sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Parada temporária.

Pessoal, eu tentei manter o ritmo das postagens, mas com a temporada de provas, tcc e fechamento de notas e faltas estou sobre carregada. Assim que as coisas acalmarem volto pra falar de tccs e estágios entre outros assuntos sobre psicologia. Quero falar sobre filmes, projetos de pesquisa e mais temas de aulas.
Continue me acompanhando no Facebook.

Até logo,
Raquel A. Cassoli

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Para gostar de ler.....além da Psicologia.

(img site: Brasil Escola)

Hoje é muito fácil encontrar recomendações de filmes que acompanham os estudos em Psicologia, mas eu tenho um interesse particular por "estudar casos" com livros. Sou leitora assídua, costumo durante as férias ler 3 ou 4 livros, durante o período letivo acabo lendo muitos artigo para complemento e os livros para as aulas ou estudo para o doutorado, quase não sobra muito tempo para ler romances, que são minhas leituras de descanso. Ultimamente tenho lido muito biografia, li “ Vale Tudo” do Nelson Motta sobre o Tim Maia  e recomendo fortemente a biografia do “Ayrton Senna: o herói revelado”  escrita por Ernesto Rodrigues, este ultimo como exemplo de pessoa centrada em seus objetivos.
Os filmes são sempre muito bons, mas os livros são melhores. 
Posso passar um bom tempo aqui argumentando as riquezas das histórias cômicas de Bridget Jones (O diário de Bridget Jones e Bridget Jones no limite da razão) da Helen Fielding, muito mais divertidas no livro do que no cinema, e do livro “O lado bom da vida” de Matthew Quick, muito mais surpreendente do que o filme.
Mas a proposta de hoje é indicar livros que são complementares aos temas de aula e que não se configuram como livros teóricos.
Gosto muito dos livros do Oliver Sacks, que misturam casos reais com estudo de caso. Oliver Sachs é biólogo e neurologista, nasceu em 1933, em Londres, mas mora nos Estados Unidos, onde dá aulas de Neurologia e Psiquiatria. O meu preferido é “Um antropólogo em marte” – contem 7 histórias, sendo uma delas “Ver e não ver”  que inspirou o filme “A Primeira vista”  (1999, direção Irwin Winkler, com Val Kilmer e Mira Sorvino ) e a história “Um antropólogo em marte” (que é o título do livro) que fala sobre autismo e foi indicação de uma professora na faculdade. Foi paixão á primeira lida, depois deste li “ O Homem que confundiu sua mulher com um chapéu”  que  dividido em 4 partes contem 24 histórias. A primeira parte fala de Perdas relacionadas aos déficits neurológicos, inclusive, uma das histórias fala sobre os membros fantasmas (a sensação que os amputados tem de sentir o membro que não está mais ali – leitura obrigatória para quem pretende trabalhar com reabilitação de pessoas que sofreram amputações). A segunda parte trata de Excessos neurológicos. A terceira parte fala sobre Transportes (sonhos e alucinações) e a quarta parte fala sobre  O Mundo dos Simples (sobre deficiências cognitivas) nesta parte também há uma história sobre autismo, já o livro “Alucinações musicais” fala sobre  as relações humanas com a música, as emoções e sua aplicação para pacientes psiquiátricos.
O livro “Vendo Vozes” é uma leitura obrigatória para quem pretende trabalhar com deficientes auditivos.
Oliver Sachs é responsável também pela história “Tempo de Despertar” (de 1973, é quase uma autobiografia de Sacks) que deu origem ao filme homônimo de 1990, com Robert De Niro e Robin Willians. Há outros títulos deste autor, que imagino serem também muito intressantes
Na faculdade li vários livros de indicação do professores, alguns considero clássicos para os estudantes de Psicologia, todos deveriam ler: “A leste do Éden” – John Steinback (recomendação do meu professor Roberto de Psicanálise) conta a história de duas famílias na Califórnia (EUA) e  escolha do bem ou do mal, este livro também foi adaptado para o cinema em 1955. “Nunca lhe prometi um jardim de rosas”- Hanna Green, conta sobre um caso de Esquizofrenia.  “A Hora de Cinqüenta minutos” – Robert Lindner faz parte de uma coleção de contos com relatos psicanalíticos da Editora Imago chamada Romance e Psicanálise, pelo que conferi no site da Editora essa coleção não existe mais (foi indicação da minha professora Bruneide). “O estranho caso do cachorro morto” – Mark Haddon conta a história do assassinato de um cachorro pela ótica de um garoto com uma síndrome do espectro autista e além ser um livro interessantíssimo casa muito bem com “Olhe nos meus olhos” biografia do John Elder Robinson, que foi diagnosticado com Asperger aos 40 anos da idade. “O Brilho de sua Luz” conta sobre a vida de Nick Traina por sua mãe Danielle Steel, diagnosticado com Transtorno de Humor Bipolar.
Na indicação de livros pra quem pretende trabalhar com deficientes auditivos, tenho ainda o “Crônicas da Surdez” da Paula Pfeifer, lançado recentemente após a experiência da autora em relatar situações vividas com a surdez, uma importante leitura na diferenciação entre os surdos sinalizados e oralizados. Com os blogs especializados sobre os mais diversos assuntos, leitura é o que não falta, mas os livros, mesmo os romances são fontes inesgotáveis de entretenimento e estudo.

Selecione os seus e boa leitura nas próximas férias.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Pesquisar na Psicologia Sócio Histórica ou Histórico Cultural

Este texto é um texto preliminar para quem pretende iniciar os estudos acadêmicos na abordagem da Psicologia Sócio Histórica.

             A formação do pesquisador não deve ser apenas no campo da epistemologia ou metodologia.
Não basta aprender como se pesquisa, mas o aprendiz deve fazer pesquisa. Deve definir estratégias concretas, realizá-las efetivamente, mergulhar na análise de maneira crítica e produzir conhecimento.

·                    Para a SH não é apenas uma ação instrumental e mecanizada, a pesquisa deve envolver um compromisso aberto e declarado com uma visão de homem, com seu objeto de estudo e com as conseqüências de tal escolha.
o   A escolha é um ato político e ideológico, não apenas científico.

·                    O objeto de estudo da Psicologia é o homem e processo de construção do psiquismo.

Ø  Abordagem naturalística: considera apenas uma relação unidirecional da natureza sobre o homem
Ø  Abordagem dialética: o homem age sobre a natureza e cria, através das mudanças provocadas, outras conduções naturais para sua existência.

