domingo, 29 de setembro de 2013

Marx e Engels

(os filósofos que sustentam a Psicologia Sócio Histórico Cultural)


Como disse anteriormente, a Psicologia é fundamentada historicamente por diversas correntes filosóficas e a compreensão da Psicologia de Vigotski passa pelo entendimento da história social, política e econômica da Russia, assim como a compreensão da filosofia Marxista.

A primeira parte são anotações sobre Marx, de uma aula que assisti do Prof. Dr. Netto Berenchtein, no doutorado, que somei a gentil contribuição do colega: Prof. Dr. Adalberto Botarelli . A ideia deste post é do prof. Adalberto.


Marx e Engels tiveram algumas diferenças, mas quando Marx lê a critica a política, ele se insere nesta filosofia política e juntos eles produzem muita coisa. 
Marx perde um filho, tamanha é a pobreza em que vive. Engels o ajuda como pode, mas ambos morrem paupérrimos.
A filosofia marxista é materialista. O materialismo é que mais se aproxima da ciência.
Marx nunca falou sobre o comunismo, o comunismo nunca existiu, para existir comunismo é preciso a supressão do Estado. Em Cuba, na Coreia e na China o que  acontece é um socialismo, mas nem um socialismo de verdade porque eles possuem um governo autoritário.
Dialética Hegeliana
A lógica apresenta, em relação á sua forma, três aspectos inseparáveis.
                Abstrato – acessível ao entendimento – tese
                Dialético – negativamente racional – antítese
                Especulativo – positivamente racional – síntese.


Marxismo é o conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais elaboradas primariamente por Karl Marx e Friedrich Engels e desenvolvidas mais tarde por outros seguidores.
No livro: "O desenvolvimento Cognitivo" do Lúria é claro que a compreensão do homem como um ser social histórico e que possui a capacidade de trabalhar e desenvolver a produtividade do trabalho, é uma tese marxista. É esta tese que sustenta a pesquisa descrita no livro. Esta capacidade é o que diferencia os homens dos outros animais e possibilita o progresso de sua emancipação da escassez da natureza, o que proporciona o desenvolvimento das potencialidades humanas. Baseado na concepção materialista e dialética da História, interpreta a vida social conforme a dinâmica da base produtiva das sociedades e das lutas de classes daí consequentes.

Marx queria ser professor de filosofia. Ele criticou o sistema filosófico idealista de Hegel. Enquanto que, para Hegel, da realidade se faz filosofia, para Marx a filosofia precisa incidir sobre a realidade. O núcleo do pensamento de Marx é sua interpretação do homem, que começa com a necessidade de sobrevivência humana. A história se inicia com o próprio homem que, na busca da satisfação de necessidades, trabalha sobre a natureza (o trabalho é compreendido como forma de relação do homem com a natureza). À medida que realiza este trabalho, o homem se descobre como ser produtivo e passa a ter consciência de si e do mundo através do desenvolvimento e aprimoramento da produtividade do trabalho, da ciência sobre a realidade. Percebe-se então que "a história é o processo de criação do homem pelo trabalho humano".


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Termos Importantes da Filosofia Marxista 

