sábado, 10 de outubro de 2015

Amor e cuidado.

Caso 1.
Em 2014, um garoto de 10 anos teve o braço dilacerado por um tigre num zoológico no Paraná. O garoto ultrapassou a linha de segurança estabelecida pelo local e brincava com o tigre, como se fosse um animal doméstico, apesar de outros visitantes terem alertado o garoto de que isto pudesse ser perigoso. A notícia teve grande repercussão, devido ao fato de as imagens do garoto brincando com o animal terem sido registrada por outros visitantes do lugar. O pai que estava junto com o garoto não viu perigo nas atitudes do filho e entendemos que foi permissivo em relação a isto. O garoto não estava sozinho.
Muitos debates surgiram no universo materno depois deste acontecimento. A polícia responsabilizou o pai pelo ocorrido e o pai defende-se dizendo que faltou segurança do lugar, no caso o zoológico. O fato é que quando a criança está acompanhada de um adulto, supõe –se que este seja responsável pelo menor de idade. E que no caso deste menino, os visitantes tirarem o menino do local inapropriado não faria qualquer diferença, uma vez que o pai estava junto e a criança respeita e obedece a ele.

Caso 2:
No nosso prédio tem um parquinho. No parquinho tem um aviso: “É proibido o uso dos brinquedos por crianças a partir dos 10 anos de idade”.  Segundo os moradores mais antigos, o condomínio construído em 1977 nunca teve seus brinquedos trocados, eles são reformados, soldados (sim, são antigos e são de ferro) e pintados a cada ano, mas não são substituídos. É possível ver a quantidade de tinta que já foi passada, é visível o desgaste, a ferrugem e é prudente obedecer a norma. Isto já deveria ser motivo suficiente para que as crianças maiores não usem, e outro fato é que o balanço, o gira-gira, trepa-trepa e a casinha não possuem tamanhos compatíveis para as crianças maiores.
Dois meses atrás meu marido desceu com as crianças para o parquinho e um garoto que, visivelmente, possui 10 anos ou mais brincava no balanço, como costuma ser nosso habito, lembramos as crianças mais velhas o limite de idade e de que os brinquedos podem quebrar. O garoto fingiu que não ouviu e meu marido insistiu na orientação. Duas semanas depois do ocorrido a mãe do garoto me aborda no elevador e passa a gritar dizendo que não temos o direito de repreender e de coagir o filho dela. Disse que apenas observamos as normas de utilização dos brinquedos e ela mal me deixou concluir a frase, esbravejou que o filho tem o direito de brincar onde quiser, que se ele quebrar algo ela paga. Que ele tem idade para sair sozinho e assim será.

Fiquei triste por perceber que as crianças estão desamparadas pelos adultos. A atitude desta mãe é perigosa no sentido de dar poder ao filho que ainda não sabe como usá-lo, ao mesmo tempo que o abandona. Se ele quebrar o brinquedo do parquinho qualquer dinheiro pagará pelo conserto, mas se ele tiver um braço arrancado não haverá dinheiro para compensar a falta de orientação.
Sei que muitos dirão que aos 10 anos o garoto já pode sair para brincar sozinho, mas o quanto o pode ser responsável por seus próprios atos? Quanto de discernimento ele tem sobre o que é perigoso?
Como psicóloga digo que muito pouco.
Desde 2007 o Conselho Federal de Psicologia tem se posicionado contra a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, por entendermos que os adolescentes são adultos em formação, embora tenham discernimento para votar, não são completamente cientes de suas responsabilidades perante a lei. O carro para um adolescente de 16 anos pode ser uma arma potencial e mesmo sendo proibido, sabemos que muitos burlam a lei e se envolvem em acidentes. Se aos 16 sabemos que os jovens não estão preparados para estas responsabilidades tenho total segurança em dizer que aos 10 anos também não estão. Os pais querem dar autonomia aos filhos, mas penso que esta autonomia deve ser vigiada.

Posso parecer protetora demais, mas amar é cuidar, é estar junto, é saber confiar e desconfiar. É saber falar não, ensinar autonomia com segurança. 
As vezes a pressa em ver o filho crescer pode ser prejudicial. 

sábado, 4 de julho de 2015

Uma ideologia perversa

Olá á todos, estou num momento muito turbulento de estudos para o doutorado e nestes estudos encontrei este texto ótimo da Marilena Chaui. Para pensarmos a violencia que vivemos atualmente: racismo, intolerancia religiosa, redução da maioridade penal... Vamos refletir sobre isso.
Boa leitura. 


P.S.: Acredito que esta publição tenha sido feita originalmente no Jornal Folha de São Paulo.

Uma ideologia perversa

Explicações para a violência impedem que a violência real se torne compreensível
(14/3/1999)
MARILENA CHAUI


Embora "ta ethé" e "mores" signifiquem o mesmo, ou seja, costumes e modos de agir de uma sociedade, entretanto, no singular "ethos" é o caráter ou temperamento individual que deve ser educado para os valores da sociedade, e "ética" é aquela parte da filosofia que se dedica à análise dos próprios valores e das condutas humanas, indagando sobre seu sentido, sua origem, seus fundamentos e finalidades. Sob essa perspectiva geral, a ética procura definir, antes de mais nada, a figura do agente ético e de suas ações e o conjunto de noções (ou valores) que balizam o campo de uma ação que se considere ética. 



O agente ético é pensado como sujeito ético, isto é, como um ser racional e consciente que sabe o que faz, como um ser livre que decide e escolhe o que faz e como um ser responsável que responde pelo que faz. A ação ética é balizada pelas idéias de bem e mal, justo e injusto, virtude e vício. 



Assim, uma ação só será ética se consciente, livre e responsável e será virtuosa se realizada em conformidade com o bom e o justo. A ação ética só é virtuosa se for livre e só o será se for autônoma, isto é, se resultar de uma decisão interior do próprio agente e não de uma pressão externa. Evidentemente, isso leva a perceber que há um conflito entre a autonomia da vontade do agente ético (a decisão emana apenas do interior do sujeito) e a heteronomia dos valores morais de sua sociedade (os valores são dados externos ao sujeito). 



Esse conflito só pode ser resolvido se o agente reconhecer os valores de sua sociedade como se tivessem sido instituídos por ele, como se ele pudesse ser o autor desses valores ou das normas morais, pois, nesse caso, ele será autônomo, agindo como se tivesse dado a si mesmo sua própria lei de ação.



Enfim, a ação só é ética se realizar a natureza racional, livre e responsável do sujeito e se este respeitar a racionalidade, liberdade e responsabilidade dos outros agentes, de sorte que a subjetividade ética é uma intersubjetividade socialmente determinada.



Sob essa perspectiva, ética e violência são opostas, uma vez que violência significa: 



1) tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser (é desnaturar); 
2) todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar); 
3) todo ato de violação da natureza de alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade (é violar); 
4) todo ato de transgressão contra o que alguém ou uma sociedade define como justo e como um direito. 



Consequentemente, violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror. A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e de liberdade, como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis, mudos e inertes ou passivos.



Ora, vivemos, no Brasil, uma situação paradoxal: de um lado, grita-se contra a violência e pede-se um "retorno à ética" e, de outro, são produzidas imagens e explicações para a violência tais que a violência real jamais possa se tornar visível e compreensível. 
De fato, a violência real é ocultada por vários dispositivos: 



1) Um dispositivo jurídico, que localiza a violência apenas no crime contra a propriedade e contra a vida; 
2) um dispositivo sociológico, que considera a violência um momento de anomia social, isto é, como um momento no qual grupos sociais "atrasados" ou "arcaicos" entram em contato com grupos sociais "modernos", e, "desadaptados", tornam-se violentos; 3) um dispositivo de exclusão, isto é, a distinção entre um "nós brasileiros não-violentos" e um "eles violentos", "eles" sendo todos aqueles que, "atrasados" e deserdados, empregam a força contra a propriedade e a vida de "nós brasileiros não-violentos"; e 
4) um dispositivo de distinção entre o essencial e o acidental: por essência, a sociedade brasileira não seria violenta e, portanto, a violência é apenas um acidente na superfície social sem tocar em seu fundo essencialmente não-violento -eis por que os meios de comunicação se referem à violência com as palavras "surto", "onda", "epidemia", "crise", isto é, termos que indicam algo passageiro e acidental.