- Essa última visão, considerada pela SH demanda outros processos de investigação:

EPISTEMOLOGIA QUALITATIVA (GONZALEZ-REY):
buscarmos a explicação do processo de constituição do objeto estudado, ou seja, estudá-lo no seu processo histórico

Este homem, constituído na e pela atividade, ao produzir sua forma humana de existência, revela - em todas as suas expressões - a historicidade social, a ideologia, as relações sociais, o modo de produção. Ao mesmo tempo, esse mesmo homem expressa, a sua singularidade, o novo que é capaz de produzir, os significados sociais e os sentidos subjetivos.
A apreensão do homem, como nos lembra Vigotski (2001), se dará pela compreensão da gênese social do individual, “ pela compreensão de como a singularidade se constrói na universalidade e ao mesmo tempo e do mesmo modo, como a universalidade se concretiza na singularidade, tendo a particularidade como mediação”. (Oliveira, 2001:1). 
Podemos afirmar que a linguagem seria o instrumento fundamental neste processo de constituição do homem. “Os Signos, entendidos como instrumentos convencionais de natureza social, são os meios de contato com o mundo exterior e, também, do homem consigo mesmo e com a própria consciência” ( Aguiar 2000:129).
Como afirma Vigotski, “ o pensamento não se exprime na palavra, mas nela se realiza”. (2001:409). Temos assim que a relação pensamento - linguagem não pode ser outra que não de uma relação de mediação, na qual ao mesmo tempo que um elemento não se confunde com o outro, não pode ser compreendido sem o outro, onde um constitui o outro. Desta forma, podemos afirmar que a compreensão da relação pensamento, linguagem, passa pela necessária compreensão das categorias significado e sentido.
Isto posto, destacamos a necessidade da discussão das categorias significado e sentido.   
Segundo Vigotski, (2001) o significado, no campo semântico, corresponde às relações que a palavra pode encerrar; já no campo psicológico, é uma generalização, um conceito.
Desta maneira, a atividade humana é sempre significada: o homem, no agir humano, realiza uma atividade externa e uma interna, e ambas as situações ( divisão esta somente para fins didáticos) operam com os significados.

Os significados são, portanto, produções históricas e sociais. Permitem a comunicação, a socialização de nossas experiências. Embora sejam mais estáveis, “dicionarizados”, eles também se transformam no movimento histórico, momento em que sua natureza interior se modifica, alterando, consequentemente, a relação que mantém com o pensamento, entendido como um processo.
zonas de sentido - zonas mais instáveis, fluidas e profundas
O sentido é muito mais amplo que o significado, pois o primeiro constitui a articulação dos eventos psicológicos que o sujeito produz frente uma realidade.
Gonzalez Rey,( 2003) o sentido subverte o significado, pois ele não se submete a uma lógica racional externa. O sentido refere-se a necessidades que, muitas vezes, ainda não se realizaram, mas que mobilizam o sujeito, constituem o seu ser, geram formas de colocá-lo na atividade.
O sentido coloca-se em um plano que se aproxima mais da subjetividade, que com mais precisão expressa o sujeito, a unidade de todos os processos cognitivos, afetivos e biológicos.

A apreensão dos sentidos:
- não significa apreendermos uma resposta única, coerente, absolutamente definida, completa
- são expressões do sujeito muitas vezes contraditórias, parciais, que nos apresentam indicadores das formas de ser do sujeito, de processos vividos por ele.

Então como apreendê-las?
Que caminho nos conduziria a tal tarefa?

Procedimentos para análise através dos Núcleos de Significação
- as entrevistas devem ser consistentes e suficientemente amplas de modo a evitar  inferências desnecessárias ou inadequadas.
- elas devem ser recorrentes, isto é, a cada entrevista, após uma primeira leitura o informante deverá ser consultado no sentido de eliminar dúvidas, aprofundar colocações e reflexões e permitir uma quase análise conjunta do processo utilizado pelo sujeito para a produção de sentidos e significados.
             - outros instrumentos podem permitir aprimoramento e refinamento analítico. Para isto recomenda-se um plano de observação, no processo das entrevistas, tanto para captar indicadores não verbais, como para complementar e parear discursos e ações que estão nos objetivos da investigação.
            Outros instrumentos: relatos escritos, narrativas, história de vida, frases incompletas, autoconfrontação, vídeo-gravação e, inclusive, questionários ou desenhos desde que sejam complementados e aprofundados através de entrevistas.

PROCESSO DE ANÁLISE
1.                  A primeira etapa se dá pela leitura flutuante e organização do material.
As leituras são feitas do texto transcrito da entrevista, possibilitando que o pesquisador aproxime-se do material, apropriando-se dele; e nesse processo organiza e enumera os pré-indicadores.
Os pré-indicadores são temas que se destacam por parecerem ter importância para o sujeito da pesquisa, por estarem carregados de carga emocional, ou também pelas ambivalências ou contradições do que é expresso pelas falas, sempre relacionando esses pré-indicadores com o problema de pesquisa proposto.
O produto dessa etapa é uma lista de pré-indicadores que irão constituir em possibilidades de construções dos núcleos de significação.

2.                  A segunda etapa se dá com o processo de aglutinação dos pré-indicadores levantados pelos critérios de similaridade, complementaridade ou de contraposição.
O pesquisador atua em uma análise do empírico atravessado fortemente pelo teórico, porém não é em si uma construção teórica em sua completitude.
Identifica-se nesse momento os indicadores que emergem do processo de aglutinação dos pré-indicadores. Ressalta-se que os indicadores podem ter significados diferentes em contexto específicos.

3.                  A terceira etapa refere-se a dois momentos fundamentais para a elaboração de conhecimento a partir do empírico realizado.
Primeira fase: a construção dos núcleos de significação pelo entrelaçamento da articulação dos indicadores, oferecendo uma nomeação a eles.
Esse processo ocorre seguindo os critérios de articulação dos conteúdos dos indicadores por semelhança, complementaridade e contradição. Dessa forma, acessam-se as transformações e as contradições que ocorrem no processo de construção dos sentidos e significados, objeto esses da análise da subjetividade.
O pesquisador consegue ir além do que é aparente, coloca-se em uma postura interpretativa do conhecimento construído a partir das falas do sujeito.
Segunda fase: análise dos núcleos, que passa de um processo de intranúcleo e segue para uma articulação internúcleos.
Essa análise compõe o movimento dos sentidos do sujeito com suas contradições.
Nesse processo o pesquisador, por meio de uma postura construtivo-interpretativa, articula a fala do sujeito com o contexto sócio-histórico ao qual está imerso, a fim de possibilitar compreender o sujeito informante em sua totalidade.
Para atingir a apreensão dos sentidos, os pesquisadores Aguiar & Ozella (2006) clarificam a importância de investigar as necessidades expressas pelos sujeitos para atingir as determinações constitutivas desses.
Os núcleos de significação elaborados são os pontos centrais e fundamentais que confluem as determinações constitutivas do sujeito com o problema proposto para a pesquisa. Inclusive, as nomeações dos núcleos de significação, baseiam-se em expressões retiradas das falas do sujeito que representam a articulação feita no desenvolvimento das emersões dos núcleos de significação com o processo do sujeito atravessado pelos objetivos do estudo.