Idealismo: (Berkeley)
1 – O espírito (razão) cria a matéria.
2 – O mundo não existe fora do nosso pensamento
3 – São as nossas ideias que criam as coisas
Materialismo: (Marx)
1 – É a matéria que cria o espírito (razão)
2 – A matéria existe fora de todo espírito
3 – A experiência permite-nos conhecer as coisas (consciência)
Agnóstico: ( Hume e Kant)
Tentativa de conciliar o idealismo e materialismo 
Metafísica: Identidade, Isolamento das coisas, Divisões, Oposição de contrários.
Dialética: Mudança/Processo, Ação recíproca, Contradições (afirmação/negação), Transformação de quantidade em qualidade.
Materialismo dialético (filosofia)  - Parte da consideração de que os fenômenos materiais  são “processos”. Segundo o materialismo dialético, o espírito (razão) não tem consequência passiva da ação da matéria,  assim pode reagir sobre aquilo que o determina. Os fenômenos  mecanicistas são “processos”.
O ser social determina a consciência, sendo que as relações sociais de produção envolvem:
1 - Forças produtivas - Conjunto formado pelo clima, água, solo, matérias-primas, máquinas,  etc.
2 - Relação de Produção - É a relação trabalhista entre burguesia x proletariado, que fundamenta toda a sociedade.
3 - Modo de Produção  - É a consequência entre (forças produtivas e relação de produção ). É o desenvolvimento da vida social e econômica, etc.
4 - Contradição -  Luta de Classes
5 - Antagonismo de Classes - É a contradição entre as diferentes classes: “proletariado x  burguesia”. Isso acontece quando há a divisão da propriedade privada e a exploração trabalhista. Assim, surge a luta de classes, pois cada classe luta pelos próprios interesses.
6 - Mais valia -  Obtida pela exploração do trabalhador. O capitalista contrata o operário para trabalhar num certo período de hora a fim de alcançar determinada produtividade. Mas, o trabalhador estando disponível todo o tempo pode produzir o excedente que foi calculado. E o  trabalho excedente não é pago ao operário, ficando assim como lucro ao capitalista.
7 - Práxis - Marx desenvolve uma nova antropologia da “natureza humana”. Segundo sua teoria, o trabalho, o existir humano parte do “agir”, o homem se autoproduz à medida que transforma a natureza com sua força de trabalho. A condição humana depende de sua  existência social. A práxis consiste na ação humana transformadora, identificando teoria com a prática.
8 - Revolução e Práxis -  Marx nomeia pela ação humana de transformar a realidade. Significa a união dialética  da teoria e da prática. Para Marx, o Estado não supera as contradições da sociedade civil, mas é o reflexo delas e está aí para perpetuá-las. Por isso, só aparentemente visa ao bem comum, estando de fato a serviço da classe dominante.
Dialética de Marx
Apesar de influenciado por Hegel, Marx diz ter invertido a teoria dialética deste. Ao passo que Hegel, entre outros de sua época, postulava a crença no Absoluto (estado, ideias), Marx veio a inverter essa ordem (chamando a si mesmo de um hegeliano às avessas). Coloca a produção material de uma época histórica como a base da sociedade e, também, a criadora da subjetividade dessa época. Não é o conhecimento espiritual (racional) que muda a produção da existência e, consequentemente, a vida social, mas exatamente o contrário: com a atividade prática, a revolução (equiparação das forças produtivas com relação ao corpo social), o corpo social transforma também a sua subjetividade.
A relação da produção da vida prática e material para com as ideias não é, porém, determinística e reducionista como à primeira impressão pode parecer; existe uma relação dialética entre essas duas entidades. Marx tinha um pensamento prático e político que muitos entenderam como sendo um método a determinar a realidade, chamando-o de materialismo histórico e dialético, que mais tarde veio a ser denominado de marxismo.
O ser social é determinado pelas condições materiais de existência em que os seres humanos vivem na sociedade, não é a consciência que determina as suas condições materiais de existência, mas estas que determinam aquelas.
“ Pensa-se de maneira diferente nem palácio e numa choupana” (Engels)
“ Tudo  o que põe os homens em movimento deve necessariamente passar pelo cérebro, mas a forma que isso toma nele depende das circunstâncias” (Engels)
História
São as mudanças sociais ao longo do tempo e refletem condições materiais de existência, enquanto os idealistas consideram que as ideias geram vontade e levam à ação, os materialistas partem do princípio de que é a ação que produz vontade e gera ideias, sendo o fato histórico as ideias em luta. 


A natureza não possui história, possui leis que fazem reproduzir-se sempre de um modo cíclico repetitivo, assim a natureza aparenta ter uma dialética.
A história é a história de um processo de desenvolvimento do espírito.(Hegel) Espírito se expressa através do humano.
O estado atual de algo traz em si dos estados precedentes. Sendo assim  pode –se estudar algo hoje e conhecer o estado anterior.
A história não é exclusivamente positiva,o que se positivou, o que aconteceu, pois a história termina com o presente.

Para saber mais:
Arquivos Marxistas.
POLITZER,Georges. Princípios elementares de filosofia. São Paulo: Centauro, 2001.
LURIA, Alexader Romanovic. O desenvolvimento do Psiquismo. São Paulo, Imago, 2001.

Prof. Dr. Adalberto Botarelli
Graduação em Psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo (1991)
Mestrado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2002)
Doutorado em Psicologia Social - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2008). 
Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da EAD (UFF).Atualmente é professor titular da Universidade Bandeirante de São Paulo, com atuação no stricto sensu e Membro da Comissão de Ética em Pesquisa com Seres Humanos. Na Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo é membro do Comitê de Ética em Pesquisa. É professor da Universidade Nove de Julho. 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Qual é o compromisso da Psicologia?


Ultimamente, tem se buscado cada vez mais ressaltar o compromisso social da Psicologia, associando-o ao oferecimento de serviços as camadas menos favorecidas da população, fugindo de concepções psicologizantes e buscando perspectivas mais sociais.
A psicologia sempre esteve vinculada a sociedade Brasileira e suas demandas e nos faz questionar que compromisso é esse?