Dessa maneira, as desigualdades econômicas, sociais e culturais, as exclusões econômicas, políticas e sociais, o autoritarismo que regula todas as relações sociais, a corrupção como forma de funcionamento das instituições, o racismo, o sexismo, as intolerâncias religiosa, sexual e política não são considerados formas de violência, isto é, a sociedade brasileira não é percebida como estruturalmente violenta e por isso a violência aparece como um fato esporádico superável.



Construída essa imagem da violência, espera-se vencê-la com o "retorno à etica", como se a ética não fosse uma maneira de agir e sim uma coisa que estivesse sempre pronta e disponível em algum lugar e que perdemos ou achamos periodicamente. 



Que se entende por essa ética à qual se pretenderia "retornar"? Três são seus sentidos principais: aparece, primeiro, como reforma dos costumes e restauração de valores passados e não como análise das condições presentes de uma ação ética. A ética é, aqui, tomada sob uma perspectiva conservadora (e mesmo reacionária) e incumbida de promover o retorno a um bom passado imaginário. 



A seguir, surge como multiplicidade de "éticas" (ética política, ética familiar, ética escolar, ética de cada categoria profissional, ética do futebol, ética da empresa), portanto desprovida de qualquer universalidade e entendida como competência específica de especialistas (as comissões de ética).




Aqui, confunde-se ética e organização administrativas, isto é, a ética é tomada como um código de condutas que define hierarquias, cargos e funções das quais dependem responsabilidades funcionais para o bom andamento de uma organização. Além de confundir-se com a funcionalidade administrativa, a pluralidade de éticas também exprime a forma contemporânea da alienação, isto é, de uma sociedade totalmente fragmentada e dispersa que não consegue estabelecer para si mesma nem sequer a imagem da unidade que daria sentido à sua própria dispersão.



A esses dois sentidos, acrescenta-se um terceiro no qual a ética é entendida como defesa humanitária dos direitos humanos contra a violência, isto é, tanto como comentário indignado contra a política, a ciência, a técnica, a mídia, a polícia e o Exército quanto como atendimento médico-alimentar e militar dos deserdados da terra. 



A ética, aqui, não só se confunde com a compaixão como ainda permanece cega às condições materiais da sociedade contemporânea, na qual há uma contradição surda entre o desenvolvimento tecnológico ou o trabalho morto cristalizado no capital e o trabalho vivo, de tal maneira que o desenvolvimento tecnológico torna inútil e desnecessário o trabalho vivo. Em outras palavras, pela primeira vez na história universal a economia declara que a maioria dos seres humanos é desnecessária e descartável, pois, na economia contemporânea, o trabalho não cria riqueza, os empregos não dão lucro, os desempregados são dejetos inúteis e inaproveitáveis. 



Ora, o "retorno à ética" pretende manter a idéia de que o trabalho é a condição da moralidade e da virtude, o Bem, um dever moral e sacrossanto e por isso mesmo culpabiliza os desempregados e subempregados por sua situação, não cessa de humilhá-los e ofendê-los e de considerá-los portadores da violência.



Nem por isso, entretanto, a ética tomada como compaixão pelos deserdados supera a alienação social e a violência. Em primeiro lugar, porque o sujeito ético ou o sujeito de direitos está cindido em dois: de um lado, o sujeito ético como vítima, como sofredor passivo, e, de outro lado, o sujeito ético piedoso e compassivo que identifica o sofrimento e age para afastá-lo. 



Isso significa que, na verdade, a vitimização faz com que o agir ou a ação fique concentrada nas mãos dos não-sofredores, das não-vítimas que devem trazer, de fora, a justiça para os injustiçados. 
Estes, portanto, perderam a condição de sujeitos éticos para se tornar objetos de nossa compaixão e, consequentemente, para que os não-sofredores possam ser éticos é preciso duas violências: a primeira, factual, é a existência de vítimas; a segunda, o tratamento do outro como vítima sofredora passiva e inerte. Além disso, a imagem do Mal e a da vítima são dotadas de poder midiático: são poderosas imagens de espetáculo para nossa indignação e compaixão, acalmando nossa consciência. Precisamos das imagens da violência e do Mal para nos considerarmos sujeitos éticos.



Em segundo lugar, porque, enquanto na ética é a idéia do bem, do justo e do feliz que determina a autoconstrução do sujeito ético, na ideologia ética é a imagem do mal que determina a imagem do bem, isto é, o bem torna-se simplesmente o não-mal (não ser ofendido no corpo e na alma, não ser maltratado no corpo e na alma é o bem).



O bem se reduz à mera ausência de mal ou à privação de mal, deixando de ser algo afirmativo e positivo para tornar-se puramente reativo. Eis por que o "retorno à ética" é inseparável da ideologia do consenso, uma vez que enfatiza o sofrimento individual e coletivo, as corrupções política e policial por que tais imagens conseguem obter o consenso da opinião: somos "éticos" porque todos contra o Mal. 



A contrapartida dessa ideologia é clara: não nos perguntem sobre o Bem, pois este divide as opiniões, e a "modernidade", como se sabe, é o consenso.



A ética como ideologia significa que em vez de a ação reunir os seres humanos em torno de idéias e práticas positivas de liberdade e felicidade, ela os reúne pelo consenso sobre o Mal, e essa ideologia é duplamente perversa: por um lado, procura fixar-se numa imagem do presente como se este não só fosse eterno, mas sobretudo como se fosse destino, como se existisse por si mesmo e não fosse efeito das ações humanas; em suma, reduz o presente ao instante imediato, sem memória e sem porvir. 



Por outro lado, procura mostrar que qualquer idéia positiva do bem, da felicidade e da liberdade, da justiça e da emancipação humana é o Mal. 



Em outras palavras, considera que as idéias modernas de racionalidade, sentido da história, abertura temporal do possível pela ação humana, objetividade, subjetividade teriam sido responsáveis pela infelicidade do nosso presente, cabendo tratá-las como mistificações totalitárias.



A ética como ideologia é perversa porque toma o presente como fatalidade e anula a marca essencial do sujeito ético e da ação ética, isto é, a liberdade como atividade que transcende o presente pela possibilidade do futuro como abertura do tempo humano.



sexta-feira, 19 de junho de 2015

O valor de ser professor.

Em 2006 tive minha primeira turma numa disciplina na Pós-Graduação, era psicóloga escolar em um colégio, não tinha experiência como professora, apesar de ter Licenciatura em Psicologia. Já estava habituada a fazer algumas palestras, especialmente para as turmas de Administração de Empresas para falar sobre como se portar em entrevistas de emprego, tema que adquiri certa experiência como consultora em uma empresa de recrutamento e seleção. Dar aulas não é o mesmo que dar palestra. A palestra você tem um tema que será falado para 10 grupos diferentes. Já as aulas costumam ser 10 temas para o mesmo grupo durante um semestre ou 2 meses.

Preparei o conteúdo com auxílio de um colega mais experiente, preparei os power points, me enchi de coragem e fui. Não agradei, a turma tinha uma expectativa diferente sobre a disciplina, não queriam teoria, não queriam saber exatamente da pratica, não da forma como o curso havia sido estruturado. Foi um começo difícil e ainda assim encarei a mesma turma em outra disciplina.
Quando me mudei para São Paulo, depois de diversas negativas para trabalhar como psicóloga escolar, resolvi tentar a docência como carreira. E nunca me senti tão realizada como tenho sido desde 2008. No primeiro semestre contabilizei 700 alunos, no segundo semestre 900, depois disso parei de contar, era assustador pensar que num final de semana eu corrigia essa quantidade de provas. Sem fazer contas exatas, desde 2008 mais de 5000 pessoas foram meus alunos, as vezes isso é um pensamento perturbador. É bastante trabalho. Perceber que o aluno está aprendendo, o fato em si, já é fantástico. Sentir que tocou a vida daqueles alunos de uma maneira humana é espetacular. Claro que no meio do caminho tem o aluno indiferente, o indiferente é o mais difícil. Nunca sabemos o que ele está pensando, se está realmente acompanhando a aula. Se o aluno discordar do que eu falo acho positivo, confio plenamente nos meus argumentos e no que ensino. Existem aqueles alunos que gostam de reclamar, reclamam da aula, do professor, e esses reclamam também da nota, porque geralmente não estudam, mas já tive aluno que teve a ousadia de reclamar da bibliografia da disciplina e questionar isto com a coordenação do curso. Tudo isto fica pequeno com o reconhecimento dos outros.

