terça-feira, 13 de agosto de 2013

Star Wars: A Saga do Herói e a Psicologia Analítica.

Olá, pessoal.
Este primeiro texto é muito significativo para mim. Foi o primeiro texto que escrevi e publiquei numa revista, do tipo magazine (não é uma revista científica), e foi o primeiro grande exercício de escrita para mim fora da faculdade. 

O tema escolhido foi a Psicologia Analítica, pois em 2002 estava muito envolvida com estudos sobre mitologia, a obra de Joseph Campbell e da obra de Carl G. Jung. Filmes como Star Wars e O Senhor dos Anéis nos possibilita exercitar a aplicação da mitologia na vida moderna e refletir sobre a Psicologia Analítica. O texto não foi alterado e sua escrita aconteceu na ocasião do lançamento do 5o filme da saga Star Wars, em 2002. Para o fãs da saga a Disney, que possui o direito sobre a obra atualmente, pretende fazer um novo filme para 2015, vamos aguardar para os rumos que  história terá.
Boa leitura


Star Wars: o Mito e a Psicologia aplicada á vida moderna. 
 Como um chamado para que a humanidade volte a mergulhar no vasto e profundo abismo de seus conflitos existenciais, estréia agora no Brasil o filme “Guerra nas Estrelas – O Ataque dos Clones”, de George Lucas. Não é por mero acaso que o filme está sendo ansiosamente aguardado no mundo inteiro. Neste segundo episódio e quinto filme da série, o consagrado cineasta nos remete á velha luta do homem para romper suas amarras, enfrentar as forças do mal, encontrar sua própria identidade, livrar-se dos preconceitos e, livre, concretizar seus sonhos e esperanças.