A Tradição da Psicologia no Brasil está ligada ao atendimento dos interesses da elite.
De acordo com os estudos realizados, as idéias psicológicas aqui produzidas atendiam ao interesse das elites de controlar, higienizar, diferenciar e categorizar. Isto se inicia na colonização do Brasil por Portugal, produzidas por representantes da Igreja. (Os estudos falam sobre características dos indígenas, mulheres e crianças e as formas de controlá-los e foram considerados como sendo do campo da Psicologia por tratarem de comportamentos e aspectos morais.)
No sec XIX, o Brasil deixa de ser colônia e as idéias psicológicas passam a ser produzidas pela medicina: ( a vinda da corte ao Brasil, gerou um grande desenvolvimento ao país e a cidade do Rio de Janeiro, produzindo um movimento higienista material e moral – marcado pelo surgimentos de escolas que se tornaram referencia no Brasil) buscava-se uma sociedade livre da desordem e dos desvios. Surgem os asilos e hospícios com o intuito de tratamento moral e as idéias da Psicologia buscavam contribuir com esse trabalho da medicina. A Educação estava marcada por práticas autoritárias e disciplinares buscava a higienização moral, e as idéias produzidas buscavam o controle dos impulsos infantis. As idéias da medicina falavam sobre o decaimento das raças e da imoralidade na sociedade, que era resolvido ou pela educação ou pela reclusão dos imorais. (a Moral era da natureza do Homem, que era perdida quando este se decaia- mas as qualidades desse homem possuidor de uma moral correspondiam aos europeus, assim apenas a elite possuía essa característica, que se distanciava do trabalhador brasileiro e dos escravos. Desta forma associava-se a imoralidade á pobreza e a negritude.)
No final do séc. XIX inicia-se a Republica e no séc. XX a riqueza cafeeira e o desenvolvimento da região sudeste. A Psicologia adquire estatuto de ciência na Europa seguida dos EUA. A Escola Nova passa a valorizar a infância e surgem as idéias desenvolvimentistas na Psicologia.
Neste período também surgem as idéias voltadas para a administração e trabalho, a Psicologia contribui com conhecimento e técnica que facilita a diferenciação das pessoas, formando grupos mais homogêneos nas escolas e nas empresas.
As guerras trouxeram o desenvolvimento de testes psicológicos, que viabiliza a prática diferenciadora e categorizadora da Psicologia. Foi com esse a[parelho ideológico que a Psicologia se tornou uma profissão reconhecida em 1962.
Uma profissão que tem servido apenas as elites, e tem pouco poder de negociação com o Estado para mostrar sua capacidade de contribuição com o social.
“A pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (1995), junto a categoria dos psicólogos, mostrou que, dos inscritos no CRP,  75,2% atuavam na profissão; 17,7% desistiram de exercer e 7,1% não chegaram a exercer a profissão. Dos que atuavam na profissão 54,7% estavam na área clinica/saúde; 17,86%, na educação; 13,05%, em trabalho; 5,48%, em social; 8,59% em outras áreas (incluindo psicologia jurídica, esporte, trânsito) e 0,35% não respondeu. Trabalhavam em consultório particular 41,15%, atuavam em hospitais 12,31%, em unidades básicas de saúde 3%, em ambulatórios de saúde mental 4%. Em instituições particulares trabalhavam 63,04% e no público 23,48%. ” (BOCK, 2003, p.19)
Temos muitos psicólogos na saúde, poucos trabalhando em instituições. Muitos em consultórios particulares que não está ao alcance da população mais carente e desta forma é uma inserção pequena na sociedade. A Psicologia também é uma profissão onde há pouca diversificação e isso reflete numa limitada contribuição a sociedade, onde se apresenta como uma ciência e uma profissão conservadoras, que não constroem nem debatem uma transformação social devido as idéias naturalizantes de homem.
Nos anos 70 a tentativa de aproximar a psicologia da sociedade se deu com a criação da Psicologia Comunitária, que nos anos 80 contribuiu para se tornar uma profissão feminina.

Alguns elementos ideológicos da profissão
Destacaremos três elementos:
1.       A Psicologia tem naturalizado o fenômeno Psicológico – No estudo de 1999, Bock estudou a concepção de fenômeno psicológico para os psicólogos brasileiros e notou que este fenômeno é visto como algo abstrato, que tem destino traçado e nasce com a pessoa. Este fenômeno é identificado como “verdadeiro eu”, que está em todos nós e se desenvolverá conforme o homem for aproveitando as situações de estimulação que o mundo social oferece.
Essa concepção de fenômeno psicológico traz uma Psicologia de costas para a vida social pois não é necessário compreender a cultura, a vida social, os valores sociais e os meios de produção para a compreensão do psiquismo. A pratica profissional acaba voltada para um suporte ao desenvolvimento natural, reencaminhando para o “trilho”,quando se percebe um desvio, e as teorias psicológicas ficam associadas as patologias, doenças, conflitos, desajustes e desequilíbrios, tornando difícil desenvolver uma profissão que consiga promover qualidade de vida e saúde.
O fenômeno psicológico não pode ser concebido como algo natural e universal. Nossa concepção sobre subjetividade deve unir o mundo objetivo com o subjetivo, para compreendê-los como produções históricas a partir da ação transformadora do homem sobre o mundo.
 “A humanidade deve ser vista  como algo que está no mundo objetivo, na medida em que o homem, ao transformar o mundo material para suprir suas necessidades, ultrapassou os limites da sua natureza animal e humanizou-se e se pôs no mundo, transformando-o e humanizando-o. Os objetos culturais, criados pelos homens, contem características humanizadas deste homem. Nascemos candidatos a humanidade”. (BOCK, 2003 p.22-23)
E assim o mundo psicológico deve ser concebido como construção deste mundo objetivo.
As concepções naturalizantes nos afastam da realidade social e ofuscam a construção social do psiquismo. Propor transformações psíquicas exigem um projeto social.
2.       Os Psicólogos não tem concebido suas intervenções como trabalho -  Se as principais características do psiquismo são vistas como naturais e o homem percorre seu caminho corretamente, então não há nada que possamos fazer pois trajeto será percorrido tranquilamente. No entanto esse mundo social acaba sendo visto como um mundo perverso, ruim e difícil que nos obriga a estar atentos ao desenvolvimento do psiquismo para que possamos corrigir, curar ou consertar o que se desviou. Nossa missão é consertar o que a natureza criou e a sociedade desviou. Mas se por essa mesma via, o sujeito é natural, o nosso trabalho é apenas uma colaboração para que o sujeito possa se autoconhecer e se auto conduzir. Os psicólogos não acreditam que direcionam o desenvolvimento do seu cliente, pois a direção desse desenvolvimento é dada pela natureza e o trabalho da psicologia acaba por ser desvelar o desconhecido, verdades sobre o sujeito de forma neutra.
O trabalho de intervenção direcionado e intencional não existe para a maioria dos psicólogos, todos os recursos de trabalho são vistos como neutros.  O psicólogo trabalha para transformar uma determinada direção, pois só assim ele sabe quando dar alta, ou quando que alguém precisa do seu trabalho. Ele tem um padrão do que é desejável ou esperado, mas a Psicologia nega esse direcionamento. (consideraremos um bom exercício, nós pensarmos sobre os critérios que permitem a nós psicólogos julgarmos a saúde psíquica de alguém- e veremos que eles estão ligados a sociedade)
3.       A Psicologia tem concebido os sujeitos como responsáveis e capazes de promover seu próprio desenvolvimento – Se estamos falando de um sujeito que possui características naturais, estamos falando de um sujeito que possui uma força que se movimenta e se desenvolve, produz sua própria individuação. A sociedade não tem papel algum, ela ajuda ou atrapalha, mas nunca é vista como construção humana. A Psicologia, então cria uma ideologia que responsabiliza o homem por seus próprios erros. Essa concepção é muito presente na educação quando atribui a dificuldade de aprendizagem ao sujeito e no trabalho o clinico do psicólogo que vê sua intervenção como uma contribuição para o sujeito se curar.