Vou esclarecer que os Professores precisam de bons salários independentemente do nível de ensino que lecionam, afinal investimos em nossa formação, dedicamos horas de preparo de aula, de exercício e de provas, além das correções, que ao meu ver estão além das horas adicionais remuneradas, e temos contas para pagar como qualquer mortal, estou deixando isto claro, porque não gosto do discurso de optar pela docência “por amor”. O reconhecimento e a gratidão dos alunos é uma das partes que compõem a realização do professor e é sobre isso que quero falar agora.

São vários sinais que recebo que fazem com que eu pense que sou uma boa professora: os alunos ficarem felizes quando me reencontram em um novo semestre. Terminarem o semestre querendo saber quando será a próxima disciplina que estaremos juntos. A aula ter alguns momentos de descontração, afinal o conteúdo é importante, mas é preciso levar reflexão sobre temas atuais e tornar a teoria o mais próximo da pratica possível. Ver que ex-alunos, agora colegas que estão seguindo na profissão, fazendo pós-graduação e especialmente quando recebo essas notícias pelos próprios.  E-mails, whatsapp, Instagram, facebook, mensagem de texto que carregam poucas palavras e boas doses de carinho:
Professora, estou estudando e lembrei de você, que saudade da suas aulas. ”
Professora, passei num concurso e estou aguardando ser chamada, obrigada pela torcida
Professora, entrei no Mestrado na PUC, obrigada pelo incentivo, será que a gente se encontra pra tomar um café?
Professora, estou fazendo um curso perto da PUC, quinzenal, vamos nos encontrar para tomar um café?
Estou assistindo ´Escritores da liberdade` não tem como não lembrar de você. Hehe

Isso é um pouco do carinho que recebo, devo ter outros e-mails com notícias de famílias que cresceram, encontros nos Congressos de Psicologia, de sucesso ou dificuldade na profissão e alguns convites atendidos para ser homenageada em formaturas. Sem falar dos que viraram amigos pessoais com direito a almoço anual no rodízio Japa, ou cafés por aí.

Na verdade, fiquei assim surpresa porque recebi no mês passado (mas só li nesta semana) um e-mail muito grato de uma aluna, que apesar se sentar sempre na frente em minhas aulas, geralmente mostrava uma atitude questionadora em relação ao conteúdo, com a autorização dela reproduzo a mensagem aqui:
Boa noite Raquel,
 Fui sua aluna na Uninove, sei que muitos alunos passaram em sua vida, por isso achei melhor enviar uma foto em anexo para que se recorde, afinal, sempre é bom sabermos quem nos dirige a palavra, não é? O motivo do meu contato é para agradecê-la por apontar algo tão relevante socialmente, ainda que caminhe contra a opinião pública, consegue manter pontualmente a crítica sobre a questão da diminuição da maioridade penal. Por muito tempo fui a favor, cheguei publicar algo no facebook (não achei a publicação, gostaria de apagar). Hoje percebo a importância de a vida ser movimento, dos debates (e não embates) sobre os temas cruciais da sociedade, onde todos nós estamos inseridos.
 A psicologia tem o papel fundamental na articulação com o Estado nas Políticas Públicas, mantendo-se ativa nos posicionamentos reflexivos que reverberam nas tomadas de consciência com a práxis da estrutura e conjuntura social. O amadurecimento permite reconhecer o erro, a cegueira funcional, o estado de ignorância que eu me encontrava. Após algumas pesquisas, consegui sair do estado de entorpecimento, e lancei o olhar para a complexidade contextual, antagonizando a visão linear que me prendia apenas ao desejo de punição do adolescente infrator. Continuo sentindo o repúdio das ações de barbárie, mas, entendo de maneira mais clara que não adianta trabalhar com punição como medida imediata, e sim com medidas socioeducativas sobre a responsabilização do ato praticado do menor, afinal, quando não se alcança a causa, não haverá solução efetiva. Busquei conhecer mais o sistema penitenciário, os efeitos socioeconômicos e psicológicos, agora posso dizer que eu tinha uma visão descolada do todo, o que gerava visão distorcida, isto é, uma pequena verdade retirada do "todo", torna-se uma mentira. Mentira esta, que repetida diversas vezes, avolumada com o ódio e indignação humana, propagada rapidamente nas redes sociais, incorre ao erro de termos uma mentira travestida de "verdade".
Mais uma vez gostaria de agradecê-la, por ter plantado uma sementinha dentro de mim, agora ela germinou, e na medida do possível multiplicarei o pensamento contrário à diminuição da maioridade penal, desta vez, com mais veemência, pois estamos todos atravessados na onda crescente e avassaladora da violência que tem devastado muitas vidas seja da "vítima - menor infrator" ou "vítima - cidadão).
OBRIGADA!!! Adriana Ramos
Respondi a ela  agradecendo e pedindo autorização para publicar e ainda recebi outra resposta: “Claro que autorizo a publicação, pode ser da maneira que achar melhor, entendo perfeitamente a luta e os entraves decorrentes do pensamento que vai contra a maioria. Mas, acredito que assim como eu mudei de ideia, outras pessoas possam mudar.
Agradeço também suas palavras que chegaram no momento em que mais precisava! Continue sua luta nos debates de ideias, pois elas são louváveis, ideias estas, que ainda que densas, consegue transmitir de maneira sutil, com a sua marca registrada, que é este sorrisão espontâneo!

Eu é que sou grata a você, Adriana, por me mostrar que plantamos sementes que florescem e frutificam, enquanto a sociedade pensa que nós professores não valemos nada, e somos repreendidos ou ignorados por reivindicar melhores salários.
Minha gratidão eterna ao carinho dos meus alunos e ex-alunos, que aquecem meu coração com mensagens, e-mails e boa disposição para o novo, para o diferente, para o bem-estar da humanidade, são vocês quem mantêm meu bom humor, minha fé e minha disposição.


Desejo que possam sentir tão realizados profissionalmente quanto eu.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

A contribuição da Psicologia para solucionar /administrar conflitos em hospitais numa provável crise da água.

No dia 29/04/2015 tivemos um ciclo de palestras sobre a Crise nos Recursos Hidricos na UNIPAULISTANA. Foi um evento fechado apenas para alunos da instituição, especialmente os alunos do curso de Administração e Gestão Hopitalar. Como professora da disciplina Psicologia Social e das Organizações palestrei sobre como Administrar ou solucionar conflitos frente a crise da água. Minha fala foi curta, cerca de 20 minutos, e o conteudo virou um artigo (não academico) que sairá no jornalzinho e site interno da UNIPAULISTANA. Segue foto do evento e o artigo da minha fala.



A contribuição da Psicologia para solucionar /administrar conflitos em hospitais numa provável crise da água.

Por: Profa. Ms. Raquel Alves Cassoli

A preocupação com os recursos ambientais no mundo tem sido cada vez maior, as reuniões mundiais organizadas pela Organização das Nações Unidas buscam acordos internacionais e compromisso entre os países para a preservação dos recursos naturais no planeta. Duas das principais reuniões realizadas foram em Estocolmo em 1972 e no Rio em 1992 e entre as metas assumidas estavam o compromisso com o desenvolvimento sustentável. Essas preocupações foram potencializadas pelas alterações climáticas e especialmente no estado de São Paulo, que tem vivido verões secos e, com a falta de água, racionamento e rodízio no fornecimento desta. O que observamos é uma pequena sensação de pânico entre as pessoas que passaram a buscar serviços de poços artesianos e caminhões pipa. As organizações, especialmente as que lidam com a saúde como clinicas e hospitais precisam estar preparadas para uma provável falta de água. Como a psicologia pode ajudar neste momento?

