terça-feira, 25 de março de 2014

O que acontece depois que acaba o curso de Psicologia?

Parte 1

Recebi recentemente algumas perguntas que resolvi transformar em um post: O que acontece depois da faculdade? Pode parecer uma pergunta ingênua, mas uma boa parte dos formandos em Psicologia se sentem perdidos após o termino do curso por não possuírem informações suficientes sobre como iniciar a vida profissional.
Este post objetiva listar informações praticas para a vida dos novos profissionais.

Acabou o curso, as notas já saíram e todos só pensam em comemorar. As solenidades da formatura já estão marcadas, mas ao contrario do que fantasiamos não é aquele “canudo” da solenidade de formatura o passaporte para a vida profissional. O tão sonhado diploma precisa ser solicitado na sua faculdade ou universidade, após receber o certificado de conclusão de curso. 
Quando me formei a universidade marcou um dia, uma manhã, me lembro, onde os alunos se reencontraram, assinaram a ata da colação de grau e saímos de lá com o certificado de conclusão de curso e histórico escolar. Com o certificado, nos dirigimos a secretaria de diplomas e solicitamos, mediante um pagamento a confecção do diploma.  
Na universidade que lecionei, os alunos formandos recebiam um e-mail comunicando qual era o período em que deveriam se dirigir a universidade para a assinatura da ata de colação de grau e retirada do certificado. Isto deve variar um pouco de universidade para universidade, mas este certificado só é retirado com a assinatura da ata de colação de grau, o documento mais importante para o inicio da vida profissional é o certificado, é com ele que você solicita seu diploma, seu registro profissional provisório no órgão competente e comprova sua formação. O diploma é solicitado para aquisição de registro profissional permanente, inscrição em cursos superiores, prova de concurso e atividade profissional acadêmica.

No caso dos Psicólogos o órgão que regulamenta a profissão é o Conselho Regional de Psicologia. Para se inscrever leve uma copia simples dos seguintes documentos: Para realizar sua inscrição, providencie uma cópia simples acompanhada dos originais dos seguintes documentos: CPF; RG; Título de Eleitor; Comprovante das duas últimas votações; Diploma de Formação de Psicólogo (cópia frente e verso); Duas fotos 3 x 4 recentes (preferencialmente de fundo branco); Certidão de Casamento e Comprovante de quitação com o serviço militar.

Com o registro profissional realizado, uma boa parte dos formandos dirigem se á área clinica. Como começar?
Alguns montam seu próprio espaço, mas nas cidades onde há cursos de Psicologia há uma grande oferta de salas prontas para atendimento, no qual se pode pagar locação por hora e que já tem uma infraestrutura com sala de espera e secretária. É muito importante que a sala garanta as características do atendimento psicológico, que seja confortável, acolhedora, e que tenha um bom revestimento acústico, que não seja um lugar ruidoso, nem que se ouça do lado de fora o que se fala do lado de dentro. A propaganda pode ser feita em livrinhos de convênios, sites, revistas e jornais desde que respeitem o que está previsto no código de ética do psicólogo. Lembrando que o "artigo 38 do Código de Ética Profissional do Psicólogo veda ao psicólogo: 
a) Utilizar o preço do serviço como forma de propaganda;b) Participar como psicólogo de quaisquer atividades através dos meios de comunicação, em função unicamente de autopromoção;c) Fazer previsão taxativa de resultado;d) Propor atividades e recursos relativos a técnicas psicológicas que não estejam reconhecidos pela prática profissional.Já a Resolução do CFP N° 010/97 declara em seu 1° artigo que:É permitido ao psicólogo, no exercício profissional, na divulgação e publicidade, através dos meios de comunicação, vincular ou associar o título de psicólogo e/ou ao exercício profissional, somente técnicas ou práticas psicológicas já reconhecidas como próprias do profissional psicólogo e que estejam de acordo com os critérios científicos estabelecidos no campo da Psicologia." (site CRP-SP)