Os psicólogos tem se isentado de discutir projetos sociais, porque o homem e seu psicológico, da forma como são compreendidos não exigem essa discussão. São poucos os psicólogos que se manifestam em relação as questões sociais. Essas idéias precisam ser superadas (exemplos: crianças não aprendem na escola porque não se esforçam ou porque tem pais que bebem e mães ausentes, ou ainda mães pobres? Jovens dão tiros em crianças porque possuem natureza violenta)
É preciso trabalhar criticamente e inverter essas explicações, é preciso compreender as relações sociais e as formas de produção da vida como fatores responsáveis pela produção do mundo psicológico. Considerarmos a cultura e a sociedade como constituintes dessa subjetividade. E não olharmos esse psiquismo como natural, universal e isolado dentro do indivíduo. Essa visão aproximará a psicologia da sociedade.

Por fim: 
"A psicologia que queremos é a que tem compromisso social, mas um compromisso voltado para a transformação da sociedade. Queremos uma sociedade justa e igualitária  na qual todos tenham acesso á riqueza da produção humana, material e espiritual; onde todos vivam com dignidade sua humanidade naquilo que ela tenha de mais desenvolvido.”  (GONÇALVES, 2003)

Para saber mais:
BOCK, Ana Merces Bahia (orgs). Psicologia e Compromisso Social. São Paulo: Cortez, 2003. 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Um pouco de Cidadania.

Este texto eu escrevi quando trabalhava numa escola de ensino fundamental e médio, com o intuito de conscientizar alunos e pais sobre como agir diante de pessoas com deficiência. A escola estava iniciando o processo de inclusão de alunos deficientes e era necessário torna-la mais acessível socialmente para essas pessoas. 
A nossa sociedade é deficiente neste quesito, a convivência social é pouco acessível.  As calçadas são ruins, a sinalização ineficaz. Por isso é preciso valorizar todas as iniciativas como sinais sonoros para travessia de cegos, sinalização em relevo nas calçadas, assim como as vagas e os sanitários reservados para deficientes físicos. 
Muito se fala de Inclusão de pessoas com deficiência nas escolas regulares ou no trabalho, mas pouco as pessoas sabem sobre o assunto. Justamente por não termos convivido com a diversidade durante a nossa formação possuímos pré conceitos acerca da capacidade dessas pessoas e ficamos acanhados diante delas. Por isso estou escrevendo algumas dicas básicas, que considero serem de cidadania, e tende á ajudar á todos numa convivência melhor.
Deficientes Físicos:
Quando notar que alguma pessoa move-se com dificuldade, primeiramente ofereça ajuda e só empurre a cadeira de rodas ou ofereça algum apoio se ele aceitar. Embora muitas vezes nós vemos o banheiro de deficientes vazio, evite usar, pois os deficientes necessitam de um grande contato com o vaso sanitário e você sujando o vaso além de estar dificultando, estará prejudicando a saúde dele. O mesmo vale para as vagas no estacionamento, eles precisam das vagas maiores, por isso não estacione nos locais reservados.
Cegos:
Ao encontrar um cego esperando para atravessar uma rua ofereça ajuda e pergunte para onde ele quer ir. Não pegue no braço dele, pois o certo é oferecer seu braço, para que a pessoa não perca a orientação. Caminhe num ritmo razoável (mais para devagar), desviando de buracos e observe como ele o acompanha, lembre-se de avisá-lo se avistar um degrau. Outra dica muito importante é que você deve atravessar de uma esquina para outra em linha reta, jamais em diagonal, para que a pessoa não perca a noção de espaço e orientação. Em conversas não se preocupe se usar termos como “olhe” ou “veja”, note que o cegos costumam ser mais sérios e suas risadas são curtas, mas apenas por não poderem ver a reação de outras pessoas. Avise sempre quando chegar, quando outras pessoas se aproximarem e não se esqueça de avisar que você esta saindo da roda, quando o fizer, para que ele não fique falando sozinho.
Surdos:
Fale sempre de frente para eles, a maioria consegue fazer leitura labial. Se a pessoa possuir uma deficiência auditiva de moderada á leve, e que seja capaz de ouvir pergunte se ela prefere que você fale mais alto, e ao falar procure a altura da voz que ela seja capaz de ouvir. Se encontrar um surdo na rua e você não souber a Língua de Sinais, não tente fazer gestos, pois você pode confundi-lo. Tente falar de frente para ele e sem gesticular muito.  Há surdos oralizados e surdos sinalizados. Os oralizados fazem leitura labial e conversam normalmente. Os surdos sinalizados geralmente conversam com a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Por desenvolver bem a capacidade visual, dificilmente os surdos são vitimas de assaltos, pois andam sempre muito atentos e desconfiados, são também bastante alegres. Por dependerem muito dos estímulos visuais reconhecem as emoções e expressões faciais com mais facilidade.