Primeiramente gostaria de falar a vocês o que faz a Psicologia nas organizações de uma maneira generalizada.  A Psicologia é uma ciência que estuda o fenômeno psicológico, seja a subjetividade, que são os pensamentos, os sentimentos e as experiências representadas internamente, como também a objetividade expressa através do comportamento humano. A Psicologia é dividida em diferentes áreas de atuação e dentro das organizações de saúde possivelmente contamos com dois profissionais diferentes são eles: o psicólogo da saúde ou hospitalar que cuida da saúde das pessoas como um todo e no caso de um hospital, cuida das demandas especificas deste lugar. E O Psicólogo Organizacional é o profissional da área da psicologia que estuda o comportamento humano das pessoas nas organizações e o comportamento da própria organização. De modo mais detalhado : a forma como se relaciona e como se sentem os profissionais, agindo para auxiliar a organização na definição dos melhores perfis para atuarem dentro da organização, conduzir uma analise para solucionar um problema organizacional,   avaliação de desempenho dos funcionários e equipe, desenvolver a avaliar programas de treinamento que melhor correspondam aos objetivos organizacionais, preparando lideres e subordinados para as transformações que também são necessárias as empresas, assim como implementar sistemas de bonificação e gratificação aos bons funcionários. Afinal a empresas também se movimentam nos mercados e através  dos tempos.

Será que existe estabilidade seja ela no emprego ou nas mudanças sociais e climáticas, políticas ou econômicas? Não, não existe estabilidade. O mundo está em constante movimento e coloca às empresas e às pessoas constantes desafios e transformações para se adaptar as novas realidades, sempre, cada vez numa velocidade maior.

No caso dos recursos ambientais, quase fomos tomados por uma surpresa, apesar de ter sido noticiado em 2010 que o estado de São Paulo poderia viver uma crise nos recursos hídricos, essas manchetes foram praticamente ignoradas pela população, que não trabalhou para o processo de reeducação para melhor aproveitamento e economia da água.

Quem diria que o Brasil viveria uma crise nos recursos hídricos de forma tão precoce?
De acordo com relatório do Senado federal: “O Brasil detém cerca de 12% da água doce superficial disponível no Planeta e 28% da disponibilidade nas Américas. Possui ainda, em parte de seu território, a maior reserva de água doce subterrânea, o Aquífero Guarani, com 1,2 milhão de quilômetros quadrados. Entretanto, a distribuição geográfica desses recursos – superficiais ou subterrâneos – é bastante irregular. A região Norte, com 8,3% da população, dispõe de 78% da água do País, enquanto o Nordeste, com 27,8% da população, tem 3,3%.
A crise de água não é consequência apenas de fatores climáticos e geográficos, mas principalmente do uso irracional dos recursos hídricos. Entre as causas do problema figuram: o fato de a água não ser tratada como um bem estratégico no País, a falta de integração entre a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e as demais políticas públicas, os graves problemas na área de saneamento básico e a forma como a água doce é compreendida, visto que muitos a consideram um recurso infinito. Para preservar os corpos hídricos e garantir o acesso a eles, o Brasil terá de promover uma gestão eficiente, que busque a equalização inter-regional e intertemporal da água.Temos uma crise, não por problemas climáticos, como alguns meios de comunicação insistem em dizer, mas por falta de planejamento, foco e educação para melhor gerir esses recursos. 

Mas vamos então desmembrar a palavra crise, porque toda vez que pensamos em crise, pensamos, apenas em momentos difíceis.  O significado de crise é, de acordo com o dicionário Aurélio: 1. é uma mudança súbita ou agravamento que sobrevém no curso de uma doença aguda. 2 Manifestação súbita de um estado emocional ou nervoso.3 Conjuntura ou momento perigoso, difícil ou decisivo.4 Falta de alguma coisa considerada importante.5 Embaraço na marcha regular dos negócios. Ou 6 Desacordo ou perturbação que obriga instituição ou organismo a recompor-se ou a demitir-se. A palavra crise vem do latim crisis que significa momento de decisão, mudança súbita.

Vamos ver o que disseram os pensadores e cientistas sobre CRISE.
Crises - não são uma situação temporária, mas um caminho para a vida interior" - Vigotski.
 "Em momentos de crise, só a imaginação é mais importante que o conhecimento." 
(Albert Einstein)
"Quando escrito em chinês a palavra crise compõe-se de dois caracteres: um representa perigo e o outro representa oportunidade." (John F. Kennedy)
Temos algumas lições a extrair destas frases: precisamos avaliar como vivemos e agimos, precisamos ser criativos e precisamos criar oportunidades. Então a crise é uma situação que exige uma decisão, exige mudanças, é o momento em que temos que mudar de rumo. Na medicina se configura como o momento em que o paciente apresenta um quadro que o médico define o tratamento que pode levá-lo á cura ou lhe trazer a morte. Na economia é a fase de transição entre um surto de prosperidade e outro de depressão. Neste momento já estamos vivendo uma crise e antes de atingirmos um ponto realmente difícil podemos realizar algumas mudanças para garantir o bom consumo da água.
Como diz o poeta Edson Marques, em um poema chamado MUDE que diz “ MUDE, mas comece devagar pois a direção é mais importante que a velocidade”.

Até aqui parece muito tranquilo, mas tem uma coisa com a qual não contamos, os seres humanos criam uma rotina e uma vida cotidiana, onde simplesmente acham muito difícil mudar. Se eu pedisse para vocês mudarem o lugar onde estão sentados agora, levante a mão quem ficaria completamente confortável para mudar de lugar?
Poucos ou ninguém. Mas vou dizer a vocês nada na vida de vocês nada permanece de forma estática, vocês mesmo são outras pessoas, diferentes das que eram na semana passada, diferentes de ontem, então é preciso, se quiserem viver bem nos dias de hoje, observar as mudanças que ocorrem a nossa volta e mudar com elas. Por isso, saibam lidar com a diversidade e garantam em ter na equipe de trabalho pessoas flexíveis que aceitem mudanças com facilidade e saibam trabalhar em grupo. Neste ponto um bom projeto de recrutamento e seleção garante que o perfil adequado estará com você.
Para não termos lidar com mudanças drásticas no caso de falta de água num hospital ou numa instituição de saúde algumas mudanças precisam ser instaladas antecipadamente, ou seja, vamos devagar, mas com foco no que precisa ser modificado.

O Governo do Estado de SP noticiou que em caso de falta d´água, hospitais e escolas tinham prioridades no abastecimento, mas ainda assim, sem a mudança no comportamento esses lugares estariam correndo riscos.  A primeira coisa a se fazer é a gestão ter definido, antes de uma provável falta, quais são as prioridades no atendimento ou no uso da água.  A gestão precisa fazer um planejamento.

O que vai garantir o bom desempenho é: planejamento de prevenção, isto significa, divulgar a informação, desenvolver ações planejadas em treinamento.
 O sucesso no caso de um incêndio, em qualquer instituição, depende do preparo da equipe e do treinamento da brigada de incêndio. Geralmente a brigada faz um treinamento intensivo para evitar o pânico das pessoas no caso de um incêndio. Soam se os alarmes para simular uma situação de incêndio, as equipes evacuam o prédio  e isto garante que todos saibam o que fazer em caso de um incêndio real.

