segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Proposta de Intervenção com Idosos com Demência.

Hoje quem está escreve é a Simone Manzaro, minha aluna na graduação do curso de Psicologia. Ela é uma aluna atenta e dedicada, acredito que será uma ótima profissional e escolheu contar sobre intervenção com idosos. Espero que gostem.
Boa leitura.

Educação em Saúde é Possível? Proposta de Intervenção com Idosos com Demência.

por Simone Manzaro

Esse texto mais do que apenas uma tentativa de aproximar o processo educativo das intervenções preventivas em saúde, é uma forma de explicitar um pouco da minha atuação profissional enquanto estagiária em Psicologia.
Ao longo da graduação, conhecemos muitas teorias, fazemos muitas escolhas ainda que prematuras, me orgulho da quão prematura foi a minha, a qual me encantou e me direcionou ao humilde e singelo conhecimento que possuo hoje.
Temos como fato que a população está envelhecendo mais, estimativas apontam que até 2025 seremos a maior população em idosos do mundo, fato este que coloca o Brasil, entre os seis primeiros países com a maior população dentro dessa faixa etária. Devemos aprender a lidar com as novas questões inerentes ao envelhecimento que irão surgir ao longo desse tempo.
É possível envelhecer ativo e com saúde, porém cada vez mais, devido à própria estimativa de vida que aumenta consideravelmente e pela tecnologia médica que nos permite maiores cuidados, nos encontramos em situações onde o aparecimento de doenças crônicas e irreversíveis se tornam praticamente comum após os 60 anos.
Estamos falando principalmente delas, as demências, classificadas pelo DSM-IV como: “um transtorno cognitivo, caracterizado por múltiplos déficits cognitivos principalmente nas áreas da memória, linguagem e funções executivas, que são decorrentes de efeitos fisiológicos originados de uma condição médica geral, do uso de alguma substância ou de causas diversas podendo interferir com intensidade no desempenho social e profissional do indivíduo”.
Boa parte das demências não apresenta causa e não tem cura, o que também pode dificultar o seu tratamento, principalmente sua prevenção. Como podemos pensar em prevenir uma doença se nem ao menos conhecemos a sua causa? O importante é ter em mente que pode existir uma doença incurável, mas jamais uma pessoa intratável.
Devido a essas questões é necessário que cada vez mais possamos criar estratégias e intervenções para trabalhar com essa população, podendo usar de reabilitação ou estimulação cognitiva para trazer algum benefício mesmo que por tempo determinado.
A cognição pode ser entendida nesse contexto como a inteligência humana, através dela é possível à aquisição de informações, resolução de problemas, evocação de memórias, julgamento, imaginação dentre outros.
É importante esclarecer que as duas intervenções apesar do nome parecido, tratam-se de direcionamentos diferentes. A reabilitação de forma geral pretende reabilitar funções cognitivas que foram perdidas por motivos diversos, como acidentes vasculares, afecções neurológicas, acidentes etc; A estimulação cognitiva tem a intenção de estimular as funções cognitivas que ainda não foram totalmente perdidas, tendo como objetivo primário a estagnação ou minimização dessas perdas, como é o caso das demências.
E onde entra a educação em saúde?
A educação no âmbito da saúde constitui em um conjunto de saberes e práticas que são orientados para a prevenção de doenças e promoção de saúde, tendo como base o desenvolvimento das capacidades individuais e coletivas, não levando em consideração sua ideia primária, ou seja, a educação com intenção sanitarista.
A ideia de aplicar a educação em saúde, foco da nossa proposta, é de ao criar estratégias e intervenções para trabalhar com pessoas com demências, atentar-nos não só ao tipo de exercícios que serão utilizados bem como a qualidade com que esses devem ser direcionados, criando dessa forma, intervenções que possam trazer um pouco mais de qualidade de vida e benefícios cognitivos para essas pessoas.
Para uma melhor compreensão de como essas atividades devem ser elaborados, podemos nos basear na proposta de zona de desenvolvimento proximal desenvolvida por Vygotsky (1987), ou seja, "a distância entre o nível de desenvolvimento atual determinado pela resolução independente de problemas e o nível de desenvolvimento potencial determinado pela resolução de problemas sob orientação ou em colaboração com parceiros mais capazes”. Resumidamente, a intenção é que os exercícios não sejam difíceis demais a ponto dos idosos apresentarem dificuldades de entendimento e resolução destes; e nem fácil demais, a ponto dos exercícios não preencherem a proposta de esforço cognitivo para a sua resolução, e o mais importante é que estes propiciem uma maior interação entre os idosos e os profissionais.
A princípio, devemos ter consciência que existem níveis de demência e que estes compreendem alterações cognitivas em áreas diferentes do cérebro como memória, linguagem, atenção, raciocínio lógico, planejamento dentre outros. Portanto, o importante é elaborar atividades que possam contemplar essas diversas áreas, tanto com reabilitação como estimulação cognitiva a fim de recuperação de funções e ou minimização e estagnação de perdas.
Entendemos aqui que a educação em saúde, objetiva não só à criação dessas estratégias e intervenções, como também busca desenvolver competências para lidar com um quadro demencial, diminuindo o estresse dentro da família e cuidadores informais, podendo eventualmente incidir na saúde mental para todos.
Dessa forma pretende apropriar-se dos conhecimentos teóricos advindos da educação, buscando dentro dessa dimensão educativa, subsídios que possam conduzir sua postura frente às atividades propostas.
Para aproximar a educação da saúde no desenvolvimento das atividades cognitivas não é necessário ser um especialista em teorias de educação ou saúde, mas é importante conhecer-se enquanto parte do processo educativo dentro da saúde, visando uma maior interação entre as pessoas pertencentes à um grupo, usando de seus conhecimentos para promover educação, saúde e transformação social, agindo de forma preventiva, inibindo o principal agressor desses sujeitos, que  os rotula como loucos, dementes e incapacitados: o tempo e a desigualdade.
Não existe separação entre educação e saúde, ambas estão em uma realização de troca de conhecimentos, na construção da integridade das pessoas, o que inclui também políticas públicas e orientações com base preventiva e curativa, usando da proposta pedagógica comprometida com ações de saúde, orientando-as para promoção e prevenção de saúde.