A análise é um momento em que as falas e emoções dos sujeitos são organizadas em núcleos de significação e que precisam ser articuladas com o contexto histórico no qual o sujeito se constrói e se constitui.


 Para saber mais:
AGUIAR, Wanda Maria Junqueira; OZELLA, Sergio. Núcleos de significação como instrumento para apreensão da constituição dos sentidos. Psicologia Ciência e Profissão. V. 26, n.2, p.222-245, 2006.
Ozella, Sergio. Pesquisar ou construir conhecimento. O ensino da pesquisa na abordagem sócio-histórica. Em A. M. B. Bock (Org.), A perspectiva sócio-histórica na formação em psicologia (pp. 113-131). Petrópolis: Vozes, 2003.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998.


domingo, 13 de outubro de 2013

Todos contra a publicidade infantil

Este post deveria ter sido escrito na ultima semana, mas me atrapalhei um pouco com as postagens, pois vou falar sobre o movimento que existe contra a publicidade infantil, que infelizmente não abrange toda sociedade. Faço parte de alguns grupos de mães na Internet que são contra a publicidade dirigida a criança, mas recentemente, ao comentar isso com uma pessoa conhecida ouvi algo do tipo: "Como assim? Você é contra a publicidade de brinquedos? A propaganda enganosa já é punida!" Eu digo que a propaganda enganosa não é punida, todas as propagandas que envolvem personagens infantis são enganosas e os produtos alimentícios dirigidos ao publico infantil é inadequado e extremamente calórico.
Eu nunca havia pensado seriamente sobre a publicidade infantil até ter filhos. Já havia questionado os programas infantis, que desde que eu era criança, eram inadequados e enganosos. Questionei o consumismos por um status social que muitas pessoa buscam. Na verdade desde que terminei a faculdade fui me desligando da tv. A falta de tempo fez de mim uma pessoa extremamente seletiva. Assistia apenas aos canais pagos e após a maternidade nem mais aos canais pagos.
 Há um tempo o consumo desenfreado me assusta; pessoas que trocam de celular como quem troca de roupa, pessoas que fazem dívidas horrendas para se sentirem parte de um determinado grupo social e os alunos, que não compram livros, porque nunca têm dinheiro, mas além da mensalidade da faculdade, tem a mensalidade na loja de roupas, do tablet, a dívida do  cartão de crédito. Sou a favor do consumo consciente, embora eu nem tenha muita certeza se realmente consigo comprar apenas aquilo preciso, mas tentar ensinar uma criança o que é consumo consciente é quase impossível. Uma criança de 4 anos não tem noção do valor do dinheiro, que é abstrato, mas sabe a vontade de ter aquele carrinho, ou aquela boneca que aparecem  repetidas vezes na televisão, principalmente próximo as datas comemorativas de Dia das crianças e Natal.
O movimento contra a publicidade dirigida á criança iniciou em 2001  em um projeto de lei (PL 5.921/01) cujo texto foi aprovado pela câmara dos deputados apenas em 18/09/2013  (12 anos!!) e ainda sera encaminhado para o Senado federal.



O Conselho Regional de Psicologia emitiu um parecer escrito por Yves de La Taille que pode ser acessado na integra aqui, mostrando o posicionamento da Psicologia frente a publicidade infantil. Complementando com o documentário "Criança, a alma do negócio” que pode ser assistido no You Tube. E "Além do Cidadão Kane" que pode ser assistido na integra aqui.(sobre a influencia da Televisão)
Dados dos documentários mostram a dominação da mídia sobre  população brasileira: só 1 terço da população pode pagar pelos produtos anunciados pela TV. Endividamento das classes mais pobres para terem acesso a produtos que não são de primeira necessidade.
O discurso da publicidade é comercial, vende uma ideia que não é apenas o produto, vende a alegria, a felicidade e o pertencimento a uma parte de população, que parece ser alcançada pela aquisição de determinado produto.
Acaba por ser um problema para a sociedade, que passa a associar produtos adultos para as crianças (as crianças determinam 80% dos produtos consumidos hoje).
A maioria dos produtos alimentícios anunciados para as crianças são impróprios, são potencialmente calóricos e possuem grande quantidade de sódio, corantes e conservantes. Um exemplo disto é que os sucos chamados "néctar da fruta" possuem 50% de suco natural, os outros 50% é composto de água, açúcar, conservante e aditivos como corantes artificiais. Muitos do que são vendidos como suco não tem sequer 50% de suco natural. A mesma linha seguem as bebidas lácteas que são confundidas com leite.
A psicologia responde as demandas de caráter emergencial para o bem estar da sociedade, visando que esta seja mais justa e igualitária. Para isto apresento alguns pontos que devem ser considerados no que diz respeito a regulamentação da publicidade para a criança:
1    1)      Desejo e poder de compra: a criança tem desejo e é influenciada por programas e propagandas. A criança pobre que não pode comprar, não só fica frustrada como também cria um problema em casa, pois não entendem que o pais não podem comprar. Isso não justifica a violência, embora também a motive. Os pais algumas vezes cedem ao desejo dos filhos se endividando para adquirir o que a criança deseja e deixando de comprar o eu é realmente necessário. O desejo é sempre o desejo de compra e não necessariamente o desejo pelo produto. (geralmente a criança brinca com o brinquedo novo por alguns minutos e logo se desinteressa)
2    2)      Manipulação: a manipulação pode ser boa, mas no caso da propaganda é negativa. Vendem felicidade. Os profissionais da publicidade estão ocupados em fazer a melhor propaganda e não o que é melhor para a criança. Crianças e adultos são diferentes, a criança não sabe analisar regras e não tem autonomia, por esse motivo a propaganda com personagens infantis, representa figuras de autoridade para as crianças. Parte da noção de que a criança não sabe o que quer e que é fácil induzir alguém a querer algo que não sabe o que quer. Vontade X força de vontade. A criança não tem força de vontade. Ela é imediatista, vive apenas as questões reais. Não faz planejamento. A força de vontade é algo além da vontade, o que domina a vontade.
3    3)      Compreensão da realidade: são ingênuas por não possuírem experiência, mas não se pode dizer que são deficientes, lidam com situações reais e são facilmente iludidas pelos filmes publicitários que dão a impressão de que o brinquedo faz mais do que realmente faz.  
Para concluir:
1.       A publicidade desperta para o consumo e que nem sempre é a favor de sua educação ou necessidade.
2.       A criança s deixa levar pela propaganda.
3.       Não possui repertório para julgar propaganda, nem o produto sendo facilmente induzida ao erro.
4.       As vontades infantis são passageiras:
a.       atenção para as crianças que trabalham como atrizes por desejo dos pais para a fama e;
b.      para a propaganda que coloca a criança como consumidora.

c.        É preciso desenvolver metas educativas para formar consumidores mais conscientes.