Um exemplo que temos de sucesso nos momentos de crise e no atendimento de emergência é o Japão, que tem população aproximada de 126,9 milhões de pessoas. Em 2011 um terremoto de 9 graus na escala Richter, o quarto pior do mundo, As ondas invadiram a cidade e provocaram mortes e a destruição de casas e ruas. Milhões de residências ficaram sem energia elétrica, cerca de 80 estabelecimentos foram incendiados e houve vazamento de material radioativo de uma usina nuclear. Autoridades japonesas divulgaram que 9.079 pessoas morreram e milhares ficaram feridas. Esses danos só não foram piores porque o país possui construções de boa qualidade e realiza treinamentos (simulações) com a população de como agir durante terremotos. Existe alerta para os celulares e toda a população está preparada para lidar com isso. A informação é o melhor instrumento para conter o pânico e fazer as pessoas agirem com calma.
A cidade de Mendoza, na Argentina depois de um grande terremoto que devastou a cidade 1944, a cidade possui áreas de escape.
O Chile também é um país que tem se mostrado cada vez mais preparado para lidar com terremotos, talvez não estejam ainda aos pés da tecnologia e educação no Japão, mas mostra-se cada vez mais rápido para lidar com essas situações.
Já no Haiti, com população acima de 10 milhões de pessoas, um dos países mais pobres da América e com pouco acesso a informação e tecnologia, em 2010, num terremoto de 7,5 graus na escala Richter 200mil pessoas foram mortas, outras 250 mil ficaram feridas e 1,5 milhões ficaram desabrigados. Mesmo em 2013 a cidade ainda estava em processo de reconstrução.
Desta forma todo gestor deve se antecipar aos acontecimentos e prevenir uma possível falta de água. Para conseguir sucesso nesta operação todas as equipes devem estar envolvidas. A gestão deve estabelecer um planejamento dos setores que teriam prioridades no atendimento e no fornecimento da água. Neste planejamento também deve conter um plano de treinamento, de como as equipes e os setores devem agir tanto para a economia preventiva de água, como também para conter os gastos desnecessários enquanto não chega um caminhão pipa que faça o abastecimento da unidade.

É muito grande a probabilidade de que a falta de água gere pânico na população, como vimos neste ultimo verão, que com a falta de chuvas, as pessoas saíram comprando caixas d´água, estocando galões de água e algumas residências para fugir do racionamento abasteciam seus reservatórios com água dos caminhões pipas, ou perfuraram poços. Sabemos que o hospital ou uma unidade de saúde terá preferência no abastecimento, mas o uso consciente e reuso da água garante que a unidade não será surpreendida. A Psicologia Comportamental explica que quando queremos que um comportamento seja prevalente, que aconteça mais vezes o que fazemos? Premiamos, elogiamos, nas palavras da psicologia chamamos de reforçamento positivo. Fazemos com que este comportamento fique mais forte, afinal todas as pessoas gostam de ser premiadas por suas ações: mudamos o corte do nosso cabelo por um elogio, fazemos boas ações por um premio. Identifique na sua empresa, na sua equipe o que é reforçador, o que as pessoas valorizam e gratifique-as. Pode ser uma folga extra, um curso, um presente, uma festa, um passeio, um bônus ou a possibilidade de financiar um bem. O valor do premio não é o mais importante, o que realmente importa é o que os colaboradores valorizam. Punir o comportamento inadequado não é o melhor caminho. Ele apenas traz a suspensão temporária do comportamento indesejado que depois de um tempo volta a acontecer, por isso as multas de transito não são eficientes, depois do susto da multa as pessoas reincidem no erro.

 Se ainda assim houver pânico entre as pessoas, os profissionais que se demonstrarem pouco capazes de lidar com a situação devem ser afastados e substituídos por pessoas que demonstrem melhor habilidade para lidar com uma situação caótica. Incentivar boas ações e boas ideias, informação, planejamento e treinamento são o caminho para administrar a crise. A solução dependerá da flexibilidade da equipe e da boa aceitação ás mudanças.

Bibliografia:

BERGAMINI, Cecília Whitaker. Psicologia aplicada a Administração de empresas. São Paulo: Atlas, 2011.
BERGER, Peter L; Luckmann, Thomas.  A construção Social da Realidade. Petrópolis: Vozes, 2004.
BOCK, Ana Merces Bahia (org). Psicologia Fácil. São Paulo: Saraiva, 2011.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
SPECTOR, Paul. Psicologia nas organizações - 3ª EDIÇÃO. Saraiva, 2006.



Raquel A. Cassoli.
Psicologa - CRP06/61822
Professora Universitaria no UNIPAULISTANA.
Professora na Pos Graduação no UNIFAI.
Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP
Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC-SP

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Cronicas da Surdez - o que todo otorrino, fono, psicólogo e professor deve saber.

Imagine estar de frente para o mar, as ondas num indo e vindo infinito (como disse Lulu Santos), sentir o cheiro da maresia, aquela brisa fresca no rosto....e não ouvir nada.

Eu sei o que é isso.
A Paula Pfeifer também, junto á nós 9,8 milhões de brasileiros de acordo com o IBGE (5,2% da população). E sabe que você também pode se juntar á nós, varias pesquisas apontam que acidentes, doenças como infecção constante no ouvido ou os maus hábitos como ouvir som alto nos fones de ouvido e exposição a ruídos muito altos no dia-a-dia podem ocasionar perda auditiva. Hoje cerca de 20% da população sofre de Zumbido que é sinal de perda auditiva. É preciso estar atento aos sinais de perda e procurar um Otorrinolaringologista que encaminhará para o exame de audiometria e diagnosticará corretamente, assim como fará a recomendação de uso da Aparelhos da Amplificação Sonora Individual (AASI) para perdas leves á severas ou Implante Coclear (IC) em caso de surdez profunda.
Estou aqui para falar dos livros que recomendo fortemente para quem convive com surdos oralizados e que fazem uso de AASI ou IC.
A Paula conhece bem esse caminho percorrido pelas pessoas que nascem ouvintes e aos poucos vão perdendo a audição. Conheci a Paula quando ela tinha o blog Sweetest Person Blog onde ela fala sobre moda, dicas de beleza e viagens, suas paixões. Um dia ela falou que era deficiente auditiva e aos poucos  vários seguidores passaram a contar sobre suas histórias com a deficiência, seja própria ou alheia: os preconceitos de ser uma deficiência invisível, da dificuldade de se falar sobre o assunto com outras pessoas e onde estão esses deficientes oralizados? Há uma forte crença de que todos os surdos são mudos e que são sinalizados,  está em seu grupo de pessoas surdas e que se comunica pela Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS), mas o surdo oralizado está entre os ouvintes e ao mesmo tempo não está. Foi á partir dos e-mails que ela recebeu que criou o blog Cronicas da Surdez para falar sobre as experiências dela como Deficiente Auditiva (DA). E o Blog foi tão bem divulgado, lido e aceito que virou livro. Lembro de me identificar com várias coisas que ela disse, todos meus anos como paciente em psicoterapia e todos os anos como psicologa não me disseram tanto sobre mim ou sobre a DA como a Paula e seus seguidores disseram.
Tanto no primeiro como o segundo livro, ela escreve com clareza, coerência e uma intimidade com o assunto, que senti como uma amiga contando sobre sua vida, talvez por isso a facilidade que todos tem para conversar com ela, seja por e-mail, facebook ou pessoalmente. 