Muitos aspectos desta série têm despertado a curiosidade de estudiosos.
Inicialmente acreditava-se que a trilogia não era composta de apenas três filmes, e sim nove, ou três trilogias previstas inicialmente por Lucas. Em recentes entrevistas ele desmentiu essa versão dos nove filmes, dizendo que a história termina mesmo no Episódio VI - O Retorno de Jedi, completando a saga do herói Anakin Skywalker, pai de Luke, que após receber treinamento de Cavaleiro Jedi, sucumbe ao lado negro da Força levado pelo Imperador Palpatine, mas no final se redime ao salvar Luke da morte certa pelas mãos do Imperador, morrendo como um digno representante do lado "claro" da Força. Essa terceira trilogia vêm sendo contada aos poucos através de livros e histórias em quadrinhos, já quanto à possibilidade de virarem filmes, não há previsões, pois os atores estão envelhecendo e o próprio Lucas diz não querer ficar até os setenta anos se dedicando a Guerra nas Estrelas. Os primeiros filmes lançados foram feitos com pouco recurso financeiro, tecnológico e muita criatividade nos efeitos especiais se comparado aos filmes de ficção lançados na época. Mas foram relançados com novos efeitos digitais, ao mesmo tempo em que estreava nos cinemas o “Star wars I – A ameaça fantasma”.
Lucas decidiu iniciar a saga de Star Wars pelo episódio IV para conquistar o publico com momentos de ação, a idéia de que haviam filmes antecedentes e posteriores, conquistou os telespectadores. Mas o que realmente prende a atenção das pessoas, e das quais, elas não se dão conta; são os aspectos mitológicos do filme. Logo no inicio de cada episódio aparece um texto na tela, dizendo: “Há muito tempo atrás, numa galáxia muito distante...” o que podemos afirmar que sugere o mesmo efeito do: “Era uma vez...” que dá inicio aos contos de fadas e histórias infantis.
Modelos e exemplos para a vida, os contos de fada, assim como os mitos, exercem função de extraordinária importância em nossas existências. Retratam a sociedade e se conservam na mente das pessoas como a oferecer – lhes perspectivas e explicações para o que lhes acontecem. Tudo o que os seres humanos têm em comum, revela-se nos mitos. São pistas para as potencialidades espirituais. Amostras do que somos capazes de conhecer e de experimentar interiormente. O mito é o relato da experiência de vida. Um canal maravilhoso que liga nosso inconsciente á realidade. Como Joseph Campbell nos diz, quase que em poesia, uma das definições mais belas do que trata a mitologia – a mitologia é a canção do universo – música que nós dançamos mesmo quando não somos capazes de reconhecer a melodia. Mitos são aquilo que os seres humanos têm em comum, são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação, através dos tempos.  São metáforas da potencialidade espiritual do ser humano, e os mesmos poderes que animam nossa vida animam a vida do mundo.
E justamente por dizer sobre aspectos internos das pessoas é que as atraem tanto, e tem sido objeto de estudo para a Psicologia e a Filosofia. Um exemplo que podemos usar para esclarecer a ligação da Psicologia com a Mitologia é o Complexo de Édipo. Freud utilizou o mito de Édipo para explicar um mecanismo, tido como normal no desenvolvimento da criança, onde esta identificada com a figura do pai, passa á disputar com ele pela atenção da mãe. E a menina identificada com a figura da mãe, passa á disputar com ela á atenção do pai.Através de uma visão geral da primeira trilogia concluída, podemos dizer que o mito de Édipo esta presente, pois Luke se apaixona pela irmã e luta contra o pai. Outro elemento mitológico presente é o mito universal de que uma “Força” rege o mundo. Existe um mal que possui força igual (porem oposta) ao bem e a lutas entre eles, observadas na trama, também esta relacionada ás lutas internas. Há a figura do salvador, que torna Star Wars num mito moderno, mundial e transcendental. Estes elementos mostram sua ligação ao mito sagrado. Mas a confirmação Star Wars como um mito moderno é a presença do Mito do Herói, que é o mais comum e mais conhecido do mundo. É encontrado em todos os povos desde os mais primitivos aos mais contemporâneos. Segundo Jung, psicólogo analítico, são histórias presentes em nossos sonhos, tem um grande poder de sedução e uma importância psicológica profunda. No plano individual, o herói vai estar presente durante toda a vida, em todos os momentos em que se faz necessária alguma mudança profunda, que muitas vezes nos parece impossível de ser realizada. São mitos que variam muito em seus detalhes, mas quando examinados atentamente, podemos perceber o quanto se assemelham na estrutura, pois guardam uma característica universal.
Essas características foram traçadas por Jung: e a história do herói que conhecemos, se inicia com seu nascimento humilde e milagroso. Ele prova de sua força sobre-humana precocemente, tem sua ascensão rápida ao poder e a notoriedade, sua luta é triunfante contra as forças do mal, passa por provações e precisa vencer tentações, há um declínio, geralmente por motivo de traição e por fim um ato de sacrifício “heroico” onde sempre morre. Joseph Campbell ressalta que nessas narrativas clássicas o herói começa relutante, mas há augúrios e sinais que ante vêem sua grandeza pré-destinada. Ele recebe conselhos sábios de um mentor, ganha companheiros inesperados, porém leais, enfrenta uma série de crises cada vez mais críticas, explora o poço de seus próprios medos e emerge, vitorioso, levando a vitória ou o talismã de volta à sua tribo, seu povo ou sua nação que o admira profundamente."
É importante lembrar, que para cada etapa que o herói passa, ele alcança um nível de maturidade Psicológica, esta é a grande força que o mito exerce em nossas vidas. Um exemplo que cito através de Joseph Campbell, diz que "todo adolescente é um Luke Skywalker que tem de sair de seu planeta (a família) e partir para a conquista do mundo. Tem de abandonar velhos modelos e construir os seus próprios, numa verdadeira cruzada heroica em direção ao desenvolvimento de sua personalidade. Terá que lutar contra a tentação de permanecer na origem, daí pode-se entender o fato de Luke Skywalker ter de enfrentar seus próprio pai na figura do mal de Darth Vader”.
Podemos falar do vilão Darth Vader: como sendo o lado negro de nossa sociedade. Quando ele retira a sua máscara, o que vemos é um rosto informe, de alguém que não se desenvolveu como indivíduo humano. Ele é um robô. É um burocrata, vive não nos seus próprios termos, mas nos termos de um sistema imposto. Este é o perigo que hoje enfrentamos, como ameaça às nossas vidas. O sistema vai conseguir achatá-lo e negar a sua própria humanidade, ou você conseguirá utilizar-se dele para atingir seus propósitos humanos? Como se relacionar com o sistema de modo a não o ficar servindo compulsivamente? O que é preciso é aprender a viver no tempo que nos coube viver, como verdadeiros seres humanos. E isso pode ser feito mantendo-se fiel aos próprios ideais, como Luke Skywalker no filme, rejeitando as exigências impessoais com que o sistema pressiona. Esta visão nos traz alguns questionamentos á respeito do sistema: Que tipo de vida ou sucesso é esse que buscamos, que nos obriga a nunca mais fazer nada do que queremos?
Para a sociedade o mito mostra a identidade coletiva e para o individuo, o ajuda em seu esforço de encontrar e afirmar sua personalidade, pois o mais importante não é a vitória e sim sua realização como herói. A série Star Wars retrata de maneira moderna o mito do herói e qualquer semelhança com a trajetória de Cristo não é mera coincidência.
Os mitos aplicados á vida moderna possuem um grande valor e cada um de nós pode se tornar um Darth Vader, pois se o indivíduo insiste num determinado programa e não dá ouvidos ao próprio coração, corre o risco de um colapso esquizofrênico. O mundo está cheio de pessoas que deixaram de ouvir a si mesmos, ou ouviram apenas os outros, sobre o que deviam fazer, como deviam se comportar e quais os valores segundo os quais deveriam viver. Mas qualquer um tem potencialidade para correr e salvar uma criança. Está no interior de cada um a capacidade de reconhecer os valores da vida, para além da preservação do corpo e das ocupações do dia-a-dia.

Espero que vocês leiam muitos mitos e que não deixem de ouvir seus corações, pois só ele é capaz de dizer o que é mais importante. E que a “força” esteja com vocês!

   Para saber mais:

CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 1990.
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 1987.
JUNG, Carl Gustav (orgs). O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1964. 
SILVEIRA, Nise da. Jung: Vida e Obra, Rio de Janeiro: Paz e Terra,1981.

 Raquel Alves Cassoli
Professora Universitária  - UNINOVE
Psicóloga graduada pela PUC- Campinas, 2000
Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP - 2006
Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC-SP





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