A Publicidade infantil só agrega ás empresas e não favorece a criança.



Para saber mais:

Leiam, informe-se e entrem nesta luta. (as imagens são todas do site Infância Livre de Consumismo)

domingo, 29 de setembro de 2013

Marx e Engels

(os filósofos que sustentam a Psicologia Sócio Histórico Cultural)


Como disse anteriormente, a Psicologia é fundamentada historicamente por diversas correntes filosóficas e a compreensão da Psicologia de Vigotski passa pelo entendimento da história social, política e econômica da Russia, assim como a compreensão da filosofia Marxista.

A primeira parte são anotações sobre Marx, de uma aula que assisti do Prof. Dr. Netto Berenchtein, no doutorado, que somei a gentil contribuição do colega: Prof. Dr. Adalberto Botarelli . A ideia deste post é do prof. Adalberto.


Marx e Engels tiveram algumas diferenças, mas quando Marx lê a critica a política, ele se insere nesta filosofia política e juntos eles produzem muita coisa. 
Marx perde um filho, tamanha é a pobreza em que vive. Engels o ajuda como pode, mas ambos morrem paupérrimos.
A filosofia marxista é materialista. O materialismo é que mais se aproxima da ciência.
Marx nunca falou sobre o comunismo, o comunismo nunca existiu, para existir comunismo é preciso a supressão do Estado. Em Cuba, na Coreia e na China o que  acontece é um socialismo, mas nem um socialismo de verdade porque eles possuem um governo autoritário.
Dialética Hegeliana
A lógica apresenta, em relação á sua forma, três aspectos inseparáveis.
                Abstrato – acessível ao entendimento – tese
                Dialético – negativamente racional – antítese
                Especulativo – positivamente racional – síntese.


Marxismo é o conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais elaboradas primariamente por Karl Marx e Friedrich Engels e desenvolvidas mais tarde por outros seguidores.
No livro: "O desenvolvimento Cognitivo" do Lúria é claro que a compreensão do homem como um ser social histórico e que possui a capacidade de trabalhar e desenvolver a produtividade do trabalho, é uma tese marxista. É esta tese que sustenta a pesquisa descrita no livro. Esta capacidade é o que diferencia os homens dos outros animais e possibilita o progresso de sua emancipação da escassez da natureza, o que proporciona o desenvolvimento das potencialidades humanas. Baseado na concepção materialista e dialética da História, interpreta a vida social conforme a dinâmica da base produtiva das sociedades e das lutas de classes daí consequentes.

Marx queria ser professor de filosofia. Ele criticou o sistema filosófico idealista de Hegel. Enquanto que, para Hegel, da realidade se faz filosofia, para Marx a filosofia precisa incidir sobre a realidade. O núcleo do pensamento de Marx é sua interpretação do homem, que começa com a necessidade de sobrevivência humana. A história se inicia com o próprio homem que, na busca da satisfação de necessidades, trabalha sobre a natureza (o trabalho é compreendido como forma de relação do homem com a natureza). À medida que realiza este trabalho, o homem se descobre como ser produtivo e passa a ter consciência de si e do mundo através do desenvolvimento e aprimoramento da produtividade do trabalho, da ciência sobre a realidade. Percebe-se então que "a história é o processo de criação do homem pelo trabalho humano".


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Termos Importantes da Filosofia Marxista 

Idealismo: (Berkeley)
1 – O espírito (razão) cria a matéria.
2 – O mundo não existe fora do nosso pensamento
3 – São as nossas ideias que criam as coisas
Materialismo: (Marx)
1 – É a matéria que cria o espírito (razão)
2 – A matéria existe fora de todo espírito
3 – A experiência permite-nos conhecer as coisas (consciência)
Agnóstico: ( Hume e Kant)
Tentativa de conciliar o idealismo e materialismo 
Metafísica: Identidade, Isolamento das coisas, Divisões, Oposição de contrários.
Dialética: Mudança/Processo, Ação recíproca, Contradições (afirmação/negação), Transformação de quantidade em qualidade.
Materialismo dialético (filosofia)  - Parte da consideração de que os fenômenos materiais  são “processos”. Segundo o materialismo dialético, o espírito (razão) não tem consequência passiva da ação da matéria,  assim pode reagir sobre aquilo que o determina. Os fenômenos  mecanicistas são “processos”.
O ser social determina a consciência, sendo que as relações sociais de produção envolvem:
1 - Forças produtivas - Conjunto formado pelo clima, água, solo, matérias-primas, máquinas,  etc.
2 - Relação de Produção - É a relação trabalhista entre burguesia x proletariado, que fundamenta toda a sociedade.
3 - Modo de Produção  - É a consequência entre (forças produtivas e relação de produção ). É o desenvolvimento da vida social e econômica, etc.
4 - Contradição -  Luta de Classes
5 - Antagonismo de Classes - É a contradição entre as diferentes classes: “proletariado x  burguesia”. Isso acontece quando há a divisão da propriedade privada e a exploração trabalhista. Assim, surge a luta de classes, pois cada classe luta pelos próprios interesses.
6 - Mais valia -  Obtida pela exploração do trabalhador. O capitalista contrata o operário para trabalhar num certo período de hora a fim de alcançar determinada produtividade. Mas, o trabalhador estando disponível todo o tempo pode produzir o excedente que foi calculado. E o  trabalho excedente não é pago ao operário, ficando assim como lucro ao capitalista.
7 - Práxis - Marx desenvolve uma nova antropologia da “natureza humana”. Segundo sua teoria, o trabalho, o existir humano parte do “agir”, o homem se autoproduz à medida que transforma a natureza com sua força de trabalho. A condição humana depende de sua  existência social. A práxis consiste na ação humana transformadora, identificando teoria com a prática.
8 - Revolução e Práxis -  Marx nomeia pela ação humana de transformar a realidade. Significa a união dialética  da teoria e da prática. Para Marx, o Estado não supera as contradições da sociedade civil, mas é o reflexo delas e está aí para perpetuá-las. Por isso, só aparentemente visa ao bem comum, estando de fato a serviço da classe dominante.
Dialética de Marx
Apesar de influenciado por Hegel, Marx diz ter invertido a teoria dialética deste. Ao passo que Hegel, entre outros de sua época, postulava a crença no Absoluto (estado, ideias), Marx veio a inverter essa ordem (chamando a si mesmo de um hegeliano às avessas). Coloca a produção material de uma época histórica como a base da sociedade e, também, a criadora da subjetividade dessa época. Não é o conhecimento espiritual (racional) que muda a produção da existência e, consequentemente, a vida social, mas exatamente o contrário: com a atividade prática, a revolução (equiparação das forças produtivas com relação ao corpo social), o corpo social transforma também a sua subjetividade.
A relação da produção da vida prática e material para com as ideias não é, porém, determinística e reducionista como à primeira impressão pode parecer; existe uma relação dialética entre essas duas entidades. Marx tinha um pensamento prático e político que muitos entenderam como sendo um método a determinar a realidade, chamando-o de materialismo histórico e dialético, que mais tarde veio a ser denominado de marxismo.
O ser social é determinado pelas condições materiais de existência em que os seres humanos vivem na sociedade, não é a consciência que determina as suas condições materiais de existência, mas estas que determinam aquelas.
“ Pensa-se de maneira diferente nem palácio e numa choupana” (Engels)
“ Tudo  o que põe os homens em movimento deve necessariamente passar pelo cérebro, mas a forma que isso toma nele depende das circunstâncias” (Engels)
História
São as mudanças sociais ao longo do tempo e refletem condições materiais de existência, enquanto os idealistas consideram que as ideias geram vontade e levam à ação, os materialistas partem do princípio de que é a ação que produz vontade e gera ideias, sendo o fato histórico as ideias em luta. 