Não tenha medo de usar as palavras surdos e cegos, embora as pessoas pensem que é errado, eles preferem que seja assim. Utiliza-se o termo deficiência visual ou auditiva quando o grau não é severo e a pessoa é capaz de discriminar estímulos com ou sem auxílio de aparelhos. Os deficientes não são agressivos, as crianças, assim como todos nós só agridem se conviverem nem ambiente onde são constantemente agredidas. 
E infelizmente quando agimos com preconceito e hostilidade, que é como a sociedade se mostra, só recebemos este de volta. Vigotski dizia que o pior problema que uma pessoa deficiente tem não é a deficiência em si, mas a forma como a sociedade a trata.
Lembra da propaganda do Carlinhos? (veja aqui) As pessoas com Síndrome de down, apesar de suas limitações, são sempre alegres e receptivas ao contato social, e muito sinceras.
Assim como todos nós eles também tem os seus dias ruins, mas depende de cada com pequenas ações não deixar que fique pior. 
O que os deficientes mais precisam é do seu respeito.

Para saber mais:
APAE


Raquel Alves Cassoli
Psicologa pela PUC- Campinas em 2000.
Professora Universitária na UNINOVE.
Mestre em Educação: Psicologia da Educação pela PUC-SP em 2006.
Doutoranda em Educação: Psicologia da Educação pela PUC-SP.


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Repúdio.

Sábado dia 31 de agosto ocorreu na UFMS um evento ótimo. Foi um  mini-curso "Por Uma Clínica Histórico-Cultural" faz parte do projeto "Temas marginais em Psicologia Histórico-Cultural" que visa trazer ao Câmpus Paranaíba (CPAR), da UFMS, pesquisadores que trabalham com temas que historicamente foram pouco desenvolvidos pela Psicologia Histórico-Cultural ou que pelo menos no Brasil não se tenham muitas discussões a respeito, assim, alguns dos assuntos que se pretende abordar são: a clínica, o abuso de substâncias, o inconsciente, a psicopatologia, gênero e etnia, entre outros. O projeto, muito interessante, que pretende ocorrer uma vez por mês no câmpus, adota o formato de mini-cursos por permitir que os pesquisadores possam expor com tempo adequado suas ideias e que haja condições propícias ao debate. Foi realizado pelo Instituto Aberto de Psicologia Histórico-Cultural - Unidade de Paranaíba. O tema discutido foi "Por Uma Clínica Histórico-Cultural"  e trouxe Achilles Delari Junior e Armando Marino Filho. Foi GRATUITO.
Ao que tudo indica o mini curso foi ótimo e transcorreu tudo bem, já tem outro previsto para o mês de setembro. Após o evento, o Professor Doutor Nilson Berenchtein Netto  levou os convidados a um restaurante e neste local encontram com o prefeito da cidade que agrediu o professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, verbal e fisicamente, pelo fato do professor ter pedido um debate sobre a vinda do curso de medicina veterinária.

A seguir está a carta aberta escrita pelo professor, que na sessão da câmara dos vereadores foi impedido de se defender (veja aqui) e ameaçado por um vereador que disse que o prefeito foi bonzinho pois devia logo ter pago alguém para acabar com ele.
Considero tudo isto inaceitável.


Carta à Comunidade Acadêmica da UFMS/CPAR

Estimadas e Estimados colegas Professores, Técnicos e Estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Câmpus Paranaíba;

Escrevo para relatar um gravíssimo e preocupante acontecido que acredito nos atingir a todas e todos.

Hoje (31/08), realizamos uma atividade no câmpus, um mini-curso com dois professores de fora do município sobre a prática clínica na perspectiva Histórico-Cultural. Após o evento, fomos levar os palestrantes para jantar no restaurante Come-Come. Enquanto conversávamos sobre nossas práticas profissionais, chegou à nossa mesa o Prefeito do Município, Diogo Robalinho de Queiroz, também conhecido pela alcunha de Tita ou Diogo Tita, bravejando quem éramos nós, “barbudos”, e que ele estava trazendo para o município, junto com a reitora Célia, o curso de Medicina Veterinária; ao que respondi lamentar a vinda de tal curso (posição que, aliás, defendo publicamente).

