terça-feira, 3 de setembro de 2013

Psicologia, afinal que ciência é essa?

Compreender a Psicologia como ciência é preciso retomar toda história da filosofia e a produção do conhecimento, mas aqui não conseguirei explanar sobre tudo isso, mas pretendo contar um pouco como foi que a Psicologia adquiriu o status de ciência e um pouquinho de sua história.
Podemos analisar, historicamente, a produção de ideias antigas ligadas à psicologia como, por exemplo, na Grécia, que além da filosofia e psicologia, preocupava-se com propostas educacionais e sua ação pedagógica, visível ao estudar Protágoras e os sofistas, Pitágoras e escola pitagórica, Sócrates e  a maiêutica, Platão e a academia, entre muitos outros. Sob essa ótica podemos estudar o pensamento medieval e relacionar filosofia e teologia, educação e pedagogia relacionadas às ideias psicológicas.
Podemos observar que a importância destes estudos nos permite afirmar que a relação entre psicologia e filosofia acompanha a história de pensamento humano. 
A psicologia ainda não era considerada uma ciência, era produzida por um saber do senso comum.
Senso comum é um conhecimento espontâneo, intuitivo, produz suas próprias teorias. Conhecimento produzido por tentativas e erros. Compreende o cotidiano.
 Podemos considerar que a Psicologia do Senso Comum é Psicologia?

Sim, de certa forma podemos, mas ela não é suficiente para o todo que a ciência Psicológica representa.


Como é o momento histórico em que surge a ciência moderna e a psicologia:
Capitalismo nasce com a revolução burguesa, busca se opor a ideia de um mundo estável, organizado pela vontade divina, que era predominante no período medieval. Cada um já nasce com seu lugar no mundo. A Terra era vista como o centro do universo, e o mundo não precisava de psicologia.
Liberalismo surge como oposição a essas idéias: valorização do individuo, direitos iguais derivados da natureza humana: direitos á propriedade, á segurança, á liberdade e a igualdade. Capitalismo precisava do ser produtivo e consumidor.
Quando  terra não é mais vista como o centro do universo, passa-se a conceber o homem em movimento universo.
O mundo individualizado nasce com o capitalismo: passamos a noção de  “mundo interno”, existência de componentes individuais, singulares e pessoais começa com o capitalismo. A Psicologia surge como ciência necessária nesse processo histórico.
O homem necessita de condições para desenvolver seu potencial natural.
1875 ocorre um grande marco para a psicologia cientifica,WUNDT considerava a Psicologia como uma ciência intermediária entre as ciências da natureza e as ciências da cultura e não satisfeito com a descrição da psicologia como uma tarefa subjetiva resolve utilizar o método experimental para pesquisar os processos da vida mental. Através de seus experimentos controlados em laboratório reconhece o caráter básico dos elementos da consciência  e se diferencia do associacionismo, pois tem a consciência como processo ativo na organização de seu conteúdo.O pensamento humano é produto da natureza e criação da vida mental.
Sugere duas psicologias: Psicologia experimental e a Psicologia Social – cria a dicotomia entre natural e social, interno e externo. (que só será superada pelo método Dialético) 
O momento histórico em que ocorre a ascensão da burguesia, pregava a razão humana, a liberdade, possibilidade de transformação do mundo real e enfase no próprio homem é o berço da ciência moderna.
Esta ciência é racionalista, empírica, quantitativa e experimental.
Surgem as Principais abordagens:
Funcionalismo :  homem como organismo que funciona no ambiente
Estruturalismo: homem dotado de uma estrutura que permite que a experiência se torne consciente.
Associacionismo:  Aprendizagem se dá num processo de  associação de idéias.