Exemplos de exercícios e atividades:
1-É importante ter um calendário em local visível e de preferência de letras garrafais e espaço em branco para escrever, criar rotina de todo dia pela manhã ir até o calendário e circular o dia, quando o paciente perguntar que dia é, peça para que ele olhe para o calendário, de manhã ele circula o dia e a noite ele faz um x, sinalizando que aquele dia acabou, segue exemplo:


2-Podemos montar um livro de memória, de fotos, lembranças, um tipo de memória biográfica. Mostramos ao paciente e fazemos perguntas como: Quem são as pessoas da foto, nome, quanto tempo a foto foi tirada, quantos anos a pessoa tinha na foto. A intenção é estimular a percepção do paciente em perceber onde ele estava na foto e também focar a atenção dele em detalhes e observar sua emoção diante das lembranças. Mostrar fotos e perguntar detalhes.

3-Ler, é um meio muito eficaz para exercitar a memória, principalmente quando lemos em voz alta, aprendemos melhor. Trabalhamos o raciocínio lógico, e também memória.

4-Contar histórias trabalham o raciocínio lógico, depois pergunte detalhes da história como, o nome dos personagens, quem era filho de quem, onde aconteceu a história e etc;

5-Música: colocar músicas que os pacientes ouviram na época de juventude deles, isso trabalha na memória recente.

Atividades
“O que é ou quem é”


1- Recorte pequenos pedaços de papel. 2- Escreva em cada um algumas frases de o que é ou quem é, exemplos: - O que é ou quem é: Cai em pé e corre deitado? - O que é ou quem é: Foi presidente do nosso país e não tem um dedo? - O que é ou quem é: Caixinha de bom parecer não há carpinteiro que possa fazer? - O que é ou quem é: Gostava de dar um beijo selinho em seus candidatos? 3- Coloco os papéis dentro de um saquinho. 4- Peço para que cada idoso  retire um papelzinho e me entregue 5- Então faço a pergunta para ele.
3- Peço para que cada idoso retire uma foto mas sem ver e me entregue.
4- Começo a atividade pegando a foto que o idoso escolheu e dando algumas dicas sobre a pessoa, até alguém acertar.








 “Quem é”
1- Recorto fotos de pessoas famosas (de preferencia famosos do tempo deles, como Roberto Carlos, Inezita Barroso, Sérgio Reis, Hebe Camargo e etc)
2- Coloco em minhas mãos as fotos viradas para baixo.

Categorizar e Memorizar
Separe as palavras do quadro a seguir em quatro categorias. Memorize-as. Quando estiver pronto, reescreva as 16 palavras, categorizando-as:

 RATO         AMARELO     CADEIRA              LEÃO
SOFÁ         BALEIA            PAPEL                  VERMELHO
PRETO       CANETA         CACHORRO          ARMÁRIO
LÁPIS          MESA             BRANCO              BORRACHA

Ilusão de ótica
Observar a imagem e contar quantos animais existe nela.


Embora os exercícios e atividades expostos acima pareçam à primeira vista algo muito infantil, muitas pessoas que apresentam demência, possuem dificuldade em compreender e resolver essas atividades. É importante que cada exercício seja elaborado de acordo com a demanda de cada pessoa.

Estou a disposição para eventuais dúvidas!

Indico a leitura:
Sohlberg, M.M. Reabilitação Cognitiva: Uma Abordagem Neuropsicológica Integrativa. Ed Santos.

 Simone Manzaro
Graduanda do 10o semestre do curso de Psicologia na Uninove.
Contato:  simonemanzaro@gmail.com              






Um comentário:

  1. Essa não é apenas uma aproximação entre teorias ou ênfase de trabalho, mas é a possibilidade de junta-las para intervir a ajudar o próximo!

    Obrigada pelas palavras da apresentação Profa.
    Bj

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