O Senhor Prefeito, com um comportamento notadamente alterado, respondeu-me com um TAPA no rosto e continuou bravejando: “Cala a boca, sabe quem eu sou? Eu sou o prefeito desse município!” e continuo, “lamentáveis são suas barbas”, essas “barbas de buceta”, e que não sabemos o custo que é manter uma universidade e que somos um “bando de vagabundos que chupinhamos o Estado”. Nesse momento, um dos professores convidados pediu que ele se acalmasse, pois em nossa conversa sequer estávamos falando do município ou da Universidade, ao que o Senhor Prefeito respondeu com outro TAPA, em sua mão, mandando-lhe também calar a boca. Mandou-nos a todos calarmos a boca inúmeras vezes, enquanto repetia, gritando descontrolado, o mesmo discurso relatado, com poucas variações e alguns acréscimos como: “Fui eu quem trouxe a Universidade Estadual para Paranaíba e o Ramez Tebet a Federal”, “Queria eu ser psicólogo, esses vagabundos que vivem em seus mundinhos e não pagam suas contas” e “Esses professores vagabundos que vêm de Campo Grande chupinhar nosso dinheiro”. Quando as pessoas que o acompanhavam foram retirá-lo, ele começou a gritar à distância, para as pessoas que estavam no restaurante: “Olhem para esses vagabundos que vem aqui nos atrapalhar, EU estou trazendo o curso de Medicina Veterinária para essa cidade”. Retornando à nossa mesa e repetindo as mesmas ofensas, fora novamente conduzido por seus acompanhantes à mesa em que estava sentado.
Minutos depois, mais uma vez conduzido por seus acompanhantes à sua camionete, retornou à mesa, apontando o dedo na cara do professor palestrante (nosso convidado) dizendo que eles ainda irão conversar, que ele o conhece, com uma evidente ameaça ao professor e que entendemos extensiva a nós professores da UFMS/CPAR, já que não seria possível ao Senhor Prefeito conhecer nosso convidado, por ele não ser do município ou sequer do estado.

O fato ocorrido demonstra a completa ausência de trato com a coisa pública por parte do Senhor Perfeito. Fui abordado em público, num espaço não reservado a discussões de tal monta, para tratar de assuntos que deveriam ser discutido em adequados fóruns.

A isso acresça-se o ABUSO DE PODER perpetrado pelo Senhor Prefeito contra os ali presentes quando junto com o tapa, evoca sua condição de administrador público: “Cala a boca, sabe quem eu sou? Eu sou o prefeito desse município!”

Diante disso, gostaria de desenvolver algumas reflexões:

1 – Tal fato acontece exatamente no dia seguinte ao que estive em Campo Grande, junto a outros professores e representante discente em reunião da ADLeste com a Reitora e pró-reitores, como representante sindical deste campus na composição de comissão organizada pela ADLeste, expondo as condições deterioradas de trabalho e estudo de professores, técnicos e estudantes nos câmpus da UFMS (inclusive enviei convite aos colegas professores e técnicos convidando à reunião em que discutimos o conteúdo do documento apresentado à Magnífica Reitora e os Pró-reitores).

2 – É uma situação aviltante o fato de que um trabalhador desta Universidade tenha sido chamado de vagabundo, quando nós professores (ao menos os do curso de Psicologia) historicamente, nesse câmpus, trabalhamos carga-horária superior àquela que os sindicatos defendem como razoáveis, em condições precárias e que nos impossibilitam de desenvolver adequadamente nossas atividades-fim (ensino, pesquisa e extensão).

3 – Ademais, o Senhor Prefeito, ao referir-se a nós, psicólogos, como “vagabundos que vivem em seus mundinhos”, além de denotar seu profundo desconhecimento da realidade da produção de conhecimento psicológico, bem como da realidade dos profissionais psicólogos, profere uma grave ofensa ao conjunto da categoria dos psicólogos. Também nossos alunos, futuros psicólogos, foram gravemente ofendidos em suas escolhas de projeto profissional. Por fim, o prefeito demonstrou, publicamente, o desprezo que nutre por estes profissionais e, por derivação, pela existência de tal curso neste câmpus. 

4 – Ao dizer que não pago minhas contas – o que, antes de tudo é uma calúnia e só mostra o despreparo do Senhor Prefeito com os assuntos da vida pública –, o Senhor Prefeito olvida-se do fato de que é o conjunto de impostos que nós, trabalhadores, pagamos, que retorna a ele sob a forma de salário para que na investidura do seu cargo cuide da administração pública da cidade. 

5 – É um fato vergonhoso a qualquer munícipe o de que o prefeito de sua cidade tenha agredido fisicamente e ofendido a um professor que se dispôs, sem qualquer remuneração ou pró-labore, a deslocarem-se a um campus de interior para trazer-nos uma discussão de altíssimo nível, enquanto se gaba por estar trazendo um novo curso para esta mesma Universidade, que imagino desconhecer as atuais condições de trabalho e estudo de professores, técnicos e estudantes.

Diante disso proponho:

1 – Mesmo estando aprovada a vinda do curso de Medicina Veterinária para o câmpus, retomarmos o debate amplo e aprofundado acerca desse fato, que é também uma questão política.

2 – A retomada das discussões a respeito das condições de trabalho e estudo a que nós, professores, técnicos e estudantes, estamos sujeitos na UFMS.

3 – Que haja ampla discussão acerca dessa afronta à autonomia da universidade pública.

