terça-feira, 18 de março de 2014

Ter ou não ter um animal de estimação?

Este texto foi escrito em 2004, mas ainda considero atual.
Varias pessoas já vivenciaram como pais o dilema de permitir ou não um bichinho em casa. Assim, como filhos; já pediram para ter cachorro, gato ou peixe. Há, ainda, os que já tiveram e sabem a dor de perder o animal, mas a psicologia afirma que conviver com um animal ou cuidar de uma planta são formas saudáveis de afastar a solidão e no caso das crianças auxilia no aprendizado do estabelecimento de relações humanas, no respeito ás diferenças e os limites. Não é à toa que, em recente estudo, descobriu-se que na cidade de São Paulo há mais Pet Shops que Padarias.
A nossa sociedade, ultimamente, tem sido caracterizada pela solidão. Cada vez mais as pessoas optam por morar sozinhas, seja para dedicarem se exclusivamente á profissão, para estudarem, por decepções amorosas ou por desejo de serem independentes; e este vazio na vida das pessoas tem sido preenchido por cães, gatos, peixes ou plantas. Num momento de tanta solidão e dificuldade de encontrar amigos, os cães simulam esse encontro com seus donos. E acabam servindo de pretexto para a busca de contato social dos humanos, pois há aqueles que não saiam de casa por nada só pra levar o totó pra passear na praça ou dar uma volta de carro. Assim, têm sido comum, casais que preferem crescer em suas carreiras profissionais e encontram nos cães uma forma de afeto e alternativa para a insegurança de não conseguir dar á um filho tudo aquilo que eles fantasiam. Quem gosta mesmo de cachorro, de gato, de passarinho, de planta até fala com eles. E há quem jure que eles respondem. Pode parecer exagero, mas não é, pois enquanto conversa, está dando atenção, preocupando-se com a melhor ração ou o melhor adubo. Junto com o “dialogo” vem a quantia certa de água e carinho. E o resultado é uma resposta positiva; os animais emitem algum som quando nos dirigimos á eles com um certo tom de voz e as plantas parecem mais bonitas.
Para as crianças, o contato com animais domésticos, constitui um rico aprendizado, na medida em que ela assume as atribuições de cuidar de outra vida, alimentando-a e respeitando suas limitações. Não dá, por exemplo, para puxar o rabo do cachorro como se fosse um brinquedo. Nem é possível arrasta-lo para o banho como um boneco. Da mesma forma o peixe não pode ficar fora dágua. Os brinquedos fazem parte da sua projeção, mas os animais não podem, eles têm vida e interagem de acordo com a sua natureza. Assim os pequenos começam á lidar com as frustrações. E com as diferenças individuais. Tudo isto só é possível com a ajuda dos adultos. O autor Buscaglia diz que, ao contrario do que pensamos, o amor e a forma como demonstramos este e outros sentimentos, não são inatos no ser humano. Mas sim, um aprendizado ao longo da vida. O modo como recebemos afeto dos pais, dos avós, dos tios e como fomos ensinados a cuidar do irmãozinho e respeitar os amiguinhos é que nortearão nossa forma de demonstrar afetos ao longo da vida. Por isso os pais devem orientar os cuidados da criança para com os animais, sobre a importância desses cuidados, sua responsabilidade, o respeito pela vida e o desenvolvimento de uma relação de afeto. A morte do bichinho é outra oportunidade de crescimento e pode ajuda-la a lidar com perdas futuras.Nesse caso a perda concreta mostra a possibilidade de a criança redirecionar o seu afeto para muitas outras coisas. E quando a morte do animal de estimação ocorre, o mais comum é que os pais lhe ofereçam outros estímulos. Dessa forma a criança consegue elaborar o luto e recuperar a alegria.
 Durante a adolescência o foco dos relacionamentos passa á ser o contato humano, não só quer o vinculo como o escolhe fora de casa, com pessoas da sua idade ou mais velhas. Os animais podem estar presentes, porem de uma forma diferente: uma criança de cinco anos tende a cuidar melhor de um cachorro do que um adolescente. A adolescência, além disso, é reconhecida como o momento de eleger grupos de interesses. Os jovens tendem á dedicarem ás atividades do grupo; formar uma banda de rock, montar um time de futebol, é um momento particular, para que ele firme-se como individuo. Por isso escolhe modelos que não seja curtido pelo resto da família. Apesar de não ter a atenção voltada para um animal, segundo a psicóloga Valentina Pigozzi; seja qual for o objeto de atenção escolhido, ele sempre gera um retorno, pois sempre há um aprendizado envolvido.
Podemos notar que de acordo com a fase da vida, a função e a qualidade deste relacionamento mudam. Os idosos, por exemplo, tendem a tratar os animais quase como outra pessoa, pois já aprenderam á respeitar completamente a individualidade do outro. Em qualquer idade, estas companhias são bem vindas, pois permitem a brincadeira; e brincar é viver e aprender á viver ao mesmo tempo. A brincadeira começa quando pintamos um quadro, modelamos o barro ou quando nos sentamos para afagar o cachorro. A atitude permite, então, abrir um espaço potencial para expressar a criatividade. Os animais nos ajudam á lidar com as emoções, convidam jovens e crianças a interagir e a demonstrar empatia e responsabilidade diante do outro, assim como os jogos que são uma introdução ao respeito das regras.
Recentes estudos mostram a melhora de pacientes, independente da enfermidade, que recebe visitas de cães durante a internação hospitalar.
Portanto o interesse por seres vivos é sempre positivo. Ruim, como em tudo, é o exagero. Tratar de forma quase humana, um animal e ao mesmo tempo isolar-se de outras pessoas, ou ser extremamente desatento aos cuidados, revela uma dificuldade de atar relacionamentos e isto merece atenção de um profissional. 


Raquel Alves Cassoli
Psicologa, Mestre em Educação e Doutoranda em Educação: Psicologia da Educação na PUC-SP.

 Para saber mais:
Amor – Leo Buscaglia. Ed. Record
Sociedade de Cardiologia do estado do Rio de Janeiro.

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