A natureza não possui história, possui leis que fazem reproduzir-se sempre de um modo cíclico repetitivo, assim a natureza aparenta ter uma dialética.
A história é a história de um processo de desenvolvimento do espírito.(Hegel) Espírito se expressa através do humano.
O estado atual de algo traz em si dos estados precedentes. Sendo assim  pode –se estudar algo hoje e conhecer o estado anterior.
A história não é exclusivamente positiva,o que se positivou, o que aconteceu, pois a história termina com o presente.

Para saber mais:
Arquivos Marxistas.
POLITZER,Georges. Princípios elementares de filosofia. São Paulo: Centauro, 2001.
LURIA, Alexader Romanovic. O desenvolvimento do Psiquismo. São Paulo, Imago, 2001.

Prof. Dr. Adalberto Botarelli
Graduação em Psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo (1991)
Mestrado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2002)
Doutorado em Psicologia Social - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2008). 
Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da EAD (UFF).Atualmente é professor titular da Universidade Bandeirante de São Paulo, com atuação no stricto sensu e Membro da Comissão de Ética em Pesquisa com Seres Humanos. Na Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo é membro do Comitê de Ética em Pesquisa. É professor da Universidade Nove de Julho. 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Qual é o compromisso da Psicologia?


Ultimamente, tem se buscado cada vez mais ressaltar o compromisso social da Psicologia, associando-o ao oferecimento de serviços as camadas menos favorecidas da população, fugindo de concepções psicologizantes e buscando perspectivas mais sociais.
A psicologia sempre esteve vinculada a sociedade Brasileira e suas demandas e nos faz questionar que compromisso é esse?

A Tradição da Psicologia no Brasil está ligada ao atendimento dos interesses da elite.
De acordo com os estudos realizados, as idéias psicológicas aqui produzidas atendiam ao interesse das elites de controlar, higienizar, diferenciar e categorizar. Isto se inicia na colonização do Brasil por Portugal, produzidas por representantes da Igreja. (Os estudos falam sobre características dos indígenas, mulheres e crianças e as formas de controlá-los e foram considerados como sendo do campo da Psicologia por tratarem de comportamentos e aspectos morais.)
No sec XIX, o Brasil deixa de ser colônia e as idéias psicológicas passam a ser produzidas pela medicina: ( a vinda da corte ao Brasil, gerou um grande desenvolvimento ao país e a cidade do Rio de Janeiro, produzindo um movimento higienista material e moral – marcado pelo surgimentos de escolas que se tornaram referencia no Brasil) buscava-se uma sociedade livre da desordem e dos desvios. Surgem os asilos e hospícios com o intuito de tratamento moral e as idéias da Psicologia buscavam contribuir com esse trabalho da medicina. A Educação estava marcada por práticas autoritárias e disciplinares buscava a higienização moral, e as idéias produzidas buscavam o controle dos impulsos infantis. As idéias da medicina falavam sobre o decaimento das raças e da imoralidade na sociedade, que era resolvido ou pela educação ou pela reclusão dos imorais. (a Moral era da natureza do Homem, que era perdida quando este se decaia- mas as qualidades desse homem possuidor de uma moral correspondiam aos europeus, assim apenas a elite possuía essa característica, que se distanciava do trabalhador brasileiro e dos escravos. Desta forma associava-se a imoralidade á pobreza e a negritude.)
No final do séc. XIX inicia-se a Republica e no séc. XX a riqueza cafeeira e o desenvolvimento da região sudeste. A Psicologia adquire estatuto de ciência na Europa seguida dos EUA. A Escola Nova passa a valorizar a infância e surgem as idéias desenvolvimentistas na Psicologia.
Neste período também surgem as idéias voltadas para a administração e trabalho, a Psicologia contribui com conhecimento e técnica que facilita a diferenciação das pessoas, formando grupos mais homogêneos nas escolas e nas empresas.
As guerras trouxeram o desenvolvimento de testes psicológicos, que viabiliza a prática diferenciadora e categorizadora da Psicologia. Foi com esse a[parelho ideológico que a Psicologia se tornou uma profissão reconhecida em 1962.
Uma profissão que tem servido apenas as elites, e tem pouco poder de negociação com o Estado para mostrar sua capacidade de contribuição com o social.
“A pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (1995), junto a categoria dos psicólogos, mostrou que, dos inscritos no CRP,  75,2% atuavam na profissão; 17,7% desistiram de exercer e 7,1% não chegaram a exercer a profissão. Dos que atuavam na profissão 54,7% estavam na área clinica/saúde; 17,86%, na educação; 13,05%, em trabalho; 5,48%, em social; 8,59% em outras áreas (incluindo psicologia jurídica, esporte, trânsito) e 0,35% não respondeu. Trabalhavam em consultório particular 41,15%, atuavam em hospitais 12,31%, em unidades básicas de saúde 3%, em ambulatórios de saúde mental 4%. Em instituições particulares trabalhavam 63,04% e no público 23,48%. ” (BOCK, 2003, p.19)
Temos muitos psicólogos na saúde, poucos trabalhando em instituições. Muitos em consultórios particulares que não está ao alcance da população mais carente e desta forma é uma inserção pequena na sociedade. A Psicologia também é uma profissão onde há pouca diversificação e isso reflete numa limitada contribuição a sociedade, onde se apresenta como uma ciência e uma profissão conservadoras, que não constroem nem debatem uma transformação social devido as idéias naturalizantes de homem.
Nos anos 70 a tentativa de aproximar a psicologia da sociedade se deu com a criação da Psicologia Comunitária, que nos anos 80 contribuiu para se tornar uma profissão feminina.