4 – Que discutamos as precárias condições oferecidas pelo município (transporte público, assistência, saúde e trabalho) para a permanência dos estudantes no município e no câmpus.

5 – Que a Universidade se manifeste oficialmente em relação ao ocorrido.

Paranaíba/MS, 31de agosto de 2013.

Professor Doutor Nilson Berenchtein Netto

Psicólogo – CRP/MS 14/05620-9

Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Câmpus Paranaíba

Coordenador do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Câmpus Paranaíba



Abuso de poder, falta de respeito com o professor e com a Psicologia. Este fato ecoou pelas redes sociais e recebeu notas de repúdio do Conselho federal e regional de Psicologia, ABRAPSO, alunos da universidade, Sindicato dos psicólogos no Paraná, ADUNESP e outras entidades, inclusive entidades internacionais.

Estou com o Professor Netto e faço uso deste espaço para que, quem sabe, com esta mobilização esse prefeito possa saber o lugar dele (que não é na prefeitura, uma vez que ele deveria estar ao lado do povo). 

Sim, isto é tema de aula, é preciso que as pessoas saibam e reivindiquem seus direitos. Lutaremos contra a violência do sistema capitalista e desta sociedade elitista.


terça-feira, 3 de setembro de 2013

Psicologia, afinal que ciência é essa?

Compreender a Psicologia como ciência é preciso retomar toda história da filosofia e a produção do conhecimento, mas aqui não conseguirei explanar sobre tudo isso, mas pretendo contar um pouco como foi que a Psicologia adquiriu o status de ciência e um pouquinho de sua história.
Podemos analisar, historicamente, a produção de ideias antigas ligadas à psicologia como, por exemplo, na Grécia, que além da filosofia e psicologia, preocupava-se com propostas educacionais e sua ação pedagógica, visível ao estudar Protágoras e os sofistas, Pitágoras e escola pitagórica, Sócrates e  a maiêutica, Platão e a academia, entre muitos outros. Sob essa ótica podemos estudar o pensamento medieval e relacionar filosofia e teologia, educação e pedagogia relacionadas às ideias psicológicas.
Podemos observar que a importância destes estudos nos permite afirmar que a relação entre psicologia e filosofia acompanha a história de pensamento humano. 
A psicologia ainda não era considerada uma ciência, era produzida por um saber do senso comum.
Senso comum é um conhecimento espontâneo, intuitivo, produz suas próprias teorias. Conhecimento produzido por tentativas e erros. Compreende o cotidiano.
 Podemos considerar que a Psicologia do Senso Comum é Psicologia?

Sim, de certa forma podemos, mas ela não é suficiente para o todo que a ciência Psicológica representa.


Como é o momento histórico em que surge a ciência moderna e a psicologia:
Capitalismo nasce com a revolução burguesa, busca se opor a ideia de um mundo estável, organizado pela vontade divina, que era predominante no período medieval. Cada um já nasce com seu lugar no mundo. A Terra era vista como o centro do universo, e o mundo não precisava de psicologia.
Liberalismo surge como oposição a essas idéias: valorização do individuo, direitos iguais derivados da natureza humana: direitos á propriedade, á segurança, á liberdade e a igualdade. Capitalismo precisava do ser produtivo e consumidor.
Quando  terra não é mais vista como o centro do universo, passa-se a conceber o homem em movimento universo.
O mundo individualizado nasce com o capitalismo: passamos a noção de  “mundo interno”, existência de componentes individuais, singulares e pessoais começa com o capitalismo. A Psicologia surge como ciência necessária nesse processo histórico.
O homem necessita de condições para desenvolver seu potencial natural.
1875 ocorre um grande marco para a psicologia cientifica,WUNDT considerava a Psicologia como uma ciência intermediária entre as ciências da natureza e as ciências da cultura e não satisfeito com a descrição da psicologia como uma tarefa subjetiva resolve utilizar o método experimental para pesquisar os processos da vida mental. Através de seus experimentos controlados em laboratório reconhece o caráter básico dos elementos da consciência  e se diferencia do associacionismo, pois tem a consciência como processo ativo na organização de seu conteúdo.O pensamento humano é produto da natureza e criação da vida mental.
Sugere duas psicologias: Psicologia experimental e a Psicologia Social – cria a dicotomia entre natural e social, interno e externo. (que só será superada pelo método Dialético) 
O momento histórico em que ocorre a ascensão da burguesia, pregava a razão humana, a liberdade, possibilidade de transformação do mundo real e enfase no próprio homem é o berço da ciência moderna.
Esta ciência é racionalista, empírica, quantitativa e experimental.
Surgem as Principais abordagens:
Funcionalismo :  homem como organismo que funciona no ambiente
Estruturalismo: homem dotado de uma estrutura que permite que a experiência se torne consciente.
Associacionismo:  Aprendizagem se dá num processo de  associação de idéias.