No primeiro livro ela relata com clareza a dificuldade em que vivem os DAs (invisíveis). É uma leitura fundamental para médicos que darão diagnósticos do teste da orelhinha, ou que confirma que um paciente está com perda auditiva. Logo que dá um diagnóstico de deficiência auditiva o primeiro argumento do médico é (geralmente): "Olha, a tecnologia hoje é incrível, existem aparelhos muito pequenos que corrigem as pessoas jamais saberão que você está usando aparelhos." E isso é HORRÍVEL, chega a ser um crime, pois a pessoa passará a vida tentando se esconder atrás desse aparelho e desta mentira. Os AASIs realmente são de uma tecnologia impressionante, os aparelhos dados pelo SUS são de qualidade inferior aos que são comercializados e eles amplificam o som, tornando o som mais acessível ao DA, mas não tem o mesmo desempenho do ouvido humano. A vida não vai ser mais fácil com a pessoa se escondendo, ela vai ser bem mais difícil, porque o DA faz um esforço enorme para acompanhar as conversas, pois PRECISA fazer leitura labial e muitas vezes cansa de pedir para que o outro repita, grupos grandes são difíceis, lugares com muito ruido são difíceis, e se junta isso em um ambiente escuro coloca a conversa como algo quase impossível e os ouvintes continuam te tratando como um ouvinte qualquer, simplesmente porque não sabem. Então é melhor saber, certo? Otorrinolaringologistas, leiam estes livros, conversem com seus pacientes sobre seus temores e anseios, não incentivem que se escondam, tenham sempre um psicólogo que esteja habituado aos dilemas dos DAs e indique. Da mesma forma que o fonoaudiólogo é fundamental no processo de reabilitação auditiva, o Psicólogo é fundamental para auxiliar o paciente no processo de negação da DA e no resgate da auto-estima.
Outro ponto a considerar é que a invisibilidade da DA também se apresenta na lei, o DA não tem dierito a desconto na compra de veículos e nem dedução no Imposto de Renda para compra de prótese auditiva, como disse, os AASI comprados possuem uma alta performance na programação dos sons e tecnologia, mas a tecnologia custa caro. Os DAs não precisam ser escondidos da sociedade.
Hoje falamos tanto de Inclusão Escolar que esta leitura é fundamental para todos os professores, para saber conversar com seu aluno sem rodeios e adotar atitudes que melhoram o desempenho e a segurança dos alunos com DA em sala de aula. Sala de aula é uma situação tensa em qualquer idade. Quando o professor fala atrás do aluno ou andando pela sala de aula, submeter crianças ao "ditado" é quase um teste de audição, a criança que não ouve não consegue acompanhar o ditado do professor. Os ruídos da sala ou do pátio. As aulas ou palestras que são dadas em lugares escuros para uso do data-show é uma verdadeira Maratona. A Paula mesmo diz que ter terminado a faculdade foi uma verdadeiro teste de paciência. Quando tiver um aluno com suspeita de deficiência auditiva encaminhe para o Otorrino e peça que seja realizada uma audiometria. 

Os fonoaudiólogos devem ter esses livros como fundamentais para compreensão dos medos e anseios de seus pacientes. Paula conta muito sobre participação em congressos e encontros de fonoaudiologia e da importãncia do fonoaudiólogo no processo de reabilitação auditiva, mas os psicólogos não parecem dar muita importância para isto, muitos acham que sabem o suficiente. Vou contar porquê não sabem. 
Recomendo fortemente que esta leitura seja realizada por Psicólogos. Primeiramente porque fala da vida humana, fala da diversidade, fala do quanto o social é importante para a vida das pessoas, o quanto muitas vezes as pessoas estão rodeadas de pessoas a sua volta, mas sem a comunicação estão sozinhas. O quanto o silêncio pode ser confortável quando é uma opção e não uma imposição. 
No segundo livro, Paula conta sobre o sucesso e repercussão do seu primeiro trabalho e a sua experiência ao retorno dos sons com o Implante Coclear quando sua surdez, já num grau profundo a privava de estar no mundo, sair de sua zona de conforto e ser aquela pessoa que não ficava mais tensa com as situações sociais. Uma das partes do livro e que tem um post no Blog (o post está aqui), conta sobre sua participação em um Congresso em Campos do Jordão, onde, após os trabalhos um grupo de pessoas foram para um restaurante, a combinação: muitas pessoas + lugar escuro + lugar com muito barulho a fez desistir de participar da conversa e dormir. O cansaço e a tensão em acompanhar leitura labial para não perder as conversas ao longo do dia já haviam deixado- a exausta. Hoje ela diz que essa pessoa cansada, tensa e que estava ficando introvertida ficou no passado. Algumas coisas que a maioria faz com "naturalidade" como atender telefone, ouvir interfones e campainhas, o barulho do mar, do vento e da chuva faz parte da realidade dela novamente, ela não quis desistir do som. Na nova etapa da vida, agora com IC, também coube um amor. Acho que o próprio fato de se descobrir nas falas dos seus leitores fez com que a Paula nunca se deixasse abater pelo desânimo ou o stress que ela vivia com a deficiência e conseguir dar voz ás pessoas invisíveis. Como disse uma professora uma vez: nem todos precisam de terapia, algumas relações são terapêuticas por si só, mas isso não quer dizer que a psicoterapia perde sua função. O que funcionou para a Paula talvez não funcione para outros. Vejo alguns relatos de forte negação, dificuldade de aceitar ou de considerar o uso do AASI, de conseguir mostrar suas deficiência como se isto a fizesse menos digna. Nestes casos o profissional melhor capacitado para esta tarefa é o Psicólogo, portanto, leiam, se informem sobre as fragilidades humanas.


Por fim, conhecer a Paula pessoalmente foi uma grande realização. Acompanho o Blog dela desde 2009, trocamos alguns e-mails (talvez ela nem se lembre, devem ter muitos e-mails diários para responder),  um dos meus e-mails foi publicado no espaço dos leitores do blog (está aqui) e outras vezes que ela esteve em São Paulo eu estive ocupada com minhas funções maternas. Fiz algumas amizades, tentei ajudar algumas pessoas. Desta vez fiz questão de ir ao lançamento do segundo livro, levei meus filhos que se divertiram muito no Espaço Escuta da Politec e oportunizei que eles pudessem estar com crianças surdas que usam IC. Não tivemos muito tempo para conversar e sei que não nos faltará oportunidades. Sou muito fã do trabalho dela na divulgação dessas informações e desejo que ela esteja atingindo muitos profissionais com seus relatos. Seus textos me inspiram, inclusive, profissionalmente. Através do Blog conheci a psicologa Carla Rigamonte, que tem um capítulo no livro, no Programa Espaço Escuta, e pudemos conversar sobre a Psicologia e a resistência que, infelizmente, encontramos em nosso trabalho.


Espero com isso poder abrir outros caminhos dentro de uma sociedade mais receptiva para a diversidade.

Raquel A. Cassoli.
Psicologa - CRP06/61822
Professora Universitaria no UNIPAULISTANA.
Professora na Pos Graduação no UNIFAI.
Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP
Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC-SP

P.S.:Outro livro e outro blog que também recomendo sobre o assunto é "Desculpe, Não ouvi" Da Lak Lobato.(clique aqui)- vale outro post.
Vale lembrar que cada caso é um caso, os surdos profundos que por algum motivo prefira a LIBRAS ou o mundo do silencio, ou porque não é candidato a rehabilitação auditiva deve etr seu direito respeitado. A LIBRAS pode ser um recurso a mais na vida dos DAs, o uso de Aparelhos ou Implantes não excluem o uso da LIBRAS.
Quando estava escrevendo este texto vi uma reportagem no Jornal Nacional que mostra um pouco sobre o uso do Implante Coclear e a dificuldade dos DAs. Voce pode assistir clicando aqui.
A Stakey, empresa de aparelhos auditivos criou um simulador para a perda auditiva, onde os ouvintes podem simular o som ouvido por um DA e parar de achar que as pessoas ouvem o que querem. Clique aqui para fazer uma simulação.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Cinquenta tons de cinza - livro e filme



Agora que passou todo o bafafá em torno do filme podemos fazer uma analise do livro e do filme. A continuação está prevista para 2017 e provavelmente virá mais polemica sobre o romance entre Anastásia Steele  e Christian Grey.
 Falo do livro e do filme, pois sob minha análise, penso que gostou do filme quem leu o livro. Talvez por isso uma linha divisória tão clara de pessoas que odiaram e que amaram o filme. Eu gostei do filme, achei que a Dakota Johnson personificou muito bem a personagem Anastasia, embora na minha cabeça o Christian Grey era mais enigmático e um pouco mais sedutor, mas a grande mágica dos livros é justamente a “montagem” que nossa imaginação faz do personagem e da história.
Quando assisti ao filme fiquei pensando se as pessoas que não leram o livro gostariam do filme e a conclusão que cheguei é de que não gostariam. Se pensarmos na classificação que podemos fazer do filme: ele não é necessariamente um filme romântico, mas conta uma história de amor. Não é uma comédia, mas contem algumas cenas engraçadas: Anastácia é uma jovem um pouco atrapalhada e inocente, o que favorece alguns risos. E embora tenha cenas picantes, não classificaria como pornográfico, apenas como levemente erótico. As criticas que li foram as mais diversas: violência contra a mulher (um exagero), sadismo (passou longe) e que o casal não fazia outra coisa e que nenhum casal tem tanto tempo para transar (acho que faltou uma vida sexual interessante para algumas pessoas).