Alguns elementos ideológicos da profissão
Destacaremos três elementos:
1.       A Psicologia tem naturalizado o fenômeno Psicológico – No estudo de 1999, Bock estudou a concepção de fenômeno psicológico para os psicólogos brasileiros e notou que este fenômeno é visto como algo abstrato, que tem destino traçado e nasce com a pessoa. Este fenômeno é identificado como “verdadeiro eu”, que está em todos nós e se desenvolverá conforme o homem for aproveitando as situações de estimulação que o mundo social oferece.
Essa concepção de fenômeno psicológico traz uma Psicologia de costas para a vida social pois não é necessário compreender a cultura, a vida social, os valores sociais e os meios de produção para a compreensão do psiquismo. A pratica profissional acaba voltada para um suporte ao desenvolvimento natural, reencaminhando para o “trilho”,quando se percebe um desvio, e as teorias psicológicas ficam associadas as patologias, doenças, conflitos, desajustes e desequilíbrios, tornando difícil desenvolver uma profissão que consiga promover qualidade de vida e saúde.
O fenômeno psicológico não pode ser concebido como algo natural e universal. Nossa concepção sobre subjetividade deve unir o mundo objetivo com o subjetivo, para compreendê-los como produções históricas a partir da ação transformadora do homem sobre o mundo.
 “A humanidade deve ser vista  como algo que está no mundo objetivo, na medida em que o homem, ao transformar o mundo material para suprir suas necessidades, ultrapassou os limites da sua natureza animal e humanizou-se e se pôs no mundo, transformando-o e humanizando-o. Os objetos culturais, criados pelos homens, contem características humanizadas deste homem. Nascemos candidatos a humanidade”. (BOCK, 2003 p.22-23)
E assim o mundo psicológico deve ser concebido como construção deste mundo objetivo.
As concepções naturalizantes nos afastam da realidade social e ofuscam a construção social do psiquismo. Propor transformações psíquicas exigem um projeto social.
2.       Os Psicólogos não tem concebido suas intervenções como trabalho -  Se as principais características do psiquismo são vistas como naturais e o homem percorre seu caminho corretamente, então não há nada que possamos fazer pois trajeto será percorrido tranquilamente. No entanto esse mundo social acaba sendo visto como um mundo perverso, ruim e difícil que nos obriga a estar atentos ao desenvolvimento do psiquismo para que possamos corrigir, curar ou consertar o que se desviou. Nossa missão é consertar o que a natureza criou e a sociedade desviou. Mas se por essa mesma via, o sujeito é natural, o nosso trabalho é apenas uma colaboração para que o sujeito possa se autoconhecer e se auto conduzir. Os psicólogos não acreditam que direcionam o desenvolvimento do seu cliente, pois a direção desse desenvolvimento é dada pela natureza e o trabalho da psicologia acaba por ser desvelar o desconhecido, verdades sobre o sujeito de forma neutra.
O trabalho de intervenção direcionado e intencional não existe para a maioria dos psicólogos, todos os recursos de trabalho são vistos como neutros.  O psicólogo trabalha para transformar uma determinada direção, pois só assim ele sabe quando dar alta, ou quando que alguém precisa do seu trabalho. Ele tem um padrão do que é desejável ou esperado, mas a Psicologia nega esse direcionamento. (consideraremos um bom exercício, nós pensarmos sobre os critérios que permitem a nós psicólogos julgarmos a saúde psíquica de alguém- e veremos que eles estão ligados a sociedade)
3.       A Psicologia tem concebido os sujeitos como responsáveis e capazes de promover seu próprio desenvolvimento – Se estamos falando de um sujeito que possui características naturais, estamos falando de um sujeito que possui uma força que se movimenta e se desenvolve, produz sua própria individuação. A sociedade não tem papel algum, ela ajuda ou atrapalha, mas nunca é vista como construção humana. A Psicologia, então cria uma ideologia que responsabiliza o homem por seus próprios erros. Essa concepção é muito presente na educação quando atribui a dificuldade de aprendizagem ao sujeito e no trabalho o clinico do psicólogo que vê sua intervenção como uma contribuição para o sujeito se curar.

Os psicólogos tem se isentado de discutir projetos sociais, porque o homem e seu psicológico, da forma como são compreendidos não exigem essa discussão. São poucos os psicólogos que se manifestam em relação as questões sociais. Essas idéias precisam ser superadas (exemplos: crianças não aprendem na escola porque não se esforçam ou porque tem pais que bebem e mães ausentes, ou ainda mães pobres? Jovens dão tiros em crianças porque possuem natureza violenta)
É preciso trabalhar criticamente e inverter essas explicações, é preciso compreender as relações sociais e as formas de produção da vida como fatores responsáveis pela produção do mundo psicológico. Considerarmos a cultura e a sociedade como constituintes dessa subjetividade. E não olharmos esse psiquismo como natural, universal e isolado dentro do indivíduo. Essa visão aproximará a psicologia da sociedade.

Por fim: 
"A psicologia que queremos é a que tem compromisso social, mas um compromisso voltado para a transformação da sociedade. Queremos uma sociedade justa e igualitária  na qual todos tenham acesso á riqueza da produção humana, material e espiritual; onde todos vivam com dignidade sua humanidade naquilo que ela tenha de mais desenvolvido.”  (GONÇALVES, 2003)

Para saber mais:
BOCK, Ana Merces Bahia (orgs). Psicologia e Compromisso Social. São Paulo: Cortez, 2003. 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Um pouco de Cidadania.