Para o inicio da carreira clinica é recomendado a supervisão com outro psicólogo mais experiente para garantir o treino da prática do atendimento na abordagem escolhida, o bem estar do profissional e o paciente. A freqüência em grupos de estudos, curso de especialização também podem auxiliar o novo profissional no aprimoramento teórico, que garantam uma boa prática.
Aí vem uma pergunta importante: “quando a gente vai atender em consultório ( o nosso), existe um prontuário para o paciente, ou algum tipo de documentação específica? Porque na clínica a gente aprende uma coisa (toda aquela burocracia) e não sei se na prática também funciona assim, tipo, aqueles relatórios de sessão, evolução e etc.?”
Pergunta muito importante! Na verdade não se trata de mera burocracia para o cumprimento do estágio na clinica, o prontuário clinico deve ser feito e deve estar disponível caso o paciente queira ter acesso. O que costumamos fazer em estágio é um prontuário para o paciente e outro tipo de relatório que deve ser apresentado ao supervisor onde o aluno mostra o dominio das técnicas e abordagens teóricas. Tudo pode ser esclarecido no site do CRP. O paciente pode querer ter acesso as informações pelos mais diferentes motivos. Eu sempre fiz umas fichinhas do paciente com informações pessoais, um pouco mais simples do que as da clinica - escola, mas eu armazenava essas fichinhas numa pasta e guardava num fichário por paciente junto com o relatório do atendimento, caso precisasse para discutir  o caso com algum supervisor ou para meu estudo do caso,  também não era muito detalhado mas me ajudava a pensar sobre o caso antes do próximo atendimento. Outros motivos pelos quais eu mantinha o prontuário: eu atendia uma senhora e eu dava recibo, que ela solicitava o reembolso para o convênio. Um dia o convênio questionou e ela veio pedir uma documentação (que na verdade é esse prontuário) sobre os atendimentos realizados. O Paciente que pede recibo, pode declarar no Imposto de Renda e a receita federal pode querer comprovação deste atendimento. Se você for autônomo, emitir recibo tem que estar em dia com o IR também, se não pode dar problema pra você e para o paciente.
O modelo pode ser o mesmo usado na universidade durante o curso ou o psicólogo pode criar um modelo próprio que contemple as informações necessárias. Sobre os registros documentais pode ser consultado o site do CRP-SP.
Para os profissionais autônomos é recomendável fazer um registro de autônomo na prefeitura e pagar o INSS, para isso vale a pena ser sindicalizado pelo SINPSI, que é o sindicato dos Psicólogos. A sindicalização é opcional, não é obrigatória. Se você exercer outra atividade profissional e contribuir com o outro sindicato e não quiser contribuir com o SINPSI você pode optar. Quero ressaltar que a orientação dada pelo CRP diz: “É importante fortalecer o Sindicato dos Psicólogos, reconhecendo a especificidade das atribuições que são de sua responsabilidade. É o Sindicato que organiza, acolhe e trabalha com as demandas dos(as) psicólogos(as) no que diz respeito à sua condição de trabalhadores(as). Cabe ressaltar, entretanto, que é de decisão de cada psicólogo(a) filiar-se ou não ao sindicato, considerando, inclusive, a existência de diversas entidades sindicais.”(site CRP-SP)  E o sindicato não tem relação com o Conselho Regional. E uma vez sindicalizado você pode participar dos convênios do sindicato como por exemplo a assistência médica e alguns outros benefícios.
O Contador ou técnico em contabilidade pode auxiliar com duvidas referentes á como pagar o Inss, abertura de empresas ou pagamento de impostos.
Como ficam os valores e forma de pagamento, a gente combina isso com o paciente por boca mesmo ou é necessário um contrato?”
O Contrato do Psicologo costuma ser oral, ambos se comprometem neste momento, o paciente com a freqüência e o pagamento no valor e forma combinada; e o terapeuta com a escuta e os aspectos éticos, é estabelecida uma relação profissional. Mas não há impedimentos para que este contrato seja escrito.
O contrato refere-se às condições em que o serviço de Psicologia será realizado. Representa, então, o que as partes envolvidas, de comum acordo, estabeleceram e aceitaram, implicando, assim, na definição do objetivo, tipo de trabalho a ser realizado e condições de realização do serviço oferecido e acordo dos honorários.  (CRP-SP)
O contrato da clinica é diferente do contrato de consultoria, quando o profissional vende um projeto para uma empresa aí o contrato é escrito e assinado entre as partes. De acordo com o CRP: "Ao estabelecer um contrato de serviços o(a) psicólogo(a) deve respeitar os direitos dos(as) usuários(as) ou beneficiários(as) dos serviços (conforme Artigo 1.° alínea "d" do Código de Ética). É preciso atentar também para outras legislações, como o Código de Proteção e de Defesa do Consumidor. 
O(A) psicólogo(a) considerará a justa retribuição pelos serviços prestados, estabelecendo valores de acordo com as características da atividade realizada, considerando as condições do(a) usuário(a).
O CFP possuía uma tabela de referencia de valores de Honorários, mas que não está disponível, esta tabela pode ser consultada pelo site do CRP /SP, assim eu for novamente publicada.
É comum ver na frente dos consultórios que os profissionais que atendam todas as demandas, mas a Psicologia é tão diversa que é praticamente impossível conseguir atender todas as demandas, então quando um paciente chega como uma demanda que não é de sua área você deve encaminhá-lo para o colega que poderá atendê-lo. Por exemplo: uma pessoa quer que você atenda uma criança, quando a sua área tem sido de atendimento de adultos. Ou uma avaliação específica como de aprendizagem escolar quando o profissional trabalha com estimulação para idosos.
É bom ter sempre cartões dos colegas que atendem demandas diferentes da sua para encaminhamentos.
 Com relação a supervisão de atendimentos, como funciona?