No Brasil:
No período da colonização do Brasil, as ideias produzidas pelos jesuítas eram caracteristicamente ideias educacionais para a dominação dos indígenas, mulheres e crianças. As ideias psicológicas no Brasil são predominantemente educacionais, que mudam ao passar dos anos. A história da Psicologia pode ser identificado desde esses tempos, quando a pedagogia e a educação traziam questões relacionadas ao psicológico como, por exemplo, aprendizagem, desenvolvimento, função da família, motivação, comportamento, formação da personalidade entre outros. A maioria desses escritos defendiam os interesses das classes dominantes.
No sec. XIX, quando o Brasil deixa de ser colônia, a falta de infra estrutura para a vinda da família real ao Rio de Janeiro trouxe o predomínio de ideias higienistas, para a ordem e o progresso do país. Ainda neste período, as ideias da psicologia foram produzidas em outras áreas do conhecimento, na pedagogia as escolas normais discutiam sobre processos educativos.
Em meados do século essa preocupação é mais sistemática e frequente e ao final do século esses conteúdos passam a serem objetos próprios da psicologia educacional, com a República e o desenvolvimento cafeeiro na região sudeste, a experiencia da psicologia aplicada a educação, a psicologia se torna, cada vez mais uma prática diferenciadora e classificatória.
Em 1890 a Psicologia torna se uma disciplina do ensino normal.
Nos finais do sec. XIX e os primeiros anos do século seguinte houve um fortalecimento do pensamento liberal e a busca da modernidade. 
Em 1930 – com raízes na Educação são estabelecidos os tradicionais campos de atuação dentro da psicologia: nas organizações e na clinica.  As aulas de psicologia eram dadas nos cursos de pedagogia e filosofia. As práticas da psicometria está em sua auge usada engenheiros e administradores, para serem adotadas na seleção dos funcionários das empresas e por pedagogos para seleção de crianças pra formação das classes homogêneas.
Neste meio a Psicologia conquista maior autonomia por ser reconhecida nos EUA e Europa e passa a ser considerada uma ciência no Brasil em 1962.
Havia uma interdependência entre psicologia e educação por via da pedagogia, podemos afirmar que uma constitui a outra no Brasil. Pode se afirmar que a educação continuou sendo a base para o ensino e o estudo da psicologia no Brasil.
Após adquirir estatuto de ciência a psicologia educacional passa a ser secundaria, pois há uma preferência pela modalidade clinica e organizacional, isso explica o fato de a psicologia escolar ter caráter clinico-terapêutico, posição que tem sido criticada desde os anos 1970. 
Assim a Psicologia é reconhecida no Brasil em um momento em que é uma ciência classificatória, diferenciadora e estigmatizadora. A principal visão da Psicologia tomava os aspectos cognitivos como normais e naturais, e a diferença como anormal.

 As principais abordagens hoje, no ensino de Psicologia:
Psicanálise (Freud): ênfase no inconsciente
Comportamentalismo (behaviorismo - Skinner)):  homem produto de condicionamentos.

Existem outras abordagens: Psicologia Analítica (Jung), Humanismo, a Fenomenologia e diversas outras que podem ser listadas. As Universidades em sua grade curricular privilegiam o ensino de 2 ou 3 abordagens diferentes. 
Nenhuma abordagem superou a perspectiva mecanicista e determinista presentes em Wundt: onde interno e externo são vistos como opostos e a compreensão do fenômeno psicológico fica incompleta.

A Psicologia Sócio histórica que surge baseada na Psicologia histórico- cultural de Vigotski e propõe superar essas contradições, é uma nova abordagem da Psicologia, está em estudo e aplicação no Brasil desde os anos 1980..
Sempre digo aos meus alunos que não existe a melhor abordagem, existe a que é melhor para cada um e para mim a Psicologia Sócio Histórica (ou Histórico cultural) é a melhor.
Em uma pesquisa feita por BOCK (1999 citado por BOCK, 2007) ela lista os chavões mais comuns para a conceituação consensual entre os psicólogos sobre o fenômeno psicológico e o que temos é uma visão deslocada da realidade e do próprio individuo, o social é visto como algo estranho ao nosso eu. Falar da Sócio histórica e do fenômeno psicológico  é falar da sociedade. O fenômeno psicológico é a construção individual do mundo simbólico e ele só existe pela atividade humana, num relação constituída pela objetividade e subjetividade, se constituem uma á outra, dialeticamente.

O mundo psicológico é um mundo de relação dialética com o mundo social, o fenômeno se constitui em um processo de conversão do social para o individual.

A psicologia tem responsabilizado o sujeito por seus sucesso e fracassos, fala-se da família sem considerá-la em seu contexto social, fala-se do corpo sem inseri-lo na cultura, esta visão é fruto de uma psicologia que tem sua história colada aos interesses de grupos dominantes. E a Psicologia Sócio- Histórica propõe romper com este modelo de ciência e profissão.

Falarei mais sobre a Psicologia Sócio Histórica em outro post.


Para saber mais:
ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. Psicologia escolar e educacional: história, compromissos e perspectivas. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEEVolume 12 número 2 Julho/Dezembro de 2008. 469-475.
BOCK, Ana Merces Bahia (orgs). Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002. 
BOCK, Ana Mercês Bahia. Psicologia Sócio-histórica: uma perspectiva critica em Psicologia. In: BOCK, Ana Merces Bahia, GONÇALVES, M. Graça Marchina, FURTADO, Odair (orgs). Psicologia Sócio- Histórica: uma perspectiva crítica em Psicologia. São Paulo: Cortez: 2007.
FIGUEIREDO, Luis Claudio M. e SANTI, Pedro Luis Ribeiro de. Psicologia, uma (nova) introdução: uma visão histórica da psicologia como ciência. 3a.ed. São Paulo: EDUC, 2013. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Escreva suas dúvidas e seus comentários!