Então antes de emitir o que acho que seja um opinião justa sobre o filme, também pela ótica da Psicologia, vamos falar sobre o que é sadismo sexual. Sádico é a pessoa que sente prazer em impor sofrimento à outra pessoa ou que sente excitação sexual com o sofrimento do outro. O sofrimento pode ser psicológico ou físico, incluindo humilhação da vítima. Não me parece bem o caso de Christian uma vez que ele uma extrema preocupação com a Anastasia.
Convém esclarecer o que é o Masoquismo Sexual pois envolve fantasias sexuais excitantes, repetidas, intensas, impulsos sexuais e atos de ser humilhado, amarrado, espancado ou de outro modo submetido a sofrimento.O Masoquismo Sexual causa sofrimento significativo, prejuízo social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Exemplos de comportamentos masoquistas: contenções (sujeição), palmadas, espancamento, açoitamento, colocação de vendas (sujeição sensorial).Ser “perfurado e atravessado”.Ser forçado a rastejar e latir como um cão. Choques elétricos, ser cortado e humilhado, a privação de oxigênio pode ser executada com um parceiro ou a sós e mortes acidentais podem ocorrer.É preciso que fique bem claro que a via de prazer neste relacionamento é apenas por via da dor.
A definição se apresenta para mim de forma clara, e um exemplo que tenho em minha mente de masoquismo é da personagem Sabina Spielrein no filme “Um método Perigoso”. O filme que conta o romance vivido por Carl Jung (Michael Fassbender), ex- discípulo de Freud (Viggo Mortensen), e sua paciente Sabina Spielrien (Keira Knightley) no começo da Psicanálise conta com a boa atuação da atriz Keira Knightley que na cena em que relata sua queixa ao Psicólogo se contorce de prazer, simplesmente de relembrar a cena em que leva uma surra do pai. A cena que comprova o masoquismo da personagem é em uma das visitas amorosas em que mostra Jung batendo nela e ela tendo um orgasmo. Portanto Christian Grey não é masoquista, nem sádico, Anastacia Steele também não, mesmo tendo concordado com a situação proposta por Christian, na verdade, prefere um “sexo baunilha” (fazer amor)e  assim não se encaixa nesta descrição.

Outra suposição seria de que Christian Grey tivesse um fetiche com os objetos Sado-masoquista. Vamos então a definição de fetiche. Chamamos de  Fetichismo a tendência erótica para coisas inanimadas que, direta ou indiretamente estão em contato com o corpo humano ou para determinadas partes do corpo da pessoa amada. O Fetichista tem o fetiche como o elemento necessário e suficiente para sua excitação sexual. O Fetichista utiliza objetos inanimados ou atenta apenas para uma determinada parte do corpo da outra pessoa para obter satisfação sexual.  O Fetichista é incapaz de amar a outra como uma pessoa real. Consegue amar apenas uma parte dela, ou um objeto que ela use. Exemplo: mãos, pés, nádegas, mamas, sua calcinha, seu sutian, suas meias, etc
O Christian Grey mais de uma vez acaba fazendo “amor” com Anastacia e em outros lugares, então o prazer dele não está condicionado ao uso dos objetos de dominação, nem as vestes dela, nem ao quarto vermelho.

Podemos dizer com conhecimento da causa que se trata de uma fantasia. Uma fantasia bem elaborada, mas apenas uma fantasia. Isso não tira a graça do livro, mas fundamenta de uma forma mais ajustada essa analise que estou propondo. A definição de fantasia no dicionário Aurélio é de algo imaginado, também está relacionado à esquisitice, ou roupas carnavalescas. Ou seja, é uma construção mental, geralmente prazerosa. No caso da fantasia sexual pode ser uma forma de idealização de uma noite romântica e erótica ou de ações eróticas para potencialização do prazer. Por exemplo, imaginar que está transando em um lugar público ou que faz sexo com estranhos, há também o uso de fantasias (carnavalescas) para criar um clima diferente para a relação amorosa. No caso do referido casal ele parecem exercitar a fantasia de dominador e submissa, talvez com uma dose mais realística e um pouco mais frequente, mas chamo atenção ainda de que ela não é a única via de prazer para eles.

Sobre as fantasias acho que todos nós temos, podemos “vestir” o personagem que nos é mais interessante, seja para a sedução ou satisfação sexual, seja por mero divertimento. Acho construtivo querer discutir sobre algo que nos incomoda, mas querer classificar ou condenar a fantasia alheia é como querer discutir preferências por time de futebol.

 Em termos literário o livro é fraco, algumas palavras são exaustivamente repetitivas, há erros de concordância verbal e em alguns momentos a leitura é cansativa, mas se mesmo assim foi um Best Seller nas livrarias por vários meses e o filme gerou toda esta polêmica (mesmo também sendo um filme fraco) podemos falar dos valores e dos papéis sociais que aparecem na história, sobre a fantasia (ou a falta dela) nos dias de hoje.

Para acabar com tanto bafáfá e mimi, ainda corro o risco de parecer ousada mas recomendo que se analisem menos, e que vivam mais, preocupem-se do que é seu;  suas fantasias, seus valores e ocupem-se menos de julgar o outro, seja porque o livro e o filme é ruim, ou porque a história não atraiu seu interesse.


Raquel A. Cassoli.
Psicologa - CRP06/61822
Professora Universitaria no UNIPAULISTANA.
Professora na Pos Graduação no UNIFAI.
Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP
Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC-SP




P.S.: Como a proposta do blog é ser informativa e para que fique claro o que tomamos como Sadismo e Masoquismo sexual, copio a descrição do DSM-IV no portal da Educação.
Critérios diagnósticos do DSM IV  para sadismo sexual
A. Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo atos (reais, não simulados) nos quais o sofrimento psicológico ou físico (incluindo humilhação) da vítima é sexualmente excitante para o indivíduo.
B. O indivíduo realizou estes desejos sexuais com outra pessoa sem seu consentimento, ou os desejos e as fantasias sexuais causam acentuado sofrimento ou dificuldade interpessoal.
Fonte: DSM IV
O início do transtorno em geral acontece antes dos 18 anos de idade, e a maioria das pessoas que o apresentam são homens. O transtorno foi batizado com o nome do Marquês de Sade, um autor francês do século XVIII repetidamente preso por seus atos sexuais violentos contra mulheres. O sadismo sexual está relacionado ao estupro, embora este seja considerado uma expressão de poder. Alguns estupradores sádicos, no entanto, matam suas vítimas após o sexo. Em muitos casos essas pessoas têm esquizofrenia subjacente. Alguns autores falam em cinco causas que contribuem para o sadismo sexual: predisposição hereditária, mau funcionamento hormonal, relacionamentos patológicos, história de abuso sexual e presença de outros transtornos mentais.

Critérios diagnósticos do DSM IV para masoquismo sexual 
A. Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo o ato (real, não simulado) de ser humilhado, espancado, atado ou de outra forma submetido a sofrimento.
B. As fantasias, os impulsos sexuais ou os comportamentos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Fonte: DSM IV 
O masoquismo deve seu nome às atividades de Leopold Von Sacher-Masoch, um romancista austríaco do século XIX, cujos personagens derivam prazer sexual de serem abusados e dominados por mulheres. 
Segundo o DSM IV, pessoas com masoquismo sexual têm uma preocupação recorrente com impulsos e fantasias sexuais envolvendo o fato de serem humilhadas, espancadas, amarradas ou de alguma outra forma submetidas a sofrimento.
As práticas sexuais masoquistas são mais comuns entre homens do que entre mulheres. Cerca de 30% dos portadores de masoquismo sexual também têm fantasias sádicas. O masoquismo moral envolve a necessidade de sofrer, mas não é acompanhado de fantasias sexuais.

Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO 
http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/28128/sadismo-e-masoquismo-sexual#ixzz3aMPE6D4n
 

sábado, 16 de maio de 2015

Participação na reportagem da ADAP.