O profissional procura outro profissional que tenha mais experiência na área e abordagem teórica, pode ser por melhor afinidade ou conhecimento profissional e que tenha a disponibilidade. O valor da supervisão e freqüência deve ser combinado com o profissional.

No próximo post vou falar sobre outras áreas de atuação na Psicologia.

Duvidas? Escreva para mim.

Raquel Alves Cassoli
Psicologa, Mestre em Educação e Doutoranda em Educação pela PUC-SP



terça-feira, 18 de março de 2014

Ter ou não ter um animal de estimação?

Este texto foi escrito em 2004, mas ainda considero atual.
Varias pessoas já vivenciaram como pais o dilema de permitir ou não um bichinho em casa. Assim, como filhos; já pediram para ter cachorro, gato ou peixe. Há, ainda, os que já tiveram e sabem a dor de perder o animal, mas a psicologia afirma que conviver com um animal ou cuidar de uma planta são formas saudáveis de afastar a solidão e no caso das crianças auxilia no aprendizado do estabelecimento de relações humanas, no respeito ás diferenças e os limites. Não é à toa que, em recente estudo, descobriu-se que na cidade de São Paulo há mais Pet Shops que Padarias.
A nossa sociedade, ultimamente, tem sido caracterizada pela solidão. Cada vez mais as pessoas optam por morar sozinhas, seja para dedicarem se exclusivamente á profissão, para estudarem, por decepções amorosas ou por desejo de serem independentes; e este vazio na vida das pessoas tem sido preenchido por cães, gatos, peixes ou plantas. Num momento de tanta solidão e dificuldade de encontrar amigos, os cães simulam esse encontro com seus donos. E acabam servindo de pretexto para a busca de contato social dos humanos, pois há aqueles que não saiam de casa por nada só pra levar o totó pra passear na praça ou dar uma volta de carro. Assim, têm sido comum, casais que preferem crescer em suas carreiras profissionais e encontram nos cães uma forma de afeto e alternativa para a insegurança de não conseguir dar á um filho tudo aquilo que eles fantasiam. Quem gosta mesmo de cachorro, de gato, de passarinho, de planta até fala com eles. E há quem jure que eles respondem. Pode parecer exagero, mas não é, pois enquanto conversa, está dando atenção, preocupando-se com a melhor ração ou o melhor adubo. Junto com o “dialogo” vem a quantia certa de água e carinho. E o resultado é uma resposta positiva; os animais emitem algum som quando nos dirigimos á eles com um certo tom de voz e as plantas parecem mais bonitas.
Para as crianças, o contato com animais domésticos, constitui um rico aprendizado, na medida em que ela assume as atribuições de cuidar de outra vida, alimentando-a e respeitando suas limitações. Não dá, por exemplo, para puxar o rabo do cachorro como se fosse um brinquedo. Nem é possível arrasta-lo para o banho como um boneco. Da mesma forma o peixe não pode ficar fora dágua. Os brinquedos fazem parte da sua projeção, mas os animais não podem, eles têm vida e interagem de acordo com a sua natureza. Assim os pequenos começam á lidar com as frustrações. E com as diferenças individuais. Tudo isto só é possível com a ajuda dos adultos. O autor Buscaglia diz que, ao contrario do que pensamos, o amor e a forma como demonstramos