terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Psicoterapia breve com ênfase em situações de crise


Nosso post hoje falará sobre a psicoterapia breve com ênfase em situações de crise. Embora com traços psicanalíticos, acredito que esse tipo de psicoterapia pode ser introduzido em qualquer abordagem psicológica.
A origem da psicoterapia breve se situa nos primeiros trabalhos de Freud no início da psicanálise, quando realizava atendimentos de curta duração usando uma técnica rápida e objetiva.
Essa técnica foi se modificando ao longo dos seus estudos em razão do desenvolvimento da sua teoria em uma forma mais complexa, o qual mudou seu interesse no tratamento de sintomas neuróticos para a compreensão da natureza do inconsciente e da personalidade, além de mudar de método catártico para associação livre.
Ferenczi (1918), foi o primeiro discípulo de Freud a propor técnicas que pudessem diminuir a duração do tratamento psicanalítico. O principal a ser levado em conta dentro dessa curta duração de tempo é enfatizar a maior importância dos fatos da vida atual do paciente em comparação com suas experiências infantis.
Logo, a psicoterapia breve é considerada um tratamento de natureza psicológica, o qual sua limitada duração tem o objetivo de obter melhor qualidade de vida do indivíduo em um curto prazo de tempo, focando no problema mais premente e buscando estratégias para sua minimização e/ou resolução.
O termo “breve” deve-se as características de técnica focal que permite de certa forma aliviar a duração do tratamento reduzindo o número de sessões.
Nessa técnica não há preocupação em eliminar o sintoma, mas sim em esclarecer o foco da situação.
Essa técnica oferece ao indivíduo a oportunidade de vivenciar a experiência real de sofrimento dentro de um contexto de aceitação e segurança, promovendo uma formulação desse conflito, tentando reestruturar a sua vivência frente a essa situação antes inaceitável/insuportável.
A psicoterapia breve tem a intenção de acompanhar o indivíduo em um momento delicado de sua vida, onde há prevalência de sofrimento e dor, ajudando- a buscar formas de vencer esse obstáculo real ou fantasioso que se interpôs em sua vida. Ela também pode ajudar a diminuir a ansiedade permitindo uma real avaliação dos obstáculos; chama atenção do indivíduo para sua própria vida e o sentido dela, contribuindo para um enriquecimento pessoal dentre outras.
            As principais características dessa intervenção são algumas modificações na técnica do enquadre; manejo de tempo, que apesar de ser curto pode ser bastante variável; foco é a sua estratégia principal; o parâmetro para indicação é a demanda do paciente;
O profissional que faz uso da psicoterapia breve deve ter consciência que seu papel é muito mais amplo, mais ativo e participativo, por isso mesmo, mais responsável. Tem-se o dever de mesmo sendo uma terapia breve, dar a devida atenção a esse momento delicado do indivíduo. Entre outras preocupações dessa prática podemos dizer que o psicoterapeuta deve buscar estimular um vínculo mais realista e definido, manter uma proximidade com o paciente, oferecer uma imagem confiável, demonstrar interesse pelo problema do outro, evitar prolongamento excessivo do silêncio para assim evitar ansiedade, perda de tempo, regressão, dentre outros.
A indicação da psicoterapia breve se estabelece em um tripé: quadro clínico, onde é indicada para pacientes de quadros agudos, que caracterizam situações de crise; quadro social, disponibilidade econômica ou pessoal, tanto da parte do paciente quando do agente terapêutico; quadro de expectativa, avaliação do nível intelectivo cultural, levando-se em conta o nível de expectativa frente ao processo terapêutico apresentado pelo paciente.
Porém, devemos nos atentar, pois, ela não é indicada em casos como psicoses, doenças psicossomáticas, obsessões graves, tentativas de suicídio, agitação psicomotora grave, debilidades egóicas entre outros;

No quadro abaixo, podemos ver as principais diferenças entre Psicanálise e psicoterapia breve.

Psicanálise
Psicoterapia Breve

Estimula fenômenos de regressão,     dependência e a neurose de transferência
Não estimula a relação de neurose de transferência, devido ao tempo destinado para seu estabelecimento  que deve ser mais longo

É preciso identificar e interpretar a transferência para que o processo seja agilizado.

Trabalha-se por meio da transferência positiva não erotizada, e sim sublimada para que o paciente mantenha um sentimento amistoso em relação ao terapeuta.
Utiliza-se as associações livres  do paciente e atenção flutuante e livre, sem dirigir o fluxo associativo do paciente.

Aproveitamos as associações livres, pois através delas temos acesso ao seu ICs , porém nossa atenção são será livre e sim seletiva, ou seja, o terapeuta localiza o foco,  emergência do paciente.

Utiliza-se o divã, onde espera-se que o paciente relaxe para soltar-se e poder associar-se livremente.

Prefere o encontro face a face entre paciente e terapeuta, já que não utiliza a regressão e facilita na observação de gestos, postura, movimentos do paciente.

Há a interpretação de falas e atitudes.
Trabalha com interpretações do material que o paciente traz.

É importante e fundamental que o psicólogo possa prestar mais atenção à demanda trazida pelo paciente do que, passar muito tempo tentando submetê-lo a um processo terapêutico que talvez ele não vá aderir.

Para ver o vídeo ilustrativo sobre a prática clique aqui.



Indicação de leitura:
“Psicoterapia breve: Abordagem sistematizada de situações de crise” - Eduardo Ferreira Santos

 Simone Manzaro
Psicologa.
Contato:  simonemanzaro@gmail.com