Este texto eu escrevi quando trabalhava numa escola de ensino fundamental e médio, com o intuito de conscientizar alunos e pais sobre como agir diante de pessoas com deficiência. A escola estava iniciando o processo de inclusão de alunos deficientes e era necessário torna-la mais acessível socialmente para essas pessoas. 
A nossa sociedade é deficiente neste quesito, a convivência social é pouco acessível.  As calçadas são ruins, a sinalização ineficaz. Por isso é preciso valorizar todas as iniciativas como sinais sonoros para travessia de cegos, sinalização em relevo nas calçadas, assim como as vagas e os sanitários reservados para deficientes físicos. 
Muito se fala de Inclusão de pessoas com deficiência nas escolas regulares ou no trabalho, mas pouco as pessoas sabem sobre o assunto. Justamente por não termos convivido com a diversidade durante a nossa formação possuímos pré conceitos acerca da capacidade dessas pessoas e ficamos acanhados diante delas. Por isso estou escrevendo algumas dicas básicas, que considero serem de cidadania, e tende á ajudar á todos numa convivência melhor.
Deficientes Físicos:
Quando notar que alguma pessoa move-se com dificuldade, primeiramente ofereça ajuda e só empurre a cadeira de rodas ou ofereça algum apoio se ele aceitar. Embora muitas vezes nós vemos o banheiro de deficientes vazio, evite usar, pois os deficientes necessitam de um grande contato com o vaso sanitário e você sujando o vaso além de estar dificultando, estará prejudicando a saúde dele. O mesmo vale para as vagas no estacionamento, eles precisam das vagas maiores, por isso não estacione nos locais reservados.
Cegos:
Ao encontrar um cego esperando para atravessar uma rua ofereça ajuda e pergunte para onde ele quer ir. Não pegue no braço dele, pois o certo é oferecer seu braço, para que a pessoa não perca a orientação. Caminhe num ritmo razoável (mais para devagar), desviando de buracos e observe como ele o acompanha, lembre-se de avisá-lo se avistar um degrau. Outra dica muito importante é que você deve atravessar de uma esquina para outra em linha reta, jamais em diagonal, para que a pessoa não perca a noção de espaço e orientação. Em conversas não se preocupe se usar termos como “olhe” ou “veja”, note que o cegos costumam ser mais sérios e suas risadas são curtas, mas apenas por não poderem ver a reação de outras pessoas. Avise sempre quando chegar, quando outras pessoas se aproximarem e não se esqueça de avisar que você esta saindo da roda, quando o fizer, para que ele não fique falando sozinho.
Surdos:
Fale sempre de frente para eles, a maioria consegue fazer leitura labial. Se a pessoa possuir uma deficiência auditiva de moderada á leve, e que seja capaz de ouvir pergunte se ela prefere que você fale mais alto, e ao falar procure a altura da voz que ela seja capaz de ouvir. Se encontrar um surdo na rua e você não souber a Língua de Sinais, não tente fazer gestos, pois você pode confundi-lo. Tente falar de frente para ele e sem gesticular muito.  Há surdos oralizados e surdos sinalizados. Os oralizados fazem leitura labial e conversam normalmente. Os surdos sinalizados geralmente conversam com a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Por desenvolver bem a capacidade visual, dificilmente os surdos são vitimas de assaltos, pois andam sempre muito atentos e desconfiados, são também bastante alegres. Por dependerem muito dos estímulos visuais reconhecem as emoções e expressões faciais com mais facilidade.

Não tenha medo de usar as palavras surdos e cegos, embora as pessoas pensem que é errado, eles preferem que seja assim. Utiliza-se o termo deficiência visual ou auditiva quando o grau não é severo e a pessoa é capaz de discriminar estímulos com ou sem auxílio de aparelhos. Os deficientes não são agressivos, as crianças, assim como todos nós só agridem se conviverem nem ambiente onde são constantemente agredidas. 
E infelizmente quando agimos com preconceito e hostilidade, que é como a sociedade se mostra, só recebemos este de volta. Vigotski dizia que o pior problema que uma pessoa deficiente tem não é a deficiência em si, mas a forma como a sociedade a trata.
Lembra da propaganda do Carlinhos? (veja aqui) As pessoas com Síndrome de down, apesar de suas limitações, são sempre alegres e receptivas ao contato social, e muito sinceras.
Assim como todos nós eles também tem os seus dias ruins, mas depende de cada com pequenas ações não deixar que fique pior. 
O que os deficientes mais precisam é do seu respeito.

Para saber mais:
APAE


Raquel Alves Cassoli
Psicologa pela PUC- Campinas em 2000.
Professora Universitária na UNINOVE.
Mestre em Educação: Psicologia da Educação pela PUC-SP em 2006.
Doutoranda em Educação: Psicologia da Educação pela PUC-SP.


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Repúdio.

Sábado dia 31 de agosto ocorreu na UFMS um evento ótimo. Foi um  mini-curso "Por Uma Clínica Histórico-Cultural" faz parte do projeto "Temas marginais em Psicologia Histórico-Cultural" que visa trazer ao Câmpus Paranaíba (CPAR), da UFMS, pesquisadores que trabalham com temas que historicamente foram pouco desenvolvidos pela Psicologia Histórico-Cultural ou que pelo menos no Brasil não se tenham muitas discussões a respeito, assim, alguns dos assuntos que se pretende abordar são: a clínica, o abuso de substâncias, o inconsciente, a psicopatologia, gênero e etnia, entre outros. O projeto, muito interessante, que pretende ocorrer uma vez por mês no câmpus, adota o formato de mini-cursos por permitir que os pesquisadores possam expor com tempo adequado suas ideias e que haja condições propícias ao debate. Foi realizado pelo Instituto Aberto de Psicologia Histórico-Cultural - Unidade de Paranaíba. O tema discutido foi "Por Uma Clínica Histórico-Cultural"  e trouxe Achilles Delari Junior e Armando Marino Filho. Foi GRATUITO.
Ao que tudo indica o mini curso foi ótimo e transcorreu tudo bem, já tem outro previsto para o mês de setembro. Após o evento, o Professor Doutor Nilson Berenchtein Netto  levou os convidados a um restaurante e neste local encontram com o prefeito da cidade que agrediu o professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, verbal e fisicamente, pelo fato do professor ter pedido um debate sobre a vinda do curso de medicina veterinária.

A seguir está a carta aberta escrita pelo professor, que na sessão da câmara dos vereadores foi impedido de se defender (veja aqui) e ameaçado por um vereador que disse que o prefeito foi bonzinho pois devia logo ter pago alguém para acabar com ele.
Considero tudo isto inaceitável.


Carta à Comunidade Acadêmica da UFMS/CPAR

Estimadas e Estimados colegas Professores, Técnicos e Estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Câmpus Paranaíba;

Escrevo para relatar um gravíssimo e preocupante acontecido que acredito nos atingir a todas e todos.

Hoje (31/08), realizamos uma atividade no câmpus, um mini-curso com dois professores de fora do município sobre a prática clínica na perspectiva Histórico-Cultural. Após o evento, fomos levar os palestrantes para jantar no restaurante Come-Come. Enquanto conversávamos sobre nossas práticas profissionais, chegou à nossa mesa o Prefeito do Município, Diogo Robalinho de Queiroz, também conhecido pela alcunha de Tita ou Diogo Tita, bravejando quem éramos nós, “barbudos”, e que ele estava trazendo para o município, junto com a reitora Célia, o curso de Medicina Veterinária; ao que respondi lamentar a vinda de tal curso (posição que, aliás, defendo publicamente).