No Brasil:
No período da colonização do Brasil, as ideias produzidas pelos jesuítas eram caracteristicamente ideias educacionais para a dominação dos indígenas, mulheres e crianças. As ideias psicológicas no Brasil são predominantemente educacionais, que mudam ao passar dos anos. A história da Psicologia pode ser identificado desde esses tempos, quando a pedagogia e a educação traziam questões relacionadas ao psicológico como, por exemplo, aprendizagem, desenvolvimento, função da família, motivação, comportamento, formação da personalidade entre outros. A maioria desses escritos defendiam os interesses das classes dominantes.
No sec. XIX, quando o Brasil deixa de ser colônia, a falta de infra estrutura para a vinda da família real ao Rio de Janeiro trouxe o predomínio de ideias higienistas, para a ordem e o progresso do país. Ainda neste período, as ideias da psicologia foram produzidas em outras áreas do conhecimento, na pedagogia as escolas normais discutiam sobre processos educativos.
Em meados do século essa preocupação é mais sistemática e frequente e ao final do século esses conteúdos passam a serem objetos próprios da psicologia educacional, com a República e o desenvolvimento cafeeiro na região sudeste, a experiencia da psicologia aplicada a educação, a psicologia se torna, cada vez mais uma prática diferenciadora e classificatória.
Em 1890 a Psicologia torna se uma disciplina do ensino normal.
Nos finais do sec. XIX e os primeiros anos do século seguinte houve um fortalecimento do pensamento liberal e a busca da modernidade. 
Em 1930 – com raízes na Educação são estabelecidos os tradicionais campos de atuação dentro da psicologia: nas organizações e na clinica.  As aulas de psicologia eram dadas nos cursos de pedagogia e filosofia. As práticas da psicometria está em sua auge usada engenheiros e administradores, para serem adotadas na seleção dos funcionários das empresas e por pedagogos para seleção de crianças pra formação das classes homogêneas.
Neste meio a Psicologia conquista maior autonomia por ser reconhecida nos EUA e Europa e passa a ser considerada uma ciência no Brasil em 1962.
Havia uma interdependência entre psicologia e educação por via da pedagogia, podemos afirmar que uma constitui a outra no Brasil. Pode se afirmar que a educação continuou sendo a base para o ensino e o estudo da psicologia no Brasil.
Após adquirir estatuto de ciência a psicologia educacional passa a ser secundaria, pois há uma preferência pela modalidade clinica e organizacional, isso explica o fato de a psicologia escolar ter caráter clinico-terapêutico, posição que tem sido criticada desde os anos 1970. 
Assim a Psicologia é reconhecida no Brasil em um momento em que é uma ciência classificatória, diferenciadora e estigmatizadora. A principal visão da Psicologia tomava os aspectos cognitivos como normais e naturais, e a diferença como anormal.

 As principais abordagens hoje, no ensino de Psicologia:
Psicanálise (Freud): ênfase no inconsciente
Comportamentalismo (behaviorismo - Skinner)):  homem produto de condicionamentos.

Existem outras abordagens: Psicologia Analítica (Jung), Humanismo, a Fenomenologia e diversas outras que podem ser listadas. As Universidades em sua grade curricular privilegiam o ensino de 2 ou 3 abordagens diferentes. 
Nenhuma abordagem superou a perspectiva mecanicista e determinista presentes em Wundt: onde interno e externo são vistos como opostos e a compreensão do fenômeno psicológico fica incompleta.

A Psicologia Sócio histórica que surge baseada na Psicologia histórico- cultural de Vigotski e propõe superar essas contradições, é uma nova abordagem da Psicologia, está em estudo e aplicação no Brasil desde os anos 1980..
Sempre digo aos meus alunos que não existe a melhor abordagem, existe a que é melhor para cada um e para mim a Psicologia Sócio Histórica (ou Histórico cultural) é a melhor.
Em uma pesquisa feita por BOCK (1999 citado por BOCK, 2007) ela lista os chavões mais comuns para a conceituação consensual entre os psicólogos sobre o fenômeno psicológico e o que temos é uma visão deslocada da realidade e do próprio individuo, o social é visto como algo estranho ao nosso eu. Falar da Sócio histórica e do fenômeno psicológico  é falar da sociedade. O fenômeno psicológico é a construção individual do mundo simbólico e ele só existe pela atividade humana, num relação constituída pela objetividade e subjetividade, se constituem uma á outra, dialeticamente.

O mundo psicológico é um mundo de relação dialética com o mundo social, o fenômeno se constitui em um processo de conversão do social para o individual.

A psicologia tem responsabilizado o sujeito por seus sucesso e fracassos, fala-se da família sem considerá-la em seu contexto social, fala-se do corpo sem inseri-lo na cultura, esta visão é fruto de uma psicologia que tem sua história colada aos interesses de grupos dominantes. E a Psicologia Sócio- Histórica propõe romper com este modelo de ciência e profissão.

Falarei mais sobre a Psicologia Sócio Histórica em outro post.


Para saber mais:
ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. Psicologia escolar e educacional: história, compromissos e perspectivas. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEEVolume 12 número 2 Julho/Dezembro de 2008. 469-475.
BOCK, Ana Merces Bahia (orgs). Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002. 
BOCK, Ana Mercês Bahia. Psicologia Sócio-histórica: uma perspectiva critica em Psicologia. In: BOCK, Ana Merces Bahia, GONÇALVES, M. Graça Marchina, FURTADO, Odair (orgs). Psicologia Sócio- Histórica: uma perspectiva crítica em Psicologia. São Paulo: Cortez: 2007.
FIGUEIREDO, Luis Claudio M. e SANTI, Pedro Luis Ribeiro de. Psicologia, uma (nova) introdução: uma visão histórica da psicologia como ciência. 3a.ed. São Paulo: EDUC, 2013.