Olá pessoal!! Tudo bem?
Tenho dois post sendo finalizados, um sobre "50 tons de cinza", outro sobre "Se eu ficar".  Tem um sobre Ética profissional, que está ainda está ganhando forma.
Há duas semanas participei num evento sobre a Gestão de conflitos na crise da água no Centro Universitário Paulistano (UNIPAULISTANA), vou ampliar a palestra e publicar aqui e nesta semana contribui com mais um artigo da ADAP. (Clique  aqui para acessar a reportagem completa)

Segue um trechinho da minha participação. Agradeço a Ana Raquel Periclo Mangili pelo convite.

O sistema educacional brasileiro, público ou privado, é moldado segundo critérios gerais de necessidades de crianças e jovens no aprendizado e nas dinâmicas em sala de aula. Porém, sabe-se que cada ser humano é único e, portanto, podem ser necessários ajustes individuais ou coletivos para um melhor aproveitamento desta época da vida. No caso da pessoa com deficiência, tais adaptações são imprescindíveis para garantir a igualdade de oportunidades. Dependendo do tipo e do grau de uma deficiência, seja ela física, sensorial, intelectual ou múltipla, podem existir barreiras no meio escolar que dificultem ou até mesmo impeçam a plena realização da vida estudantil. Quando tais obstáculos não podem ser contornados com ações físicas e pontuais de acessibilidade, entra em cena o profissional Monitor de Apoio à Pessoa com Deficiência (MAPD), para garantir a inclusão do aluno em classes regulares de ensino.

Como trabalha o monitor da pessoa com deficiência?
O monitor é contratado como servidor público na área magisterial, quando atua em escolas públicas de ensino fundamental e médio. No ensino superior, o contrato de trabalho varia de acordo com cada universidade estadual ou federal, assim como nas escolas e faculdades particulares. A formação exigida desse profissional é livre (com exceção do intérprete de LIBRAS, sobre o qual falaremos mais adiante), podendo a pessoa ter cursado apenas o ensino fundamental, ou ter feito pós-graduação na área educacional; os critérios de escolha, bem como os salários, variam para cada instituição contratante.
As atividades do serviço de monitoria são diversificadas de acordo com a deficiência e as necessidades de cada estudante. No atendimento às pessoas com deficiência física, as principais ações do monitor podem ser referentes à ajuda no deslocamento do aluno e nas anotações do material passado em aula. Para os estudantes com graus variados de surdez, o profissional pode ajudar na sua comunicação interpessoal. Aos alunos com baixa visão ou cegueira, o auxílio é direcionado para a leitura e transcrição dos trabalhos e provas e, finalmente, para os estudantes com deficiência intelectual ou com Transtornos Globais do Aprendizado, o monitor auxilia na mediação dos conhecimentos passados pelos professores. Quando o aluno tem mais de um tipo de deficiência, as funções do profissional são ampliadas para dar conta de todas as necessidades do educando.
O serviço de monitoria nas escolas e universidades faz parte do Atendimento Educacional Especializado, este garantido por Lei, segundo os Artigos 227, § 1º, inciso II, e 208, inciso III, da Constituição Federal: “O Estado promoverá a criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência [...]”. Também a Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva, de 2008, dita que “cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizar as funções de monitor ou cuidador aos alunos com necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimentação, locomoção, entre outras que exijam auxílio constante no cotidiano escolar”. Para saber mais sobre outras leis que garantem esse direito aos estudantes com deficiência em geral e esclarecer mais dúvidas, veja o artigo da pedagoga Sônia Aranha sobre o tema.
(...)
Monitores para surdos oralizados?
Poucas pessoas sabem, mas há um segundo tipo de monitor que pode acompanhar alunos com deficiência auditiva nas escolas e universidades. Chamado por alguns de “intérprete oralista”, este profissional costuma atuar na transcrição das aulas no caderno do estudante ou na repetição oral do conteúdo dito pelo professor quando este estiver distante do aluno. Geralmente, este monitor só é contratado quando a pessoa com perda auditiva possui também outra deficiência associada ou quando, sendo oralizada, não consegue obter benefícios com nenhum tipo de AASI ou implantes auditivos convencionais.
Esta questão do “intérprete oralista” é polêmica e suscita debates das várias partes envolvidas no processo. Se a criança não possuir nenhuma outra deficiência além da auditiva, as escolas podem ter dificuldades de aceitar contratar um monitor apenas para este trabalho. Além disso, alguns profissionais da saúde defendem que isso prejudicaria a autonomia da criança e seus esforços auditivos para compreender as palavras por si mesma, ao depender de outra pessoa como sua mediadora auditiva. Patrícia Rodrigues Witt, terapeuta ocupacional e especialista em surdez, comenta sobre esse dilema.
“Acredito que o monitor em sala de aula poderá causar dependência, a criança se acomoda e não procura independência, e passa a ser diferente de outras crianças... Eu, com deficiência auditiva profunda, nunca tive monitor em sala de aula, pois não existia o olhar da inclusão. Na época, minha mãe criou uma espécie de sala de recursos ambulantes: a cada dois meses, havia reunião dos profissionais que trabalhavam comigo (psicóloga, pedagoga e fonoaudióloga) na minha escola e davam orientação aos meus professores e serviços de supervisão. Além de instruí-los nas minhas necessidades, eles faziam avaliação constante de como estava o meu desenvolvimento em relação a escola. Mas, em casos extremos, eu acho que o monitor pode estar na sala de aula, dependendo da necessidade do aluno, mas, ao mesmo tempo, deve incentivá-lo para a sua independência”, explica.
A psicóloga Raquel Cassoli também nos mostra a sua visão sobre essa questão. “A recomendação é de que a criança use monitores apenas em casos mais severos, no caso do deficiente auditivo, se a criança realmente não tiver desenvolvido a comunicação ou em casos que haja outra deficiência além da surdez. A recomendação dos profissionais que trabalham com crianças deficientes é de sempre estimular a comunicação e a autonomia. Vigotski, um teórico russo da Psicologia, dizia que: “o maior problema que as pessoas deficientes têm, não é o limite causado pela deficiência em si, mas sim a forma como a sociedade os trata”. Esta frase é uma das coisas mais verdadeiras que já vi, a criança não deve ser tratada diferente, deve ser dado a ela a oportunidade de desenvolvimento o melhor possível. Por isso, na escola, nenhuma criança deve ser protegida, muito menos as crianças com deficiências, a criança super protegida tem menor tolerância a frustração, e a presença de um monitor que fique para atendê-la o tempo todo não a coloca em situações reais, como quando queremos falar algo e o professor não vê que queremos atenção, ou quando não somos entendidos e somos estimulados a formular nossas perguntas e nossas dúvidas de outra forma”.
Já a fonoaudióloga Larissa defende que “cada caso é um caso” e diz que, se a intervenção de reabilitação auditiva e fonoaudiológica for tardia, a criança poderá precisar sim de um monitor, mesmo que não tenha outra deficiência associada. “Eu acredito que vá depender de cada caso. Por exemplo, uma criança que tenha tido acompanhamento fonoaudiólogico precoce e faça uso sistemático de AASI frequentemente não precisa. Mas, para que os pais solicitem um mediador/monitor, é necessário saber se a criança também faz acompanhamentos extra escola. Uma criança com diagnóstico e intervenção tardios sempre apresentará maiores dificuldades que outra com todas as intervenções realizadas no tempo adequado. O monitor é recomendado apenas em casos em que a criança, mesmo estando em terapia fonoaudiológica e fazendo uso sistemático de AASI, ainda encontre dificuldades para acompanhar o conteúdo escolar”.
(...)
Segundo a pedagoga Sônia Aranha, nenhum tipo de escola, pública ou particular, pode cobrar a mais pelo serviço de monitoria, pois os custos de atendimentos especializados já devem estar inclusos entre os gastos da instituição (nas particulares, diluídos nas mensalidades de todos os alunos), o que, infelizmente, não ocorre em grande parte das vezes. A única alternativa restante mediante uma negativa da escola perante o pedido é juntar todos os documentos e procurar o Ministério Público do Estado, exigindo a sua intervenção, ou contratar um advogado e entrar diretamente na justiça contra a escola.

Por Ana Raquel Périco Mangili.