O Senhor Prefeito, com um comportamento notadamente alterado, respondeu-me com um TAPA no rosto e continuou bravejando: “Cala a boca, sabe quem eu sou? Eu sou o prefeito desse município!” e continuo, “lamentáveis são suas barbas”, essas “barbas de buceta”, e que não sabemos o custo que é manter uma universidade e que somos um “bando de vagabundos que chupinhamos o Estado”. Nesse momento, um dos professores convidados pediu que ele se acalmasse, pois em nossa conversa sequer estávamos falando do município ou da Universidade, ao que o Senhor Prefeito respondeu com outro TAPA, em sua mão, mandando-lhe também calar a boca. Mandou-nos a todos calarmos a boca inúmeras vezes, enquanto repetia, gritando descontrolado, o mesmo discurso relatado, com poucas variações e alguns acréscimos como: “Fui eu quem trouxe a Universidade Estadual para Paranaíba e o Ramez Tebet a Federal”, “Queria eu ser psicólogo, esses vagabundos que vivem em seus mundinhos e não pagam suas contas” e “Esses professores vagabundos que vêm de Campo Grande chupinhar nosso dinheiro”. Quando as pessoas que o acompanhavam foram retirá-lo, ele começou a gritar à distância, para as pessoas que estavam no restaurante: “Olhem para esses vagabundos que vem aqui nos atrapalhar, EU estou trazendo o curso de Medicina Veterinária para essa cidade”. Retornando à nossa mesa e repetindo as mesmas ofensas, fora novamente conduzido por seus acompanhantes à mesa em que estava sentado.
Minutos depois, mais uma vez conduzido por seus acompanhantes à sua camionete, retornou à mesa, apontando o dedo na cara do professor palestrante (nosso convidado) dizendo que eles ainda irão conversar, que ele o conhece, com uma evidente ameaça ao professor e que entendemos extensiva a nós professores da UFMS/CPAR, já que não seria possível ao Senhor Prefeito conhecer nosso convidado, por ele não ser do município ou sequer do estado.

O fato ocorrido demonstra a completa ausência de trato com a coisa pública por parte do Senhor Perfeito. Fui abordado em público, num espaço não reservado a discussões de tal monta, para tratar de assuntos que deveriam ser discutido em adequados fóruns.

A isso acresça-se o ABUSO DE PODER perpetrado pelo Senhor Prefeito contra os ali presentes quando junto com o tapa, evoca sua condição de administrador público: “Cala a boca, sabe quem eu sou? Eu sou o prefeito desse município!”

Diante disso, gostaria de desenvolver algumas reflexões:

1 – Tal fato acontece exatamente no dia seguinte ao que estive em Campo Grande, junto a outros professores e representante discente em reunião da ADLeste com a Reitora e pró-reitores, como representante sindical deste campus na composição de comissão organizada pela ADLeste, expondo as condições deterioradas de trabalho e estudo de professores, técnicos e estudantes nos câmpus da UFMS (inclusive enviei convite aos colegas professores e técnicos convidando à reunião em que discutimos o conteúdo do documento apresentado à Magnífica Reitora e os Pró-reitores).

2 – É uma situação aviltante o fato de que um trabalhador desta Universidade tenha sido chamado de vagabundo, quando nós professores (ao menos os do curso de Psicologia) historicamente, nesse câmpus, trabalhamos carga-horária superior àquela que os sindicatos defendem como razoáveis, em condições precárias e que nos impossibilitam de desenvolver adequadamente nossas atividades-fim (ensino, pesquisa e extensão).

3 – Ademais, o Senhor Prefeito, ao referir-se a nós, psicólogos, como “vagabundos que vivem em seus mundinhos”, além de denotar seu profundo desconhecimento da realidade da produção de conhecimento psicológico, bem como da realidade dos profissionais psicólogos, profere uma grave ofensa ao conjunto da categoria dos psicólogos. Também nossos alunos, futuros psicólogos, foram gravemente ofendidos em suas escolhas de projeto profissional. Por fim, o prefeito demonstrou, publicamente, o desprezo que nutre por estes profissionais e, por derivação, pela existência de tal curso neste câmpus. 

4 – Ao dizer que não pago minhas contas – o que, antes de tudo é uma calúnia e só mostra o despreparo do Senhor Prefeito com os assuntos da vida pública –, o Senhor Prefeito olvida-se do fato de que é o conjunto de impostos que nós, trabalhadores, pagamos, que retorna a ele sob a forma de salário para que na investidura do seu cargo cuide da administração pública da cidade. 

5 – É um fato vergonhoso a qualquer munícipe o de que o prefeito de sua cidade tenha agredido fisicamente e ofendido a um professor que se dispôs, sem qualquer remuneração ou pró-labore, a deslocarem-se a um campus de interior para trazer-nos uma discussão de altíssimo nível, enquanto se gaba por estar trazendo um novo curso para esta mesma Universidade, que imagino desconhecer as atuais condições de trabalho e estudo de professores, técnicos e estudantes.

Diante disso proponho:

1 – Mesmo estando aprovada a vinda do curso de Medicina Veterinária para o câmpus, retomarmos o debate amplo e aprofundado acerca desse fato, que é também uma questão política.

2 – A retomada das discussões a respeito das condições de trabalho e estudo a que nós, professores, técnicos e estudantes, estamos sujeitos na UFMS.

3 – Que haja ampla discussão acerca dessa afronta à autonomia da universidade pública.

4 – Que discutamos as precárias condições oferecidas pelo município (transporte público, assistência, saúde e trabalho) para a permanência dos estudantes no município e no câmpus.

5 – Que a Universidade se manifeste oficialmente em relação ao ocorrido.

Paranaíba/MS, 31de agosto de 2013.

Professor Doutor Nilson Berenchtein Netto

Psicólogo – CRP/MS 14/05620-9

Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Câmpus Paranaíba

Coordenador do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Câmpus Paranaíba



Abuso de poder, falta de respeito com o professor e com a Psicologia. Este fato ecoou pelas redes sociais e recebeu notas de repúdio do Conselho federal e regional de Psicologia, ABRAPSO, alunos da universidade, Sindicato dos psicólogos no Paraná, ADUNESP e outras entidades, inclusive entidades internacionais.

Estou com o Professor Netto e faço uso deste espaço para que, quem sabe, com esta mobilização esse prefeito possa saber o lugar dele (que não é na prefeitura, uma vez que ele deveria estar ao lado do povo). 

Sim, isto é tema de aula, é preciso que as pessoas saibam e reivindiquem seus direitos. Lutaremos contra a violência do sistema capitalista e desta sociedade elitista.