este e outros sentimentos, não são inatos no ser humano. Mas sim, um aprendizado ao longo da vida. O modo como recebemos afeto dos pais, dos avós, dos tios e como fomos ensinados a cuidar do irmãozinho e respeitar os amiguinhos é que nortearão nossa forma de demonstrar afetos ao longo da vida. Por isso os pais devem orientar os cuidados da criança para com os animais, sobre a importância desses cuidados, sua responsabilidade, o respeito pela vida e o desenvolvimento de uma relação de afeto. A morte do bichinho é outra oportunidade de crescimento e pode ajuda-la a lidar com perdas futuras.Nesse caso a perda concreta mostra a possibilidade de a criança redirecionar o seu afeto para muitas outras coisas. E quando a morte do animal de estimação ocorre, o mais comum é que os pais lhe ofereçam outros estímulos. Dessa forma a criança consegue elaborar o luto e recuperar a alegria.
 Durante a adolescência o foco dos relacionamentos passa á ser o contato humano, não só quer o vinculo como o escolhe fora de casa, com pessoas da sua idade ou mais velhas. Os animais podem estar presentes, porem de uma forma diferente: uma criança de cinco anos tende a cuidar melhor de um cachorro do que um adolescente. A adolescência, além disso, é reconhecida como o momento de eleger grupos de interesses. Os jovens tendem á dedicarem ás atividades do grupo; formar uma banda de rock, montar um time de futebol, é um momento particular, para que ele firme-se como individuo. Por isso escolhe modelos que não seja curtido pelo resto da família. Apesar de não ter a atenção voltada para um animal, segundo a psicóloga Valentina Pigozzi; seja qual for o objeto de atenção escolhido, ele sempre gera um retorno, pois sempre há um aprendizado envolvido.
Podemos notar que de acordo com a fase da vida, a função e a qualidade deste relacionamento mudam. Os idosos, por exemplo, tendem a tratar os animais quase como outra pessoa, pois já aprenderam á respeitar completamente a individualidade do outro. Em qualquer idade, estas companhias são bem vindas, pois permitem a brincadeira; e brincar é viver e aprender á viver ao mesmo tempo. A brincadeira começa quando pintamos um quadro, modelamos o barro ou quando nos sentamos para afagar o cachorro. A atitude permite, então, abrir um espaço potencial para expressar a criatividade. Os animais nos ajudam á lidar com as emoções, convidam jovens e crianças a interagir e a demonstrar empatia e responsabilidade diante do outro, assim como os jogos que são uma introdução ao respeito das regras.
Recentes estudos mostram a melhora de pacientes, independente da enfermidade, que recebe visitas de cães durante a internação hospitalar.
Portanto o interesse por seres vivos é sempre positivo. Ruim, como em tudo, é o exagero. Tratar de forma quase humana, um animal e ao mesmo tempo isolar-se de outras pessoas, ou ser extremamente desatento aos cuidados, revela uma dificuldade de atar relacionamentos e isto merece atenção de um profissional. 


Raquel Alves Cassoli
Psicologa, Mestre em Educação e Doutoranda em Educação: Psicologia da Educação na PUC-SP.

 Para saber mais:
Amor – Leo Buscaglia. Ed. Record
Sociedade de Cardiologia do estado do Rio de Janeiro.