Varias pessoas já vivenciaram como
pais o dilema de permitir ou não um bichinho em casa. Assim, como filhos; já
pediram para ter cachorro, gato ou peixe. Há, ainda, os que já tiveram e sabem
a dor de perder o animal, mas a psicologia afirma que conviver com um animal ou
cuidar de uma planta são formas saudáveis de afastar a solidão e no caso das
crianças auxilia no aprendizado do estabelecimento de relações humanas, no
respeito ás diferenças e os limites. Não é à toa que, em recente estudo,
descobriu-se que na cidade de São Paulo há mais Pet Shops que Padarias.
A nossa sociedade, ultimamente, tem
sido caracterizada pela solidão. Cada vez mais as pessoas optam por morar
sozinhas, seja para dedicarem se exclusivamente á profissão, para estudarem,
por decepções amorosas ou por desejo de serem independentes; e este vazio na
vida das pessoas tem sido preenchido por cães, gatos, peixes ou plantas. Num
momento de tanta solidão e dificuldade de encontrar amigos, os cães simulam
esse encontro com seus donos. E acabam servindo de pretexto para a busca de
contato social dos humanos, pois há aqueles que não saiam de casa por nada só
pra levar o totó pra passear na praça ou dar uma volta de carro. Assim, têm
sido comum, casais que preferem crescer em suas carreiras profissionais e
encontram nos cães uma forma de afeto e alternativa para a insegurança de não
conseguir dar á um filho tudo aquilo que eles fantasiam. Quem gosta mesmo de
cachorro, de gato, de passarinho, de planta até fala com eles. E há quem jure
que eles respondem. Pode parecer exagero, mas não é, pois enquanto conversa,
está dando atenção, preocupando-se com a melhor ração ou o melhor adubo. Junto
com o “dialogo” vem a quantia certa de água e carinho. E o resultado é uma
resposta positiva; os animais emitem algum som quando nos dirigimos á eles com
um certo tom de voz e as plantas parecem mais bonitas.
Para as crianças, o contato com
animais domésticos, constitui um rico aprendizado, na medida em que ela assume
as atribuições de cuidar de outra vida, alimentando-a e respeitando suas
limitações. Não dá, por exemplo, para puxar o rabo do cachorro como se fosse um
brinquedo. Nem é possível arrasta-lo para o banho como um boneco. Da mesma forma
o peixe não pode ficar fora dágua. Os brinquedos fazem parte da sua projeção,
mas os animais não podem, eles têm vida e interagem de acordo com a sua
natureza. Assim os pequenos começam á lidar com as frustrações. E com as
diferenças individuais. Tudo isto só é possível com a ajuda dos adultos. O
autor Buscaglia diz que, ao contrario do que pensamos, o amor e a forma como
demonstramos este e outros sentimentos, não são inatos no ser humano. Mas sim,
um aprendizado ao longo da vida. O modo como recebemos afeto dos pais, dos
avós, dos tios e como fomos ensinados a cuidar do irmãozinho e respeitar os
amiguinhos é que nortearão nossa forma de demonstrar afetos ao longo da vida.
Por isso os pais devem orientar os cuidados da criança para com os animais, sobre
a importância desses cuidados, sua responsabilidade, o respeito pela vida e o
desenvolvimento de uma relação de afeto. A morte do bichinho é outra
oportunidade de crescimento e pode ajuda-la a lidar com perdas futuras.Nesse
caso a perda concreta mostra a possibilidade de a criança redirecionar o seu
afeto para muitas outras coisas. E quando a morte do animal de estimação
ocorre, o mais comum é que os pais lhe ofereçam outros estímulos. Dessa forma a
criança consegue elaborar o luto e recuperar a alegria.
Durante a adolescência o foco dos
relacionamentos passa á ser o contato humano, não só quer o vinculo como o
escolhe fora de casa, com pessoas da sua idade ou mais velhas. Os animais podem
estar presentes, porem de uma forma diferente: uma criança de cinco anos tende
a cuidar melhor de um cachorro do que um adolescente. A adolescência, além
disso, é reconhecida como o momento de eleger grupos de interesses. Os jovens
tendem á dedicarem ás atividades do grupo; formar uma banda de rock, montar um
time de futebol, é um momento particular, para que ele firme-se como individuo.
Por isso escolhe modelos que não seja curtido pelo resto da família. Apesar de
não ter a atenção voltada para um animal, segundo a psicóloga Valentina
Pigozzi; seja qual for o objeto de atenção escolhido, ele sempre gera um
retorno, pois sempre há um aprendizado envolvido.
Podemos notar que de acordo com a fase
da vida, a função e a qualidade deste relacionamento mudam. Os idosos, por
exemplo, tendem a tratar os animais quase como outra pessoa, pois já aprenderam
á respeitar completamente a individualidade do outro. Em qualquer idade, estas
companhias são bem vindas, pois permitem a brincadeira; e brincar é viver e
aprender á viver ao mesmo tempo. A brincadeira começa quando pintamos um quadro,
modelamos o barro ou quando nos sentamos para afagar o cachorro. A atitude
permite, então, abrir um espaço potencial para expressar a criatividade. Os
animais nos ajudam á lidar com as emoções, convidam jovens e crianças a
interagir e a demonstrar empatia e responsabilidade diante do outro, assim como
os jogos que são uma introdução ao respeito das regras.
Recentes estudos mostram a melhora de
pacientes, independente da enfermidade, que recebe visitas de cães durante a
internação hospitalar.
Portanto o interesse por seres vivos é sempre
positivo. Ruim, como em tudo, é o exagero. Tratar de forma quase humana, um
animal e ao mesmo tempo isolar-se de outras pessoas, ou ser extremamente
desatento aos cuidados, revela uma dificuldade de atar relacionamentos e isto
merece atenção de um profissional.
Raquel Alves Cassoli
Psicologa, Mestre em Educação e Doutoranda em Educação: Psicologia da Educação na PUC-SP.
Para saber mais:
Amor – Leo Buscaglia. Ed. Record
Sociedade de Cardiologia do estado do Rio de Janeiro.
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