive dois amigos na época. Quando entrei na faculdade, eu já tinha feito o Implante Coclear, na mesma época em que comecei a me preparar para as maratonas de vestibulares. E o que noto é uma mudança de mão dupla: minha perspectiva em relação ao mundo que me cercava, tinha um maior domínio dos sons, uma maior compreensão de estar situado em um mundo movido à comunicação, a sons, uma maior autoestima, e também notei uma maior abertura por parte dos meus professores universitários e dos meus colegas”.
(...)
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Bom feriado e bom descanso!!